terça-feira, 29 de setembro de 2015

DE SE ARREMATAR O TEMPO

O tempo que não se arremata em nenhuma circunstância,
Posto ser precioso aos que temem o perder-se o caráter,
Que quando alçamos suas superfícies de cristal solene
Vemos ao mesmo – o tempo – qual urdidura de pérolas imantadas
A própria pátina maravilhosa que alicerça os ventos...

Ademais, que se escreva àqueles de ferruginoso ocaso
No tempero de um aço que transcende a mesma bravura.

Saibamos que nesse mesmo tempo alcançamos as medalhas
Consubstanciadas apenas e simplesmente por um gesto fraterno.

Não há porque, camaradas, de se supor outros tempos,
Se as doutrinas não servem mais aos parágrafos de razões,
Visto o ócio de outros tabuleiros encerrarem movimentos...

As calçadas tornam-se famas ao léu, derramas de consciência,
Mas é nelas mesmas que pressupomos o quase impossível
De derrotarmos nossos óbices internos, como quem flama
A chama do apagar-se no que se queda do próprio temor.

Haverá tempo, gente, que o tempo não traduz demais,
Nublando as esperanças de Marte, ao que seja, um Deus
Virado planeta onde a água descoberta líquida e quente
É um gelo no de se compararmos as latitudes do espaço...

Paulatino é o tempo atemporal, de muralhas imóveis
Que escarnecem como pedras secas de inverno, mas que agora
Abrem espaço para mariposas noturnas na orla de nossa primavera!

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O ÓBVIO NEM SEMPRE É ESTÁVEL

            A obviedade de certas situações nem sempre demonstra a estabilidade que nos remonte ao que pensamos ser por semelhança, do que algo se reporte em ações concretas na medida em que os governos saibam agir mais em conformidade com a coerência e competência extremamente necessárias em crises, mantendo a importância das instituições e com estruturas jurídicas incólumes. Versa que cada um saiba seu papel, mas a contribuição de uma opinião cidadã quiçá possa servir para algo. Por vezes, a expressão intelectual passa a ser necessidade de um homem, igualmente quando o mesmo homem vê na dimensão do voo de um pássaro a resposta que lhe cabe na estabilidade de sua postura diante da vida. No entanto, muitos não possuem seu espaço na dignidade, e sempre essa é uma questão que preocupa: toda a carestia, a extrema concentração de renda e a falta do equilíbrio necessário entre as camadas da sociedade. Isso porque vemos, porque é óbvio, é fato... Essas populações não nos tornam um país emergente sequer, mas nos configuram ainda com uma realidade terceiro mundista. Essa questão passa por tentativas de solução que caminham por muitas veredas, mas a ação que se faz principal é sabermos que os nossos problemas muitas vezes são estruturais, e não é pensando conjunturalmente apenas que iremos solucionar uma crise que não passa de espelho de muitos erros em administrações anteriores, que sempre deixaram um legado em que sua forma de governo sempre privilegiou os mais ricos. Um lado cabalmente concreto esse fato, por isso o trabalhador que exerce sua função  honestamente merece toda a atenção na abertura de boas perspectivas que venham do Poder Público.
            Se passa que qualquer medida mais condizente com a melhoria equitativa da sociedade não agrada a todos, obviamente, mas não neguemos a importância de ganhos sociais com os programas que agora infelizmente tendem a perder a sua força. Esse é um erro substancial, pois as propostas do Executivo, desde o início, foram as de manter os programas sociais. Visto isso como alguém em sua diletante acepção, desses mesmos fatos que corroboram que quem está com o poder por vezes se encontra alicerçado em equações tão intangíveis como a conciliação entre opostos que muito em raro se entenderiam. Resta ao administrador de um país saber agir com a diplomacia necessária e a firmeza tal que reconquiste suas bases de aceitação popular. Reza a importância de debates, a concordância de melhorar os serviços substanciais e lidar bem com situações de conflitos ou impasses. Nisto subentende-se a formação e o caráter de cada líder, e aqueles personagens que apostam na desestabilização efetivamente não merecem o respeito perante tal atitude, pois depõem contra o desenvolvimento da nação. O Estado deve ser uma entidade inviolável, o que nos faz partir do pressuposto que deixemos as relações de poder inócuas de lado para admitirmos que ser patriota é aceitar qualquer brasileiro como cidadão, dentro das leis tão duramente conquistadas em l988, que alicerçam o bem portar-se em sociedade e que versam sobre a importância das instituições democráticas em nosso país – saibamos – na coletividade e no respeito ao indivíduo. Esse é o verdadeiro panorama da estabilidade calcada no bom senso, e é sobre essa questão que devemos focar nossos atos perante a Lei.

domingo, 27 de setembro de 2015

POESIA SILENCIOSA

Látego duro em minha carne, quando penso, e o pensar
Passa adiante o próprio nada em que o poeta se encontra
Quando percebe que quando é poeta não sou eu o autor
Que não sabemos onde colocar uma mão que treme
De um tremor secular em todas as histórias da mente...

Sou feliz, mesmo em açoites construídos pelo embate
Em me saber na luta em que sobrevivo por sob química
A saber, que apenas são os efeitos colaterais que ponteiam
A dissonância em saber-me carne onde sobra-me espírito
Ao que uno seja, quem dera, ser um Gogh de novo!

Mas não, prefiro estar silencioso nos dias, fremindo o verbo
Qual semântica de todas as linhas que me permitam,
Nem que o seja nesta que prepara com continência a próxima
Que eis: surge, clássica como a vereda intangível
E em mais uma breve que encerra a terceira estrofe...

E o poeta este passa a ser não um fingidor, pois a dor que sente
Cessa no escrever, que não finge a espera de um sentido
Que seja, uma metáfora que não transcenda apenas a verve,
Mais continue no quinhão que separamos em nossa vida
A que sejamos talvez por isso um pouco mais felizes em viver!

