domingo, 27 de setembro de 2015

AS AGRURAS DO SEM TEMPO

            Mais um dia, o tempo quase não passa ou, quando queremos que passe voa como um falcão peregrino... Tempos de chuva, questão de ordem que nos alimenta com a melhor bebida, em safra do Criador. Por que não dizer que no líquido amniótico pode estar a promessa de banharmo-nos em um rio sagrado? Quem sabe, muito do que desconhecemos nos revela um grande painel onde colocamos os bilhetes de nosso entendimento. Colocamos como reminiscência, como padrão inequívoco de nossas referências, algo a pressupor que o tempo nos conceda. Seria extremamente justo que o nosso pensar não nos nublasse a fronte nas incertezas de nossos ocasos. Mantermos nossa serenidade espiritual é fruto de um processo tão prazeroso como um caminho que se abre para uma praia linda, ou uma vereda na selva que nos mostre um olho d’água chorando de felicidade por estar na Natureza.
            Há percalços em se caminhar muito, e as agruras por vezes aparecem por entre rochas que sempre vemos mas que nem damos conta de suas superfícies ou formas, apenas sabemos que sempre estão nas veredas... Disto que falamos em que as palavras nos remetem a um frescor que nos faz entender por vezes uma linha, ou o som de uma sílaba nos oriente como no produzir de uma fábrica artesanal. Não há muito do tempo neste fluir de tentar voar mais do que uma gaivota nos ensine dos peixes e das mesmas pedras algo que se movam quando de outros voos. A luz dos nossos sóis clareiam as agruras que muitas vezes são criadas por nós mesmos, e no sem tempo teremos por reconstruir as casas que deixamos nas devastações de nossos espíritos. Essa é uma questão de crermos com força nas possibilidades de vencer infortúnios com certezas que se tocam e se sentem, e a razão espiritual também é concreta. Pois quando se move céus e terra na recorrência da fé – muitas vezes histórica –, resta prestarmos atenção no fato e na razão do sublime. Justamente, na força gigante que alguns artistas, no exemplo anímico, imprimiram seu lote cultural para criar em todos os estilos, em todas as vertentes da civilização, seja no afresco de uma capela, ou em um ídolo tolteca.
            Obviamente, há que se levar em conta que nos dias atuais não se pode mais descartar a importância de livros sagrados como no exemplo da Bíblia e seus testamentos, nos continentes ocidentais, na monta em que a fé se repõe e se refaz com a devida situação com que passamos a coexistir com a realidade religiosa em dimensões que ultrapassam fronteiras. Subscreva-se já, no entanto, que nenhuma escritura ou rito é superior ao outro pelo número de seus adeptos, ou pela sua origem etnológica ou cultural... Seguem as religiões em seus contextos e contradições, mas também dispomos de fartas enciclopédias que revelam o conhecimento das civilizações, independentes do seu fator religioso. A realidade do mundo é que cresce dia a dia a importância de uma vida mística, talvez até mesmo pelo fato de não termos mais o latim e o grego nas escolas e seus aprofundamentos filosóficos, onde o pensamento e a metafísica perdem espaço na construção do ser crítico nas sociedades.
            A realidade mostra é que, mesmo muitos que creem em algo religioso se tornam mecanicistas. Passamos a sermos treinados como rotores de vendas, e o comércio e a ganância tomam o lugar em várias frentes, ganhando no escopo social uma importância inequívoca. Essa veia torna-se pujante, mas é no pequeno empreendedor que se processa o conhecimento de uma massa mais crítica – na prática – com as relações de trabalho. Para citar a questão do comércio como setor de produtividade... Quem participa ativamente desse rotor, dessa mecanicidade saudável, constrói a relação mais importante entre os pares que é a consciência de uma luta que travamos para melhorar cada vez mais o nosso lugar na sociedade, com toda essa carga que a mesma sociedade contém, que passa por óbices negativos a serem enfrentados, como o autoritarismo, a arrogância, a prepotência, apadrinhamentos, abusos de poder e diversos outros entraves para aqueles trabalhadores que crescem na honestidade e nos bons propósitos produtivos.
            Essa é a miríade do tempo, que achamos que não o temos por vezes, quando acreditamos que é muito tarde para recomeçar, quando nos sentimos muitas vezes derrotados, já que devemos sentir que por vezes o sorriso de uma colega de trabalho, ou a gentileza de um outro trabalhador mostra a nós mesmos que todo o lavor é importante, e o que vale é que eticamente vale, e deve valer sempre o mesmo, a cada qual...

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