Algo um pouco a mais falaremos agora
do que acontece em nosso íntimo, quando olhamos para um quebrar tênue de uma
onda que surge por dentro de rochedos médios em um mar de baía... Sucede que no
intervalo dessas ondas residem trilhões de átomos que surpreendem a mesma
concepção de que estejamos conscientes disso, mesmo em intervalos imperceptíveis
do tempo. Aí vêm as normas, que o pobre homem está percebendo além do normal,
mas se passa que apenas se apercebe de algo que acontece realmente, em que seus
neurônios nunca poderiam abraçar, por mais rápidas que sejam as suas sinapses,
sequer a compreensão dessa dimensão. Isso acontece no mundo material – a percepção
em si – e no mundo espiritual essa dimensão passa a ser do finito
infinitesimalmente menor a ser o maior extrapolado, por inerente que seja de
outros planetas e outras consciências... Essa é uma vertente da percepção, e não
precisamos ser muito bons compositores da alma para vermos com outros olhos
apenas o detalhe da onda do mar, visto este não ser cena nem fotografia, mas a Natureza
que nos ensina quando temos o olhar para tanto, pois a tentativa de documenta-la
e registrá-la através de olhares mecânicos apenas servem para travar a concepção
mais verdadeira de sua existência, enquanto ser onisciente, pois ela trabalha aos
olhos do Criador. Afirmarmos que possuímos o controle sobre a Natureza não
passa de soberba humana, pois apenas tentamos imitá-la em seus aspectos, mas não
alcançamos a dimensão de seu suor nas geleiras que se transformam na água que
responde aos açoites em sua superfície onde nós, como verdadeiros insetos
predadores, trabalhamos no sentido de explorar seus recursos, como se essa
palavra não tivesse sido inventada para expropriar das sementes de chumbo os
seus frutos...
Que nos voltemos à contemplação,
pois isso nos fará bem, e criarmos um ancinho pequeno de madeira a traçar
desenhos em uma pequena área de areia, nos mostrará que esse universo não é de
mentira, enquanto microcosmo, e daremos maiores atenções a um pedaço maior de
areia, a uma rocha incrustrada, a um mar que bate, à água que existe e subsiste
nos rios e mares, ao gole de outra água que nos relembre o gosto de Krsna, pois
somos igualmente água e terra, não apenas esta, e que produzimos e somos
energia: por vezes fecunda, por vezes avassaladora!
Sucede que tudo o que pensamos em
nossa lógica é muito menor do que ainda não foi descoberto nesse campo, pois é
impossível integrar tudo o que fazemos, muito menos o trabalho da Natureza
Material. Se não meditarmos em algo, que seja, o próprio trabalho, em que –
apesar de necessária aquisição da justiça de um bom sustento – podemos endereçar
o esforço em sacrifício a Vishnu.
Tento escrever esta carta aos olhos
do Vedanta, pois a mim me cabe em minha loucura de homem saber que o que penso
está como que já criado dentro dos Vedas, mas creio que toda a teoria econômica
moderna também participa do conhecimento da civilização, pois fez e faz parte
da história dos países, e muitos encontraram suas soluções de equações
complexas dentro de seus próprios processos históricos. Não há como evitar que
nos tempos de hoje saiamos às ruas com certas roupas que já não servem, sejam
elas assumirmos que somos indigentes ou loucos. Temos que partir do pressuposto
de que todos tenham uma vida melhor: indigentes ou loucos, pois o louco pode
ser são, e o indigente, igualmente ao louco, é cidadão, neste ou em qualquer país
do mundo, dentro da lei de cada qual, posto ser uma única lei, a lei de Deus.
Saberemos melhor sobre a realidade de um negro que sofre o preconceito na carne
de outro que está além mar, quando seu companheiro ao lado sofrer de outro
preconceito que sucede, o da questão psíquica, nos olhares que se encontram
dentro da mesma luta. A enfermidade de qualquer cidadão não pode permitir,
dentro da lucidez de sua condição enfermiça perante as sociedades, que outro se
aproprie dela para tecer seus ódios na carapuça que o move em direção a agredir
ou ofender uma população vulnerável. Isto serve para nações inteiras, para a
aquisição de melhores frentes diplomáticas, para a erradicação da tortura no
mundo, para a neutralização necessária das guerras, para a aceitação dos
emigrantes dentro de um contexto mais solidário, no sentido da preservação não
apenas do mar, em suas ondas inumeráveis, mas da humanidade como totalidade, já
que os nossos corpos são ou pretendem ser mais evoluídos, e no entanto erramos
ao expor tanta gente e animais na miséria, sabendo que apenas um por cento da
população mundial detém a maior parte da riqueza da Terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário