Acordara muito cedo no dia daquele
agosto que principiava com as chuvas, de tons acinzentados, em que via as luzes
alaranjadas dos postes da rua algo atônito. Sabia que seria um dia de
compromissos internos, como um fogo que sabemos que temos que atravessar, no
sacrifício das primeiras horas, pois o medicamento da manhã era um pouco
pesado, como sempre. Fumava eu alguns cigarros já pela madrugada, atenuando o
sofrimento dos inícios dos dias. Vira um companheiro enfermo na tarde de ontem,
em situação muito mais grave, e isso me causava inquietação por não compreender
a razão de tudo, o que leva a normalidade a essa gente que pressupõe uma
estabilidade, um lugar comum de adaptarem-se à realidade pungente de impasses
sociais, enquanto paira sobre a enfermidade psíquica toda a carga remanescente
de preconceitos atávicos e seus recorrentes estigmas. Até de quem não supõe
estar com a doença, mas que esta compõe com o social a patologia de uma
sociedade de competições, de mercado, de pressões nada saudáveis, pois a
contestação desse preconceito em relação às questões de saúde mental, merecem a
conscientização de que a medicina torna essas pessoas cidadãs, e não marionetes
manipuladas pelo sistema.
Pois bem, madrugada, e eu não sabia
mais dormir naquela seara do dia, veio-me o receio de perder algum reflexo
motor, de estar aquém das possibilidades, de saber-me mais fraco se dormisse
menos, ao que muitos sequer dormiam o suficiente, mesmo em meio da vida sana.
Traçando minhas linhas existenciais, existia o paradoxo de me sentir, tal qual
tivesse a ilusão de que meu corpo e mente me pertencesse, mas não era bem
assim, pois o comportamento quase imposto pela sociedade era uma pedra que me
cercava, ao meu corpo, à minha mente, esta pertencente àquele.
No que importasse a cidade, vários
lugares me fascinavam, quaisquer, mas, como morava no litoral, pressupunha na
minha vida a predileção de estar mais perto do mar. Este que o olhar abraça, e
não abarca sequer a própria dimensão dele, pois nunca uma onda é a mesma, e
nunca esta quebra no rochedo da mesma forma... Talvez fizesse altura com os pássaros,
mas que fosse apenas uma idiossincrasia de um homem solitário. Aliás, poucos
habitantes da orla, que era poluída pelas invectivas humanas do estrago, sabiam
ver ao mar como se deve: em respeito – a troco – de também sabermos que não é
porque ter-se uma casa em uma praia incólume, pois a que não seja sempre assim,
merece atenção redobrada pelo menos a que não se possa aumentar a emissão dos
esgotamentos.
Naquilo de acordar-me, veio-me a
ideia de comprar um jornal, o de papel, pois o sou um ser arcaico ainda, como
se diz, ando com o mínimo para me acostumar com poucos insumos, pois ainda
acredito em antigos meios, como a caneta e papel, a agenda, um misto de ponteira
de bambu na areia – como um exemplo aleatório –, o que se registre, uma bússola
de brinquedo, um telégrafo de luz entre barcos, ou seja, uma comunicação
igualmente desatrelada do aspecto apenas tecnológico e sua mania recorrente no
uso de meios de mais recursos – aliás, vultosos – que não condizem com toda a
realidade de países como o Brasil: seus Estados, municípios, bairros, ruas e
casas. Talvez o jornal trouxesse algumas notícias boas, mas a mass media queria vencer pelo cansaço,
dizer só o que havia de ruim, sem positivar e humanizar o imenso quadrante
humano que, nada escatológico, é onde privamos as nossas esperanças, quais
sejam, que criemos de modo continental, as vertentes das luzes sobre os nossos
compatriotas e suas lideranças que ainda sabem que qualquer retrocesso de poder
que evita a progressão de uma economia, sufocando-a com joguinhos infantis de
cerceamento congressual, no mínimo é uma grande e equivocada patifaria, pois não
é o poder que está em jogo, mas uma pátria cada vez mais livre e solidária,
como tem se mostrado até então. Acabei por não comprar o jornal, li um texto de
Werneck Sodré, um apanhado de textos de Jorge L. Borges, um conto de ficção
científica e parece que todos esses apanhados são um misto de uma riqueza que
certamente não encontro na editoria de superfície do face. Se você desenvolve
uma ideia, algumas palavras, concatena-as, vê realmente em suas outras leituras
igualmente na cidade, suas arquiteturas, seus nichos, tudo se interliga, e
possamos crer não que seja uma integração, mas a síntese do todo com os
fragmentos. E, se ligar seu cérebro a essas questões, aí, meus amigos, a coisificação
das sociedades passa a não ter em seus objetos as razões das condutas de uma
cidadania, pois jogar não é realidade, porém esporte; ficam e se tornam alheias
na significação de um simplismo ausente, de uma parcialidade maniqueísta dos
fatos, o que denota que aqueles que praticam o anti-debate de soluções
racionais passam a ser justamente coisificados simplesmente por suas posturas
antidemocráticas, entenda-se, a não agir para melhorar crises políticas, e sim
agravar situações de conflitos. Conduta essa que se vê em uma personagem a própria
entronização estúpida de um jogo de poder estéril, apostando no caos da
normalidade para tentar usurpar do poder um Governo legitimamente eleito, através
da conivente manipulação midiática.
Essas personalidades compõem uma
realidade parcial do que ocorre no pensamento mais progressista da sociedade e
suas cidades, independente da profissão, cargo civil ou militar, jurídico,
liberal, ou de serviços, de obra, de campo. Se for considerar esse estranho
jogo de golfe onde querem enterrar a Petrobrás no buraco como empresa de
capital misto, mas controle estatal, levando essa questão ao extremo em outras
privatizações já orquestradas, segue prosseguirmos a defender um Estado
soberano na conduta mesma de nosso País.
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