AS AGRURAS DO SEM TEMPO

            Mais um dia, o tempo quase não passa ou, quando queremos que passe voa como um falcão peregrino... Tempos de chuva, questão de ordem que nos alimenta com a melhor bebida, em safra do Criador. Por que não dizer que no líquido amniótico pode estar a promessa de banharmo-nos em um rio sagrado? Quem sabe, muito do que desconhecemos nos revela um grande painel onde colocamos os bilhetes de nosso entendimento. Colocamos como reminiscência, como padrão inequívoco de nossas referências, algo a pressupor que o tempo nos conceda. Seria extremamente justo que o nosso pensar não nos nublasse a fronte nas incertezas de nossos ocasos. Mantermos nossa serenidade espiritual é fruto de um processo tão prazeroso como um caminho que se abre para uma praia linda, ou uma vereda na selva que nos mostre um olho d’água chorando de felicidade por estar na Natureza.
            Há percalços em se caminhar muito, e as agruras por vezes aparecem por entre rochas que sempre vemos mas que nem damos conta de suas superfícies ou formas, apenas sabemos que sempre estão nas veredas... Disto que falamos em que as palavras nos remetem a um frescor que nos faz entender por vezes uma linha, ou o som de uma sílaba nos oriente como no produzir de uma fábrica artesanal. Não há muito do tempo neste fluir de tentar voar mais do que uma gaivota nos ensine dos peixes e das mesmas pedras algo que se movam quando de outros voos. A luz dos nossos sóis clareiam as agruras que muitas vezes são criadas por nós mesmos, e no sem tempo teremos por reconstruir as casas que deixamos nas devastações de nossos espíritos. Essa é uma questão de crermos com força nas possibilidades de vencer infortúnios com certezas que se tocam e se sentem, e a razão espiritual também é concreta. Pois quando se move céus e terra na recorrência da fé – muitas vezes histórica –, resta prestarmos atenção no fato e na razão do sublime. Justamente, na força gigante que alguns artistas, no exemplo anímico, imprimiram seu lote cultural para criar em todos os estilos, em todas as vertentes da civilização, seja no afresco de uma capela, ou em um ídolo tolteca.
            Obviamente, há que se levar em conta que nos dias atuais não se pode mais descartar a importância de livros sagrados como no exemplo da Bíblia e seus testamentos, nos continentes ocidentais, na monta em que a fé se repõe e se refaz com a devida situação com que passamos a coexistir com a realidade religiosa em dimensões que ultrapassam fronteiras. Subscreva-se já, no entanto, que nenhuma escritura ou rito é superior ao outro pelo número de seus adeptos, ou pela sua origem etnológica ou cultural... Seguem as religiões em seus contextos e contradições, mas também dispomos de fartas enciclopédias que revelam o conhecimento das civilizações, independentes do seu fator religioso. A realidade do mundo é que cresce dia a dia a importância de uma vida mística, talvez até mesmo pelo fato de não termos mais o latim e o grego nas escolas e seus aprofundamentos filosóficos, onde o pensamento e a metafísica perdem espaço na construção do ser crítico nas sociedades.
            A realidade mostra é que, mesmo muitos que creem em algo religioso se tornam mecanicistas. Passamos a sermos treinados como rotores de vendas, e o comércio e a ganância tomam o lugar em várias frentes, ganhando no escopo social uma importância inequívoca. Essa veia torna-se pujante, mas é no pequeno empreendedor que se processa o conhecimento de uma massa mais crítica – na prática – com as relações de trabalho. Para citar a questão do comércio como setor de produtividade... Quem participa ativamente desse rotor, dessa mecanicidade saudável, constrói a relação mais importante entre os pares que é a consciência de uma luta que travamos para melhorar cada vez mais o nosso lugar na sociedade, com toda essa carga que a mesma sociedade contém, que passa por óbices negativos a serem enfrentados, como o autoritarismo, a arrogância, a prepotência, apadrinhamentos, abusos de poder e diversos outros entraves para aqueles trabalhadores que crescem na honestidade e nos bons propósitos produtivos.
            Essa é a miríade do tempo, que achamos que não o temos por vezes, quando acreditamos que é muito tarde para recomeçar, quando nos sentimos muitas vezes derrotados, já que devemos sentir que por vezes o sorriso de uma colega de trabalho, ou a gentileza de um outro trabalhador mostra a nós mesmos que todo o lavor é importante, e o que vale é que eticamente vale, e deve valer sempre o mesmo, a cada qual...

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

POESIA SEM POIESIS

O cotidiano espera o lavor duro de uma mão obreira da obra
Que seja de obrar o grande palácio de uma questão atávica
Em que morem qual na Arca os da poesia que não profetizem
Pois que de profecias morrem os profetas de algo que proferem...

A ética consagradora repara em um Homem que caminha silencioso
No caminhar sereno como outros que rugem para si mesmos
Como no libertar-se de grilhões quando veem um outro irmão
Silenciosamente ser enjaulado pelas desditas da vida.

Por que proferem palavras científicas a esta altura do enredo,
Por questões estas similares não encontram subjacências
No que se prega de ciência do digital em que os pássaros noturnos
Acompanham o pescador que dista do usual das gentes.

Gente que passa a frente nas catracas, que urge por clareza,
Que confunde um passar lento nas teclas e supõe realidade
O pontífice clamor de se estar na veia do planeta
Em que se chama planeta, posto vivermos no mesmo mundo.

Engrandece a palavra em saber de quilates de sofrimento
Aos paradigmas em que os homens se trancam dentro das casas
Enquanto alguns motores fazem seus arranjos noturnos
Ou mesmo trocam peças no teto inquieto de alguém.

De uma sociedade animalesca assim deixamos a adormecer os ventos,
A ver quem possui a coragem, treinando e treinando,
Para verem crescer inimigos nas árvores secas
E são apenas pássaros que tecem seus ninhos nos ocasos de seus fracassos.

Assim, de se dizer, que os animais de verdade são aqueles que nos dizem
A pureza de um bicho, que não encontramos mais no focinho de um homem
O mesmo que se diz que um homem é mais do que apenas
O resfolegar de um gato na quebra imanente de um quintal.

Assim continuamos a viver, na felicidade de sermos mais humanos
Do que propriamente a arrogância de todos aqueles
Que se imiscuem nos seus próprios problemas os problemas mais reais
Ignorando que agindo assim vão contra a própria consciência.

Segue a poesia de ferro e bronze qual imagem consagradora
De um justo espírito que verga sob o patíbulo de nossa ignorância
O perdão muitas vezes dado a quem na verdade
Mereceria a cerimônia de uma vez ser castigado.

Pois se o altíssimo morreu por nós e vive ainda entre nós
É porque temos a consciência de um ser gigante que aflora
Nas escadas onde esquecemos um pouco de água
A quem subir pelos degraus imantados da Terra, a mãe Gaya.

CANTO JUSTO A SE DIZER

Os louros de minha pátria colorada
Clamam por alforrias que já concedem em muito
Na intenção do governo que – solidamente – constitui
A plataforma política que engrandece meu espírito...

Assim, de se dizer, que não é nos pretensos mandatários das ruas
Que vamos encontrar lideranças que lutam por nós
Na atitude – coerente – de religar nós intangíveis
Pelas inquietas vertentes de nossa saudável democracia.

Digamos sim ao plebiscito, que venha a alicerçar
As frentes reais e duradouras de nossas plataformas
Em que traçaremos no calor de nossos povos
A veia insopitável do destino!

A nossa Presidenta do Brasil, que sejamos por ela
Nas veredas de nossos próprios clamores
À sua fortaleza de mulher forte e destemida
O exemplo que nos falta em parte de nossas massas.

Líder inaudita, prócer de nossas liberdades tão duramente trabalhadas
Nos rigores do inverno, nas pressões que sofremos das mídias
Que não aceitam o menor sopro a favor do social
Pois também não são aceitos por elas os mesmos movimentos libertários.

Não parecem saber de nossa posição no mundo,
Em que o país não é mais sinônimo de desesperança,
Pois já alçamos vôos próprios no caudal de nossas existências
A predizer muito mais do que falsos predicativos!

Sigamos, pois, estas verdadeiras lideranças
Sem o abraço inconseqüente da pretensa irracionalidade
Que tange em alguns suas ignorâncias de falsas letras
Em sua aparente mudança do que crêem ser algum tipo de paradigma.

Sigamos a nossa pátria de sempre, pois não há como estancar
A verdade de estarmos em progresso na batuta da nossa maestrina,
Na face de nosso operário e grande líder que mostrou a todo o mundo
A vertente diamantina de um poder consolidado e sincero!

TORNAR-SE A ALGO

Acordo de dias um tanto ausente
Que o verbo por si fracassa o sentir-se
Em que não se sabe se é por falta
Ou por omissão concludente da sociedade.
Não há manhãs na soleira da minha arquitetura,
Mas as sanções que se impõe em minha carne.
Sou um homem feliz por viver
Na difícil vida em se fazer por onde de se sentir
Que se sente na tessitura irrequieta de uma boa poesia
Como eqüídeo a ruminar os ventos,
Como flor a anteceder primaveras,
Como o amor de se ter com uma mulher
Quando esta se despe em suas minúcias
Ao abrir seus flancos secretos
Para os braços exaustos de um homem...
Quiçá um sonho de um amante que sou
Pudera abraçar outros sonhos de ver que amantes somos
A se crer – aí sim – na primavera dos tempos!

A se rogar temperança, serenidade, amor
Que plange em uma guitarra
O som sim merecedor da flauta
Em que tecemos algumas ocultas rimas
No caudal rumoroso – repito – e que me perdoem
A ausência de neologismos tipográficos
Na semântica indiscreta de saber que vivemos
Nas plataformas inquietas de saber viver
Ao que sabemos mas não dizemos tudo
O que saberíamos no final de um fértil verão
Quando finalmente conseguirmos
Apaziguar os temores que foram gerados
Em superfícies imanentes em que nem mesmo o destino
Saberá mais onde estaremos mais vivos
Do que saberemos em mais viver!

ATALHOS DA ARTE ABSTRATA

            A abstração pede que não sejamos concludentes... Como se todo quadro tivesse algo de se concluir, mas melhor seria dizer que o abstrair existe na superfície de todas as telas, até mesmo nos sonhos das veias eletrônicas em seus minérios de sílica. O que dizer mais do abstrair, posto que seja igualmente necessário saber que lidamos hoje com uma vertente autocrática do realismo na TV e acessórios. Não seria delongar afirmar que a mesma abstração não possui conceitos, pois as palavras citadas apenas sirvo delas para estabelecer critérios dentro desse mundo fascinante, não apenas nas artes plásticas como na releitura da imagética digital, tão presente em nossas civilizações contemporâneas. Passa-se a ter como arte o não querer dizer, mas a abstração em nossa percepção consciente como anteparo também pode negar o meio, e negar a mensagem igualmente, vendo por através do ensaio que possamos fazer para compreender o próprio labirinto dos filmes, conscientemente, a partir de uma análise de sua produção, como as que gentilmente nos ofertam certos veículos de comunicação de massa. A partir do momento que somos partícipes da produção, em que produzamos conteúdo – nem que o seja em um diálogo ou registro – esse modo de ter o controle nos situa em novos paradigmas de atuação, dentro ou fora da tecnologia.
            Abstrair-se significa muito do pouco talvez que saibamos, posto termo não muito empregado nesse conceito tão paradoxal da ideia que temos a respeito, pois já sabemos que quando falamos de realismo, implica na temática explícita de certos filmes. Podemos permitir, obviamente, já que estamos em uma democracia, mas creio que canais estatais de alcance similar aos grandes e privados seriam boa solução a se antepor ao forte e vertical conteúdo de oligopólios da mídia. Fato esse que se revela substancialmente dentro do entendimento mesmo de uma sociedade livre e democrática: que tenhamos noção clara e evidente de como estamos no quesito da indústria cultural, como funciona, a que propósito subsiste e em que escalas se processa. Essa é uma discussão saudável entre todos os grupos que regem o entretenimento televisivo do país, independente dos chavões cáusticos contra livres ofertas, pois trata-se de ganharmos espaço como referência cultural dentro e fora de nossas fronteiras... Um amplo debate, abstrato, a bem dizer, quando somamos para não subtrairmos o espaço necessário para uma convivência pacífica e salutar entre todos os grupos de mídia: Google incluído, etc, com toda a questão que envolva mais do que apenas o nem tão sólido estamento moral das TVs abertas ou fechadas. Uma fenda que se abre, sente-se abstrair-nos em algo que nos remeta a um longo período que contemple a arguição, o entendimento, pois são questões que um governo não daria conta, pois ao menor toque que vá contra interesses profundos nesse campo, perde-se o poder ou sua legitimação. É fato, nada que traduza como isso acontece, mas há sempre uma previsibilidade de alguns grupos de poder saberem de antemão qual a tendência de alguns debates ainda não realizados, haja vista a vulnerabilidade quase abstrata dos bancos de informações, com a opacidade transparente em seu esforço em manter-se em sigilo. Teço esse ensaio pensando inicialmente na arte abstrata, justamente para traçar um paralelo a que muito do que conhecemos nas vanguardas da tecnologia não passam de abstrações sob um véu tênue da roupagem realista para encobrir ações efêmeras, no entanto pontuais e concretas, que no mais das vezes foge ao entendimento dos que não são partícipes de diversos grupos imantados de poder.
            Não me entendam mal, caros senhores, mas a crítica, perdoem-me, às vezes assoberba meu espírito – contrito – que seja... Volto a dizer que a arte abstrata, esta que por várias direções pode não parecer exata na fruição estética, é um universo a ser descoberto mesmo em uma televisão, quando comparamos suas cores, quando a observamos mais, os olhares dos artistas, e que não precisemos beber de uma fonte pensando que seja melhor a água, pois as notícias estão em vários pontos, e é aí que se encerram questões mais verdadeiras, no humilde exemplo que coloco, a serviço de qualquer nação que busque ao menos compreender o porquê de que se crê certo, e igualmente, daquilo que se crê errado.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

