segunda-feira, 7 de setembro de 2015

AOS ERROS DO PUNHO

            Saíramos muito, mas muito cedo de nossas casas, Nati e eu. Pensávamos claramente sobre muito do que tínhamos vivido, em ambos os lados da fronteira. Levei ao seu encontro um Salaparruta delicioso, como ela gostava, pois eu já não podia mais beber. Cheguei em frente ao portão de sua casa, e seu cocker spaniel me recebeu, carinhoso e como que algo de bem: divertido...
            Algo como uma presença cálida nos acentuava o destino compartido, como um fato de aceitarmos a parte que nos cabia em nossas vidas, assim de vermos a cada qual um gesto fraterno, uma proposta, uma ideia farta. A porta abria e Natália apareceu, linda como sempre, meio que vista com o entorno belo da arquitetura em seu silêncio de boa alvenaria. Seu sorriso aflorava como a primavera que já estava a principiar, com toda a serenidade de seu espírito. Algo me reservara o fato de já estar saudoso, mas Nati não sabia que não seria exatamente por ela... Andava eu por escrever cartas e sabe-se lá por que! Saudoso estava pelo punho que me colocava na mão a caneta, prosseguindo até então ao prazer de escrever, tão somente: a esses erros tão crassos que enveredavam-me à ausência do romantismo, à anuência de que o meu prazer – tão fracamente disputado por quaisquer, nas vacas magras – era de ordem intelectual, e isso já havia sido reconduzido à simples e inexistente abstração, na contemporaneidade tão hedonista que vivíamos nos nossos tempos.
            Apenas havia um ponto final em meu punho cerrado pela caneta e sua esgrima de ideias: eu traçava as linhas dedicando-as a um maior conhecedor, que vive ao desfrute, mas aponta na riqueza da matéria a maior e mais linda das montanhas, que se chamará felicidade, pois um homem que sacrifica tudo o que conquista em nome de Krsna no mínimo é um ser extremamente feliz; disso mesmo Nati tomou ciência e fomos igualmente felizes até para o todo e o sempre!

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