Saíramos muito, mas muito cedo de
nossas casas, Nati e eu. Pensávamos claramente sobre muito do que tínhamos
vivido, em ambos os lados da fronteira. Levei ao seu encontro um Salaparruta
delicioso, como ela gostava, pois eu já não podia mais beber. Cheguei em frente
ao portão de sua casa, e seu cocker spaniel me recebeu, carinhoso e como que algo
de bem: divertido...
Algo como uma presença cálida nos
acentuava o destino compartido, como um fato de aceitarmos a parte que nos
cabia em nossas vidas, assim de vermos a cada qual um gesto fraterno, uma
proposta, uma ideia farta. A porta abria e Natália apareceu, linda como sempre,
meio que vista com o entorno belo da arquitetura em seu silêncio de boa
alvenaria. Seu sorriso aflorava como a primavera que já estava a principiar,
com toda a serenidade de seu espírito. Algo me reservara o fato de já estar
saudoso, mas Nati não sabia que não seria exatamente por ela... Andava eu por
escrever cartas e sabe-se lá por que! Saudoso estava pelo punho que me colocava
na mão a caneta, prosseguindo até então ao prazer de escrever, tão somente: a
esses erros tão crassos que enveredavam-me à ausência do romantismo, à anuência
de que o meu prazer – tão fracamente disputado por quaisquer, nas vacas magras –
era de ordem intelectual, e isso já havia sido reconduzido à simples e
inexistente abstração, na contemporaneidade tão hedonista que vivíamos nos
nossos tempos.
Apenas havia um ponto final em meu
punho cerrado pela caneta e sua esgrima de ideias: eu traçava as linhas
dedicando-as a um maior conhecedor, que vive ao desfrute, mas aponta na riqueza
da matéria a maior e mais linda das montanhas, que se chamará felicidade, pois
um homem que sacrifica tudo o que conquista em nome de Krsna no mínimo é um ser
extremamente feliz; disso mesmo Nati tomou ciência e fomos igualmente felizes
até para o todo e o sempre!
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