HORAS CARENTES

            Sabia eu que andavam as horas sem se importarem com seu patrão autoritário, chamado tempo... Este não gostava de sua insubordinação, pois contavam umas as outras em um lance de olhar que gostariam de namorar os cupidos. Poupavam suas retaguardas – os minutos – que lhes enchiam as esperanças de um quilate onde o tempo não as suprimisse, obrigando-as a que arrumassem outras amigas por vezes amargas no futuro de cada segundo: em cada crescer dos agentes dos dias. Nada que fosse exato, pois o futuro era o gesto de uma marcação, de uma conveniência mecânica, apenas, que mostrava a dimensão de uma verdade que se sentia atraída por si mesma, que mostrava um passado, seu parente, em que os de bom senso se espelhassem no que fosse clemente, condizente...
            Não havia como o diálogo verbal entre as horas, apenas uma saía e a outra entrava em um cômodo de um gigantesco castelo chamado História. Não que se achasse muito, mas a matéria era intrincada, pois o mesmo castelo abrigava essas engrenagens como se fosse de uma vereda em que cada habitante surgia, e a porta desse mesmo passado remontava à uma grande biblioteca, mas de portas cerradas. Livros curtos, longos, alguns antigos digitais, acervos de máquinas comportando o mesmo salão um sem nexo igualmente de objetos. Tudo preservado em chaves de memória das culturas. Mas em outros lugares, em outras veredas o grande tempo era um astro, uma estrela, uma lua, uma folha, um gesto da Natureza, e a alternância nada sincopada entre seres, águas, pedras, terra, éter, mentes, ar, que tornavam a matéria outra como um desígnio improvável, mas que alguma certeza científica azeitava as molas do conhecimento ocidental.
            Algumas pequenas casas compunham com a vila circunvizinha o aspecto inerente de sua existência enquanto espaço, e o tempo era o irmão mais velho deste, pois remontava na ilusão dos homens ser a própria origem, e a rebeldia do espaço mostrava ao primogênito que andava a construir o desconstruído, e que sua relação intrínseca seria maior do que a vereda, pois tornaria esta relativa.

domingo, 20 de setembro de 2015

QUE O MALUCO SEJA CONSENTIDO

            Por que não consentem que se fale dos direitos humanos às camadas das populações cada vez mais incluídas nos rol dos enfermos mentais? Que espécie de gênero nazi-fascista que dita que quem toma algum remédio para isso não é são por natureza, veio com defeito de fabricação, ou chega a ser impuro, ou sintético – no jargão da ficção besta da intolerância, esta sim, patológica? Chegamos em uma sociedade onde quem pensa no coletivo enquanto substância inequívoca e fundamental, mesmo portando enfermidade mental, mostra aos que ignoram a tese, que renuncia à sua condição enquanto indivíduo possuidor de vida ativa ainda – nos prazeres mundanos – em prol da coletividade, gerando rancores dos chamados ultra conservadores. Um homem ou mulher com esse desprendimento pode se valer da religião, mas a questão é pensar no total para buscar neste amplo debate as soluções a impasses na mesma temática dos Direitos Humanos e, consequentemente, da obtenção da paz social ou, idealmente na pior das hipóteses, com ações que pelo menos tente busca-la. Essa seria uma verdadeira intentona apenas, mas o que se vê são rebarbas de tentativas e nada amplia. Graças ao bom e dileto Krsna, nada se repete... Aliás, para quem não conhece, é esse o nome que este autor sincero e maluco dá para Deus, e é sempre inspirado nesse Ser Supremo, que falo, agora e sempre...
            Falar em direitos humanos irrestritos é como anistiar grupos excluídos durante todas as suas penas, no viés de todos os sacrifícios, no montante destes para alguns, e duras e severas penitências para outros. Apenas sobre essa inclusão social é que cito as palavras, não mais, a se dizer que muitos têm problemas por não possuírem qualquer retaguarda, qualquer trabalho, pois nesta selva capitalista, ou em qualquer outro sistema injusto os chamados loucos ou esquisitos têm sido motivo de intolerância e humilhação, afora aqueles que se sobressaem por terem mais experiência ou bons médicos, pois esta é uma relação assaz importante, a que temos com a medicina, a medicação e como nos saímos perante a vida.
            Reiterando o assunto controverso sobre um estado de coisas em que a paranoia seja quase normal em muitos casos, claro está que o regime por vezes colapsa. Se não distribuirmos melhor a renda, se não pensarmos no social, se não dermos agora educação em período integral para os mais necessitados, com direito à alimentação, nas idades mais jovens, desde a creche, como foi feito nos CIEPs de Darcy e Brizola, tendemos a desandar, ou permitiremos que a oposição se agarre nas máfias que há muito tempo fazem parte da estrutura do sistema de administração do Brasil, mas que antes não se punia e sequer apareciam. Quando um país começa a explodir com chacinas e crimes bárbaros diariamente, em todos os lugares, temos que partir para uma contestação mais exemplar...

