terça-feira, 22 de setembro de 2015

HORAS CARENTES

            Sabia eu que andavam as horas sem se importarem com seu patrão autoritário, chamado tempo... Este não gostava de sua insubordinação, pois contavam umas as outras em um lance de olhar que gostariam de namorar os cupidos. Poupavam suas retaguardas – os minutos – que lhes enchiam as esperanças de um quilate onde o tempo não as suprimisse, obrigando-as a que arrumassem outras amigas por vezes amargas no futuro de cada segundo: em cada crescer dos agentes dos dias. Nada que fosse exato, pois o futuro era o gesto de uma marcação, de uma conveniência mecânica, apenas, que mostrava a dimensão de uma verdade que se sentia atraída por si mesma, que mostrava um passado, seu parente, em que os de bom senso se espelhassem no que fosse clemente, condizente...
            Não havia como o diálogo verbal entre as horas, apenas uma saía e a outra entrava em um cômodo de um gigantesco castelo chamado História. Não que se achasse muito, mas a matéria era intrincada, pois o mesmo castelo abrigava essas engrenagens como se fosse de uma vereda em que cada habitante surgia, e a porta desse mesmo passado remontava à uma grande biblioteca, mas de portas cerradas. Livros curtos, longos, alguns antigos digitais, acervos de máquinas comportando o mesmo salão um sem nexo igualmente de objetos. Tudo preservado em chaves de memória das culturas. Mas em outros lugares, em outras veredas o grande tempo era um astro, uma estrela, uma lua, uma folha, um gesto da Natureza, e a alternância nada sincopada entre seres, águas, pedras, terra, éter, mentes, ar, que tornavam a matéria outra como um desígnio improvável, mas que alguma certeza científica azeitava as molas do conhecimento ocidental.
            Algumas pequenas casas compunham com a vila circunvizinha o aspecto inerente de sua existência enquanto espaço, e o tempo era o irmão mais velho deste, pois remontava na ilusão dos homens ser a própria origem, e a rebeldia do espaço mostrava ao primogênito que andava a construir o desconstruído, e que sua relação intrínseca seria maior do que a vereda, pois tornaria esta relativa.

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