Comecemos por uma vila na Itália,
com as referências de casas como antigos castelinhos, com suas pedras
encaixadas, as vielas, um aqueduto cruzando uma rua mais larga, pendurado por
dois rochedos, e as janelas espiando através de arbustos. Fora, um tipo de
campo, com antigos meeiros e a ordem de suas tentativas de manterem as relações
com os povoados através de simbiose: as ruas gerando uma antiga integração,
ainda que remota... Algumas torres pousando qual antiguidades reflexas com
novos habitantes, vindos de outras culturas e repousando em leitos, como em
rios e suas confluências íntimas e solenes. Livros invadindo de alto a baixo,
em um escape maravilhoso, entre os existentes – aqui assumindo um inequívoco surrealismo
– e outros que se encontravam nas ruas de outros remansos, ou no caudal solitário
de ermos e suas chuvas. Um dinamismo febril de mercado aberto se via nas
cercanias mais centrais, algo distante da aldeia, onde uma mulher, de bicicleta,
cruzava com uma carroça com cavalos exaustos.
Estamos em qualquer século, em
qualquer tempo, em qualquer virada, eclética ou não. Reporta-se que sejamos
imaginários, mas que a fauna de pedras nos ressente de tanta a beleza, de tanta
a arquitetura... A imaginação torna-se realidade em sua natureza de mito, e por
vezes a alguns Thor se torna um deus. Como na origem do pensamento grego, em
que falar da divindade era evoca-la em seus mistérios, em sua mitologia régia e
divina. Falaríamos de um futuro onde algo que não supomos exista mesmo dentro
de outros passados, pois o que nos leva a projetar enquanto seres pode ser o
mesmo rebatimento de um universo que era oculto por uma outra História. A História
como outra deusa, e o paganismo de versos supondo que mais um Shakespeare fora
morar em uma montanha, mesmo daquelas verticalizadas fragmentariamente por
palafitas cravadas em barrancos nos seus limites de terra.
O êxodo se faz presente neste mundo
imaginário, e a fusão das culturas torna as fronteiras meras portas de
passagem, onde as lendas e mitos e seus ritos tornam-se razão de se compartir,
em uma miríade de tolerância maravilhosa que tornaria o velho continente berço
e pátria renovada do mundo...
Assim é, de um roteiro imaginário
que se traduza, pois não há o que dizer muito, já que a própria loucura
encontra nos emblemas de todas as culturas do planeta a sua própria vanguarda de
existir enquanto lucidez... Igualmente enquanto compreensão, que tudo muda na história ela
mesma. Pedro canta uma pedra, e Lutero ergue uma muralha, mas que outros
também, como uma flor desabrocha e pensa diversamente, e debate, e existe
enquanto vem a abelha e a poliniza. Neste roteiro pensamos na alegria de um
menino que em uma espécie de amparo secular vê a mesma flor e sente a sua
presença ante os escombros cinzas de sua memória...
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