sábado, 19 de setembro de 2015

A VIAGEM

            Encontrei Adélia em frente ao meu portão... Estava sorrindo à passagem de alguns rapazes que faziam troça com tudo, meio que no divertimento irônico de assumirem posturas até então conflitantes com o padrão – tão controlado à época. Estava sorrindo trêmula, na rua, e aqueles não sabiam se faziam parte de um grupo. Eram grupos que se alternavam, encontrando na sua própria covardia algo de se preocupar com demasia com os propósitos das vidas dos outros. Repito, estava trêmula e não sabia como fazer para seus olhos encontrarem-se com os meus, numa atitude de reserva. Na verdade, tudo se passava como em épocas distantes sem o referencial exato. As coisas se pareciam por algumas vezes, e em outras a diversidade era gigante. Para quem analisasse por uma via produtiva, a cicatriz social meio que se fechava em conchas. No entanto, Adélia me olhava seriamente, e essa reserva espiritual me pôs inquieto.
            - Olá, querida, procurei por você ontem... Não houve aquela recepção no hall do Classique. Havia dois violinos ensaiando a Primavera, mas acabei indo tomar um trago no Adelto. Pera aí que abro com a chave.
            - Mattos, você com a mania das garrafas! – Disse ela, espantada. – Encontrei mais duas cheias d’água na pracinha. Olhe que lhe põem veneno...
            - Melhor assim de te encontrar mais crítica. Já está com o semblante mais atualizado.
            - Pudera, estou aqui. Sempre me dás um clarão nesta serenidade de teu jardim. Gostaria que me remetesses a um lugar como este. Como cá estou, já estamos, pois tua companhia é para mim um sacramento.
            - Entre, Adélia, sinta-se em casa. Que sejamos ambas as casas...
            Passou por mim taciturna, e eu sabia que não seriam boas as novidades... Os dias eram duros, estava compartilhando seu espaço com dois estrangeiros... Um casal. Como que quase não se falavam, pois seu francês era risível, e era ela uma mulher mais resignada, mais fechada. De tanto, por vezes, que chegava a não compreender a dimensão de um carinho sincero, obsedada por tantas as parcerias ilusórias, pensava eu. No entanto, mantinha um vigor sem par nas mulheres que houvera conhecido: em raro.
            Entrando a semana, aquele poderia ser um domingo à altura, pois que a semana começava realmente no domingo, em virtude de ser esse o dia para maiores reflexões, quando descansou o Criador, conforme um dos livros sagrados. Que haja resignação inteligente ao respeitarmos eles todos, assim acreditava eu. Os dias se sucediam sempre em um modo em que o tempo marcava justamente a atitude de muitos, como se o relógio fosse mais apenas do que um instrumento de medição daquele. Na verdade, muitos – incluindo Adélia – criam encontrar nesse mesmo fator a previsibilidade, incluso daquilo que não conhecemos muito, justamente: a programação científica e cultural de toda uma sociedade equivocada, ao pensar que essas duas vertentes da vida comportem-se através de planilhas ou mecanismos similares... Acerca desse mesmo propósito desse subconsciente das coletividades, não se atinha muito em minha situação de um pensar que acompanhasse a negação dessa realidade, pois minha própria ingerência como homem de produção mantinha-me atento às vantagens da mesma tecnologia em que nos dispomos em críticas insalubres sem perceber que na verdade estávamos vivendo um mundo em mudanças cabais e complexas. Adélia estivera um bom tempo na Inglaterra, e pousava as mãos nas minhas, olhando com reminiscência no olhar como algo maravilhoso à época. Nunca me disse sobre, mas como adivinhava um affair dos que se encontram sem tempo ou lugar, não importando nada que não fora o amar-se.
            Pareciam os novos tempos aqueles de dar explicações, de muitos buscarem sua fluência existencial em atitudes que revelavam um ciclo em que as referências se perdiam ou eram esquecidas pela linearidade do timer... As rotinas de programação cruas em sua própria demanda abriam margens a se agendar frações de comportamento – seja de homens ou objetos – que se assemelhavam a futuros desalinhados com as questões de raiz dos direitos humanos, ou às origens e causas dessa patologia consentida, desse admirável huxleyiano mundo. A sorte, para os que gostam de ler é que existiram bons como este, como Orwell, como Kerouac, como Martí, Mao, Che, Engels, Hobbes, Hegel, Freud e tantos e tantos outros. O problema é o que se faz hoje, como subproduto da indústria cultural, de renegar nossos patrimônios enquanto seres pensantes e reduzirem a arte a mero escape, e não um meio de vida e subsistência. O artista tem que dar continuidade em sua expressão como algo que remeta ao simbolismo, mas continua sem função em uma sociedade tecnocrata, como se tem estado até então, onde só a Economia é a validade onde vivemos. Não há, no entanto, facilidade de análise do que vivemos, pois grande parte nega os governos mais populares, por si só, como se a saída sempre tenha que ser privilegiar os mais ricos e poderosos, visto não haver o óbvio tão marcante, que a tentativa da oposição ao Governo Popular é justamente trocar a transparência que mostra quem são e o que fazem os corruptos, por governos que já mostraram serem os autores e mantenedores desse modal a uma cidadania tolhida e fracassada em negarem a existência da justiça social defendida pelos governos com opções mais populares. É a questão da independência real de um país, que só se dá quando as amarras que o colocam em situação de dependência das matrizes se rompem, tornando-o autossuficiente, não apenas nos setores produtivos, mas igualmente quando possui seus recursos energéticos, o que confere uma posição importante na geopolítica.
            A fantasia e a realidade submergiam no imaginário de Adélia... Tudo o que eu lhe dizia sobre nossas circunstâncias, sobre a questão do aparente e do fato em si, sobre as fronteiras que colocamos em nosso conhecimento, nos sistemas computacionais, na força que possuía a ciência de nos conhecermos, da importância de conhecermos da mesma forma nosso corpo como a uma seara, e sermos conscientes dela, nos colocava por vezes em situações diametralmente opostas. Por isso nosso diálogo se propunha tanto ao entendimento, de minha parte. Meu falso ego queria se pronunciar e eu sabia que não poderia provar minhas assertivas, pois nessa mescla ficcional ela sempre levava a vantagem. Era um diálogo com o anti mito do herói de redondilhas com a fortaleza do mito da Imperatriz... O homem evanescia em sua fortaleza e perdia para a mulher, e não uma apenas, mas todas, pois a iniciativa passava a ser feminina, com esse novo ser surgido já na entrada do novo século, não importando tanto a política como a diplomacia, mas o jogo de poder sexual entre os novos pares formados, em que a mulher comia agora o mingau pelas beiradas... A nova revolução feminina se processava longe, e a inteligência masculina não sabia dizer o quanto, mas passava muito pela questão da igualdade de competência profissional e financeira.
            Entre outras coisas, a intelectualidade que se fazia passar entre muitos daqueles que mantinham uma vida mais contemplativa, ausente de jogos, à revelia que o dito amor com novas roupas se fizesse necessário ou não, mostrava apenas um desprendimento que podia gerar uma opinião por vezes mais consistente do que aquelas onde a graduação se fazia condição para que fosse apreciada com comiseração e respeito. Essas inquietações faziam parte da minha vida, e Adélia não se importava muito com isso, dentro de sua simplicidade atávica de mulher que preservava o entusiasmo quase sempre. Um dia, falou-me:
            - Escute, Mattos... Engana-se aquele que vê nas condições mais difíceis pretexto para pausar. Digo, pode fazê-lo em ação, mas se for resultado de câmbio, há de justapor por outra equação, pois de sete pregos é melhor prepararmos fincando um em cada canto, no intermédio de cada qual, terminar até fixar e depois retomar o restante, incluindo, já que três é um bom número para o ensaio de quatro quando a prática não é grande. Prega-se por baixo antes, e que a madeira não arrebente, por isso os tamanhos têm que ser na média dos meios e materiais. Como com a voz: há que se saber o que dizer, mas o improviso sincero é sempre do frescor que estrutura uma ação enquanto pensamento existente como pano de fundo ao que se torne atuante de primeira linha. Por isso esta minha ficção, pois viajo nas palavras e sem compromisso atuo, me entendes? Essa mescla que dizes da minha fantasia no que julgas realidade para mim é algo um, apenas... Por vezes, a semântica de uma sílaba está presente em uma conexão com outra, de um livro qualquer, mas que se apaga da memória como um fogo fátuo que nunca existiu e que existe na lendária imaginação das crianças. Se isso é navegar, partir para um mar não consentido, não sei, porque por de menos já se consente, e o que o é, por demais será maior. Basta, que é o que eu lhe falo hoje, e que não calemos, pois sempre é acréscimo, meu querido peão de tabuleiro amplo. Já tens algumas raízes cravadas na selva de teu jardim: tiram as árvores mas ficam os arbustivos, e que em outros fios e ramos venham outros pássaros, pois é de seu canto que imitamos seu timbre, e de nossa voz que nos pronunciamos, qual seja, lendo, qual seja, na escrita falada, companheiro!
            Disse isso um dia, Adélia. E me faltara o ar, pois na graça de Deus pretendia eu esse monólogo, que ela continuasse ad eternum...

