quarta-feira, 2 de setembro de 2015

SUCEDÂNEO

            Algo um pouco a mais falaremos agora do que acontece em nosso íntimo, quando olhamos para um quebrar tênue de uma onda que surge por dentro de rochedos médios em um mar de baía... Sucede que no intervalo dessas ondas residem trilhões de átomos que surpreendem a mesma concepção de que estejamos conscientes disso, mesmo em intervalos imperceptíveis do tempo. Aí vêm as normas, que o pobre homem está percebendo além do normal, mas se passa que apenas se apercebe de algo que acontece realmente, em que seus neurônios nunca poderiam abraçar, por mais rápidas que sejam as suas sinapses, sequer a compreensão dessa dimensão. Isso acontece no mundo material – a percepção em si – e no mundo espiritual essa dimensão passa a ser do finito infinitesimalmente menor a ser o maior extrapolado, por inerente que seja de outros planetas e outras consciências... Essa é uma vertente da percepção, e não precisamos ser muito bons compositores da alma para vermos com outros olhos apenas o detalhe da onda do mar, visto este não ser cena nem fotografia, mas a Natureza que nos ensina quando temos o olhar para tanto, pois a tentativa de documenta-la e registrá-la através de olhares mecânicos apenas servem para travar a concepção mais verdadeira de sua existência, enquanto ser onisciente, pois ela trabalha aos olhos do Criador. Afirmarmos que possuímos o controle sobre a Natureza não passa de soberba humana, pois apenas tentamos imitá-la em seus aspectos, mas não alcançamos a dimensão de seu suor nas geleiras que se transformam na água que responde aos açoites em sua superfície onde nós, como verdadeiros insetos predadores, trabalhamos no sentido de explorar seus recursos, como se essa palavra não tivesse sido inventada para expropriar das sementes de chumbo os seus frutos...
            Que nos voltemos à contemplação, pois isso nos fará bem, e criarmos um ancinho pequeno de madeira a traçar desenhos em uma pequena área de areia, nos mostrará que esse universo não é de mentira, enquanto microcosmo, e daremos maiores atenções a um pedaço maior de areia, a uma rocha incrustrada, a um mar que bate, à água que existe e subsiste nos rios e mares, ao gole de outra água que nos relembre o gosto de Krsna, pois somos igualmente água e terra, não apenas esta, e que produzimos e somos energia: por vezes fecunda, por vezes avassaladora!
            Sucede que tudo o que pensamos em nossa lógica é muito menor do que ainda não foi descoberto nesse campo, pois é impossível integrar tudo o que fazemos, muito menos o trabalho da Natureza Material. Se não meditarmos em algo, que seja, o próprio trabalho, em que – apesar de necessária aquisição da justiça de um bom sustento – podemos endereçar o esforço em sacrifício a Vishnu.
            Tento escrever esta carta aos olhos do Vedanta, pois a mim me cabe em minha loucura de homem saber que o que penso está como que já criado dentro dos Vedas, mas creio que toda a teoria econômica moderna também participa do conhecimento da civilização, pois fez e faz parte da história dos países, e muitos encontraram suas soluções de equações complexas dentro de seus próprios processos históricos. Não há como evitar que nos tempos de hoje saiamos às ruas com certas roupas que já não servem, sejam elas assumirmos que somos indigentes ou loucos. Temos que partir do pressuposto de que todos tenham uma vida melhor: indigentes ou loucos, pois o louco pode ser são, e o indigente, igualmente ao louco, é cidadão, neste ou em qualquer país do mundo, dentro da lei de cada qual, posto ser uma única lei, a lei de Deus. Saberemos melhor sobre a realidade de um negro que sofre o preconceito na carne de outro que está além mar, quando seu companheiro ao lado sofrer de outro preconceito que sucede, o da questão psíquica, nos olhares que se encontram dentro da mesma luta. A enfermidade de qualquer cidadão não pode permitir, dentro da lucidez de sua condição enfermiça perante as sociedades, que outro se aproprie dela para tecer seus ódios na carapuça que o move em direção a agredir ou ofender uma população vulnerável. Isto serve para nações inteiras, para a aquisição de melhores frentes diplomáticas, para a erradicação da tortura no mundo, para a neutralização necessária das guerras, para a aceitação dos emigrantes dentro de um contexto mais solidário, no sentido da preservação não apenas do mar, em suas ondas inumeráveis, mas da humanidade como totalidade, já que os nossos corpos são ou pretendem ser mais evoluídos, e no entanto erramos ao expor tanta gente e animais na miséria, sabendo que apenas um por cento da população mundial detém a maior parte da riqueza da Terra.

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