terça-feira, 28 de julho de 2015

CONTO DE UMA CIDADE

            Acordara muito cedo no dia daquele agosto que principiava com as chuvas, de tons acinzentados, em que via as luzes alaranjadas dos postes da rua algo atônito. Sabia que seria um dia de compromissos internos, como um fogo que sabemos que temos que atravessar, no sacrifício das primeiras horas, pois o medicamento da manhã era um pouco pesado, como sempre. Fumava eu alguns cigarros já pela madrugada, atenuando o sofrimento dos inícios dos dias. Vira um companheiro enfermo na tarde de ontem, em situação muito mais grave, e isso me causava inquietação por não compreender a razão de tudo, o que leva a normalidade a essa gente que pressupõe uma estabilidade, um lugar comum de adaptarem-se à realidade pungente de impasses sociais, enquanto paira sobre a enfermidade psíquica toda a carga remanescente de preconceitos atávicos e seus recorrentes estigmas. Até de quem não supõe estar com a doença, mas que esta compõe com o social a patologia de uma sociedade de competições, de mercado, de pressões nada saudáveis, pois a contestação desse preconceito em relação às questões de saúde mental, merecem a conscientização de que a medicina torna essas pessoas cidadãs, e não marionetes manipuladas pelo sistema.
            Pois bem, madrugada, e eu não sabia mais dormir naquela seara do dia, veio-me o receio de perder algum reflexo motor, de estar aquém das possibilidades, de saber-me mais fraco se dormisse menos, ao que muitos sequer dormiam o suficiente, mesmo em meio da vida sana. Traçando minhas linhas existenciais, existia o paradoxo de me sentir, tal qual tivesse a ilusão de que meu corpo e mente me pertencesse, mas não era bem assim, pois o comportamento quase imposto pela sociedade era uma pedra que me cercava, ao meu corpo, à minha mente, esta pertencente àquele.
            No que importasse a cidade, vários lugares me fascinavam, quaisquer, mas, como morava no litoral, pressupunha na minha vida a predileção de estar mais perto do mar. Este que o olhar abraça, e não abarca sequer a própria dimensão dele, pois nunca uma onda é a mesma, e nunca esta quebra no rochedo da mesma forma... Talvez fizesse altura com os pássaros, mas que fosse apenas uma idiossincrasia de um homem solitário. Aliás, poucos habitantes da orla, que era poluída pelas invectivas humanas do estrago, sabiam ver ao mar como se deve: em respeito – a troco – de também sabermos que não é porque ter-se uma casa em uma praia incólume, pois a que não seja sempre assim, merece atenção redobrada pelo menos a que não se possa aumentar a emissão dos esgotamentos.
            Naquilo de acordar-me, veio-me a ideia de comprar um jornal, o de papel, pois o sou um ser arcaico ainda, como se diz, ando com o mínimo para me acostumar com poucos insumos, pois ainda acredito em antigos meios, como a caneta e papel, a agenda, um misto de ponteira de bambu na areia – como um exemplo aleatório –, o que se registre, uma bússola de brinquedo, um telégrafo de luz entre barcos, ou seja, uma comunicação igualmente desatrelada do aspecto apenas tecnológico e sua mania recorrente no uso de meios de mais recursos – aliás, vultosos – que não condizem com toda a realidade de países como o Brasil: seus Estados, municípios, bairros, ruas e casas. Talvez o jornal trouxesse algumas notícias boas, mas a mass media queria vencer pelo cansaço, dizer só o que havia de ruim, sem positivar e humanizar o imenso quadrante humano que, nada escatológico, é onde privamos as nossas esperanças, quais sejam, que criemos de modo continental, as vertentes das luzes sobre os nossos compatriotas e suas lideranças que ainda sabem que qualquer retrocesso de poder que evita a progressão de uma economia, sufocando-a com joguinhos infantis de cerceamento congressual, no mínimo é uma grande e equivocada patifaria, pois não é o poder que está em jogo, mas uma pátria cada vez mais livre e solidária, como tem se mostrado até então. Acabei por não comprar o jornal, li um texto de Werneck Sodré, um apanhado de textos de Jorge L. Borges, um conto de ficção científica e parece que todos esses apanhados são um misto de uma riqueza que certamente não encontro na editoria de superfície do face. Se você desenvolve uma ideia, algumas palavras, concatena-as, vê realmente em suas outras leituras igualmente na cidade, suas arquiteturas, seus nichos, tudo se interliga, e possamos crer não que seja uma integração, mas a síntese do todo com os fragmentos. E, se ligar seu cérebro a essas questões, aí, meus amigos, a coisificação das sociedades passa a não ter em seus objetos as razões das condutas de uma cidadania, pois jogar não é realidade, porém esporte; ficam e se tornam alheias na significação de um simplismo ausente, de uma parcialidade maniqueísta dos fatos, o que denota que aqueles que praticam o anti-debate de soluções racionais passam a ser justamente coisificados simplesmente por suas posturas antidemocráticas, entenda-se, a não agir para melhorar crises políticas, e sim agravar situações de conflitos. Conduta essa que se vê em uma personagem a própria entronização estúpida de um jogo de poder estéril, apostando no caos da normalidade para tentar usurpar do poder um Governo legitimamente eleito, através da conivente manipulação midiática.
            Essas personalidades compõem uma realidade parcial do que ocorre no pensamento mais progressista da sociedade e suas cidades, independente da profissão, cargo civil ou militar, jurídico, liberal, ou de serviços, de obra, de campo. Se for considerar esse estranho jogo de golfe onde querem enterrar a Petrobrás no buraco como empresa de capital misto, mas controle estatal, levando essa questão ao extremo em outras privatizações já orquestradas, segue prosseguirmos a defender um Estado soberano na conduta mesma de nosso País.

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