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O CAVALO CIGANO

Peguem de monta, que o estraçalhem, o louco,
Ao estraçalhá-lo por sua lucidez, de gostar da negra
Ao não facilitar à Klan Republicana, ou aos nazi de agora...

Pois que estes aparecem quando menos sentimos
E sentimos suas garras de corvos quando não esperamos,
Ou se esperamos, já nos ressentimos, que vêm aos bandos.

E pretendem, e pretendem quase, firmes, mas pretendem!
Que pretensão tola em suas coxas torneadas e seus óculos
Em que se travestem de rebeldes depois de uma fornicação.

Vêm com outros sapatos, triangulam, tecem veredas
Com seus pequenos e falíveis botões de celulares
Das últimas gerações, tentando derrubar e golpear a todos.

A máquina sabe que querem a mantença de seus privilégios
Quando consomem e se intoxicam de merda, entregando alguém
Por este pensar ao povo que não se metam a pensar igual.

Pois não pensam, acuam, divertem-se no inferno, como preâmbulo
Do que encontrarão pela frente com esse frisson de estarem
Como pêndulos teleguiados à porta de uma balada da hora!

Pois que não se ressintam, venham às pencas, pois de seu triângulo
Será melhor que se suprimam seus vértices, e residirão em um ponto
Como uma pedra que vê sua intenção nefasta naufragar...

Nisto de tentarem humilhar os mais vulneráveis saibam
Que aqueles que impõe a ordem no país recebem vossas notícias
Como se vocês fossem apenas percevejos inquietos nas calçadas.

E são pequenos, racistas enferrujados, vermes de ocasião
Que esperemos que não esperem, pois de se esperar o mesmo cavalo
A que chamam louco os espera com um coice a que se arrependam...

O impacto da palavra, da inteligência de se saber um homem
Que não ensaia tentativas, nem covardemente tenta impor
A desordem em espíritos lúcidos e pacatos como a própria tolerância.

Dispam-se de suas vestes, de seus disfarces, de seus figurinos,
Pois na realidade não há teatro, e sim vida, e resistência, e fome
Daquilo que mais amamos que se chama justiça social...

A tentativa de um golpe covarde tenta através de filamentos
Em toda a esteira da sociedade, por uma capilaridade sociopata
Em tentarem usurpar o poder constituído legitimamente pelo Executivo.

É nessa questão que teço palavras mais duras, para que saibam
Que quanto mais perdoamos as humanidades desumanas
Estas se mostram mais e mais intolerantes ao ato do perdão!

Se querem um Governo justo, passa-se a pensar em esfera legal,
Pois a legalidade se faz com lei, e quem legisla para desferir
Impede a legalidade de melhorarmos a todos todo um país.

É nessa lógica peremptória e exata que devemos proceder
A termos confiança, lideranças do Brasil, que o barco é de casco
Em que carregaremos nossa pátria mesmo na procela dos incautos!

EVANESCENTE

Evanesce do olhar o brilho veraz
Quando supomos dar o tempo ao tempo
Do que queremos, se a mais remota frase
Vem dizer algo em – se não entendemos –
Remete a um correio atado por nós...

A se ver, que antes até de principiarmos
Sobrevém o sofrimento geral de um tendão
Que consolide um corpo no que Aquiles
Desconhecia vir talvez a força inumana...

A autenticidade que verte de uma caneta
Pode ensombrecer certa luz e inundar os sóis.

Pois que a existência tem a residir em Verdade,
E que esta em casa farta ou dela uma porta
Em que as trevas da ignorância se dissipem
No que queremos de ver boas casas
A alimentarem de esperança espíritos contritos.

A saber que quando dormimos nas fachadas
Podemos ver que não há mais respeito humano
Quando nos consideram ratos ausentes
Do que tudo o que não conseguimos obter
Da mesma vã sociedade mesclada com a hipocrisia. 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

