quarta-feira, 9 de setembro de 2015

ROTEIRO IMAGINÁRIO 02

            Comecemos por uma vila na Itália, com as referências de casas como antigos castelinhos, com suas pedras encaixadas, as vielas, um aqueduto cruzando uma rua mais larga, pendurado por dois rochedos, e as janelas espiando através de arbustos. Fora, um tipo de campo, com antigos meeiros e a ordem de suas tentativas de manterem as relações com os povoados através de simbiose: as ruas gerando uma antiga integração, ainda que remota... Algumas torres pousando qual antiguidades reflexas com novos habitantes, vindos de outras culturas e repousando em leitos, como em rios e suas confluências íntimas e solenes. Livros invadindo de alto a baixo, em um escape maravilhoso, entre os existentes – aqui assumindo um inequívoco surrealismo – e outros que se encontravam nas ruas de outros remansos, ou no caudal solitário de ermos e suas chuvas. Um dinamismo febril de mercado aberto se via nas cercanias mais centrais, algo distante da aldeia, onde uma mulher, de bicicleta, cruzava com uma carroça com cavalos exaustos.
            Estamos em qualquer século, em qualquer tempo, em qualquer virada, eclética ou não. Reporta-se que sejamos imaginários, mas que a fauna de pedras nos ressente de tanta a beleza, de tanta a arquitetura... A imaginação torna-se realidade em sua natureza de mito, e por vezes a alguns Thor se torna um deus. Como na origem do pensamento grego, em que falar da divindade era evoca-la em seus mistérios, em sua mitologia régia e divina. Falaríamos de um futuro onde algo que não supomos exista mesmo dentro de outros passados, pois o que nos leva a projetar enquanto seres pode ser o mesmo rebatimento de um universo que era oculto por uma outra História. A História como outra deusa, e o paganismo de versos supondo que mais um Shakespeare fora morar em uma montanha, mesmo daquelas verticalizadas fragmentariamente por palafitas cravadas em barrancos nos seus limites de terra.
            O êxodo se faz presente neste mundo imaginário, e a fusão das culturas torna as fronteiras meras portas de passagem, onde as lendas e mitos e seus ritos tornam-se razão de se compartir, em uma miríade de tolerância maravilhosa que tornaria o velho continente berço e pátria renovada do mundo...
            Assim é, de um roteiro imaginário que se traduza, pois não há o que dizer muito, já que a própria loucura encontra nos emblemas de todas as culturas do planeta a sua própria vanguarda de existir enquanto lucidez... Igualmente enquanto compreensão, que tudo muda na história ela mesma. Pedro canta uma pedra, e Lutero ergue uma muralha, mas que outros também, como uma flor desabrocha e pensa diversamente, e debate, e existe enquanto vem a abelha e a poliniza. Neste roteiro pensamos na alegria de um menino que em uma espécie de amparo secular vê a mesma flor e sente a sua presença ante os escombros cinzas de sua memória...

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