ANA E CLÁUDIO

            Entraram meio tristes na sala, vindo das compras em um supermercado. Ana consentia com sorrisos meio amargos, e Cláudio a observava fixamente.
            - Engraçado, querido, veja como ali dentro as pessoas são estranhamente civilizadas... – Seus olhos se turvavam, inquietos.
            - Parecem que vão apenas fazer as compras, meio que sinto apenas um tipo de termômetro por ali. Algo que passa por nossa cabeça, que os mais toscos talvez não compreendam, mas o que me assusta se passa ser talvez o oposto. – Cláudio se mantinha firme como sempre, esportivo, guardando as frutas.
            - Não sei, mas sinto uma sensação de ausência. Parece a existência de um grande motor, algo que corre com os movimentos, percebe? A caixa muito discreta... Talvez dependa dos dias, quem sabe?
            - Ana, não temos que nos preocupar com andarmos conscientes o tempo todo. Mas erro, pois se não for assim, tropeçamos na gôndola de maracujás, ou deixamos uma melancia desabar, em sua carne de suco.
            - É verdade, meu caro. Na verdade, creio que estamos em um século quase dissolvido por um número exato em lindos algarismos, e uma porção de códigos pendurados, como uma árvore genealógica de etiquetas.
            - O tempo vai passando, querida, e a gente se suprime, qualquer lugar é uma hora, por vezes mais tensa, por vezes mais feliz, mais festiva, me entendes? Me parece um jogo de Cortázar, mesmo como no livro, e nos enchemos e esvaziamos o carro, assentimos assim, com esses duplos, viajamos na embalagem do mel orgânico e muitas vezes não reservamos tempo pragmático para verificar os preços.
            Para muito além daquele tempo, havia reminiscências nos dois, quando chegavam à casa, esta que dava no fundo do terreno, o cão aguardando, um carro meio  a meio na lataria, de motor mil. A semana fora puxada até aquela segunda, e havia o que pressentir de mais uma jornada dura, pois seus trabalhos eram honestos, de uma espécie rara, como com todos os trabalhadores... Pegaram de uma garrafa de vinho e ritualisticamente beberam alguns goles, foram para a cama e sortearam uma página de Cortázar, no jogo, ao que Cláudio abriu de sua bolsa e categoricamente afirmou que leria outro do mesmo autor: As Armas Secretas. 

COR E SIGNIFICADOS

            Ponteiam-se as cores e seus farnéis, desde que se demande a ideia. O fato em si corrobora o significado, mas tal voz pode ser relutante na representação de sua cor. O que vem de si para outro trepida na intenção o próprio ato, enquanto ilusão ou ignorância, o que vem a dar no mesmo. Se o tempo discorre uma previsibilidade, sabe-se de cores que vem a dar no mesmo previsível uma espécie de moda consubstanciada. Do mesmo a se dizer da imagética e seus quadrantes, em um uníssono que encerra raridades assaz sutis e efêmeras no conjunto da própria intencionalidade descritiva.
            Além dos objetos e suas classes, a rotina precisa das linhas digitais descarta algo do concreto desconforme, como o incerto calcado em mitos de aço... Rompem-se os critérios das próprias sinapses, quando algo se escreve sem esperar a resposta, qual não seja apenas estatística! E as cores não aparecem na dimensão de neurônios, mas no seu mapeamento em calor profético. Dos azuis aos vermelhos no ativo neurônio e sua zona, ao território incandescente dos ocasos. Do conflito não seja o acaso de outros mapeamentos, mas que bases de dados cresçam para melhorar. Os tons amarelos, aparentemente transitórios, mostram a efervescência da dinâmica da estabilidade, qual a transição e seus diálogos. Mas qual, o verde tênue de um hospital mostra a importância das cores! Ao laranja, que complemente o lilás, em que as vestes de um bispo o façam andar na diagonal de seus espaços... E mais um código de barras mostra a verticalidade do negro sobre o branco em identificar um produto.
            Há quem diga que beber é importante para a veia do escritor, mas que este relembre que a mesma cor do conhaque veste de serenidade o estar sóbrio em um nicho nas pedras de uma praia de baía a um por do sol solene, enquanto caminhamos à procura de um quase tudo em nosso interno e íntimo viver. Crepuscular é a cor que reúne, nas nuvens de um céu maior do que aquele que antes lêramos em uma página distante ao nascermos em um outro dia, quando despertamos novas e antigas promessas... Que vã promessa encerra por vezes panoramas de cores quase neutras, com seus tons cinzas do não colorido que transpassa por ausência. No mapa de cores, quem sabe uma bata da Índia nos fale mais do que algo assim por dizer do non sense. Que se pensem em cores de um dó maior, a um lá sustenido e um mi menor, quem sabe, qual tríade imaginária dos ocres e terras, a compor outros oceanos de vertigens maravilhosas quais sejam em outras percepções! Não seria tão vã a promessa, mas nos encerrarmos qual um figurino ardente de desejos de vitória, veremos cair o pano antes de entrarmos em cena nesse estranho picadeiro. Não passa por ser crítica, mas se o é, aceitemos como opinião, pois se as cores nos mapeiam, vejamos, quem sabe, o que se passa é uma tele visão... A uma sociedade totalitária vemos também que Roma se fez em duce seu principal tradutor, de um fascismo sem par que encontra retaguarda nas cores mais aberrativas, por se estar apostando em que estejamos passando pela vida sem nos apercebermos do que está em nosso entorno: da mulher linda que não se encontra mais em lugar algum, ou das pedras que moram sozinhas e jamais se movem da beira do cais. Exerçamos o poder de construir, mas não o poder de o querermos por si, sem conta, sem nos darmos conta do que se chama a palavra liberdade. Querer bem é liberdade. Ser tolerante, solidário, sem conflitos, pois serão esses mesmos conflitos pelos quais lutamos em sua defesa, de sua existência, que gerarão mais atitudes e mais e mais, fascistas, pois o que se quer é um Estado de paz, e não a beligerância nada discreta de se combater ideários, sejam eles de ambos os lados, em seus maníacos extremos...
            Moram as cores de tal forma que poderíamos reestudar o impressionismo, a ver que em sua pintura relembremos que as pinceladas de um homem como Van Gogh tem sua conotação independente, como tantos gostariam de ser e não podem, por um sistema que alicerça certezas por vezes apenas no funcionamento, sem questionar se por baixo dos números as cores não foram trocadas pelo que se pretende de sermos ao menos humanos. Se há alguma contemplação nessa mesma afirmação, que tenhamos – quando temos – o espaço para exercer a nossa cidadania com toda a diplomacia necessária, nas questões tão recorrentes e por vezes negadas dos direitos de cada ser na Terra. Positividade, pensemos melhor: a cada qual seu papel. E aqueles que continuam perdidos há duas palavras em latim: fiat lux... Espalhemos essa luz, ao menos que tenhamos nossas mãos cheias de perdão, pois é perdoando que se é perdoado, e nunca será em um embate sem tréguas, sem remediar as causas da miserabilidade, que resolveremos a carestia que carregamos em nossas sociedades, pois reitero que não é cada um por si, pois não estamos na selva e nem somos animais. Viemos ao mundo para proteger uns aos outros, não para nos devorarmos neste capitalismo sem tréguas!

domingo, 13 de setembro de 2015

EM SE TRATAR DO VERBO

Da letra que se tece companhia, solene,
Ao que não versa tudo do nada em si,
Mas que ausente de parágrafo demande poesias
Daquilo que queríamos aparentar com o tempo...

Veste-se a roupa com o calcário dos dias,
Pungente como a ostra em seu sinal de joia
Que atende para a incrustração da madrepérola.

Não silencia o verbo, pois este vive em sombra
E no sol brilha como as superfícies de cristal!

No de se viver em sombra, que a sombra se remonte
A algo superlativo, na face dos que fazem da vida
A um remontar-se na predisposição do acaso...

Vertemos no verbo a própria criação do que fora anterior
Ao que agora ressintamos o atual do mesmo parágrafo
Que esquecemos debruçado sobre as esteiras do tempo!

No que vem do sol, iluminamos alguma certeza inquieta
Em uma palavra que nos brote na semântica dos dias,
Em que Dostoievsky já pronunciara no Crime e Castigo.

Que pontuemos de nossas literaturas que estas sejam
O que temos no mundo que são melhores do que séries de TV.

Pois que passem os dias, e o verbo não é apenas o bíblico,
Já que a filosofia nos ensina a pensar de modo independente
Ao que já se estudava em Thomas de Aquino, e agora versa
Que nos aprofundemos no pensar que quisermos, posto seja
O verbo independente de tempo ou espaço, e que não sejamos
Tão críticos a ponto de afirmar que os livros são um passado
Em que os nossos filhos deles já não precisem mais...

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

ROTEIRO IMAGINÁRIO 02

            Comecemos por uma vila na Itália, com as referências de casas como antigos castelinhos, com suas pedras encaixadas, as vielas, um aqueduto cruzando uma rua mais larga, pendurado por dois rochedos, e as janelas espiando através de arbustos. Fora, um tipo de campo, com antigos meeiros e a ordem de suas tentativas de manterem as relações com os povoados através de simbiose: as ruas gerando uma antiga integração, ainda que remota... Algumas torres pousando qual antiguidades reflexas com novos habitantes, vindos de outras culturas e repousando em leitos, como em rios e suas confluências íntimas e solenes. Livros invadindo de alto a baixo, em um escape maravilhoso, entre os existentes – aqui assumindo um inequívoco surrealismo – e outros que se encontravam nas ruas de outros remansos, ou no caudal solitário de ermos e suas chuvas. Um dinamismo febril de mercado aberto se via nas cercanias mais centrais, algo distante da aldeia, onde uma mulher, de bicicleta, cruzava com uma carroça com cavalos exaustos.
            Estamos em qualquer século, em qualquer tempo, em qualquer virada, eclética ou não. Reporta-se que sejamos imaginários, mas que a fauna de pedras nos ressente de tanta a beleza, de tanta a arquitetura... A imaginação torna-se realidade em sua natureza de mito, e por vezes a alguns Thor se torna um deus. Como na origem do pensamento grego, em que falar da divindade era evoca-la em seus mistérios, em sua mitologia régia e divina. Falaríamos de um futuro onde algo que não supomos exista mesmo dentro de outros passados, pois o que nos leva a projetar enquanto seres pode ser o mesmo rebatimento de um universo que era oculto por uma outra História. A História como outra deusa, e o paganismo de versos supondo que mais um Shakespeare fora morar em uma montanha, mesmo daquelas verticalizadas fragmentariamente por palafitas cravadas em barrancos nos seus limites de terra.
            O êxodo se faz presente neste mundo imaginário, e a fusão das culturas torna as fronteiras meras portas de passagem, onde as lendas e mitos e seus ritos tornam-se razão de se compartir, em uma miríade de tolerância maravilhosa que tornaria o velho continente berço e pátria renovada do mundo...
            Assim é, de um roteiro imaginário que se traduza, pois não há o que dizer muito, já que a própria loucura encontra nos emblemas de todas as culturas do planeta a sua própria vanguarda de existir enquanto lucidez... Igualmente enquanto compreensão, que tudo muda na história ela mesma. Pedro canta uma pedra, e Lutero ergue uma muralha, mas que outros também, como uma flor desabrocha e pensa diversamente, e debate, e existe enquanto vem a abelha e a poliniza. Neste roteiro pensamos na alegria de um menino que em uma espécie de amparo secular vê a mesma flor e sente a sua presença ante os escombros cinzas de sua memória...

terça-feira, 8 de setembro de 2015

POR UMA CABAL NECESSIDADE

            Por uma questão existencial verte-se uma palavra em papel, ou quem sabe que fosse um de cristal, um leito de vidro em um monitor, já é suficiente... Não que se saiba muito, mas que se sabe um tanto já é um bom diferencial para aclarar um pouco a incerteza reinante. De uma experiência de vida, pessoal, esta que não precisa de rótulos para se saber de onde vem, pois torno anônimo o autor, seja ele eu ou outro, e que não haja resquícios de referências, pois aquele pode falar sobre mim, quem quer que eu seja hoje, depois de ter vivido algo ou algum tempo que sobrou para pontuar significado que sirva...         
            Todos caminham na terra, em diversas superfícies, quiçá até sobre seu próprio e sagrado tempo. Da mesma forma, estas letras caminham sobre os contextos de um homem, nos paradigmas do entendimento, ao regaço de uma mulher, nos desatinos, na ordem, no que há, no que existe como suporte, em se tratar mecanicamente que são apenas letras e por enquanto já vencemos por treze linhas. Pois bem, vencer o tempo atrás de significados pode ser um bom passatempo; pois que escrevam todos os que querem dizer algo, mesmo no poder que podemos usufruir em estarmos consonantes com o fato de estar acontecendo esse fenômeno em nossa consciência, agora tão consubstanciado nos flashies das redes. Que situemos nossa mente em algo mais linear, contínuo, pois a fragmentação da matéria só nos tornará mais uma medida sem peso na egolatria. A fragmentação da matéria só nos levará a não entendermos como são industriados os enormes produtos em escala de consumo e não adiantará muito focarmos nos pequenos empreendimentos que não nos façam entender os sistemas produtivos como um todo. Temos bebido a mass media como quem degusta da embriaguez o inexistente insight de não saber onde está o fio condutor dessa mesma indústria da cultura.
            Girar a roda significa rodar em torno de um eixo, apenas este se move no girar incessante de um motor ou uma tração qualquer. Decartes, ao inventar o sistema cartesiano cria a geometria como a conhecemos, em três eixos ortogonais, nomeados x, y e z. Não nos movemos através deles, mas seguimos em três propriedades do espaço: largura, altura e profundidade. No entanto, há a escala, a rotação e a posição no espaço, com todas as suas dimensões. Falarmos algo que transcenda isso é falarmos de técnica, falarmos de saltos qualitativos na compreensão da ciência, da produtividade e conhecimento, como em Newton que, mesmo depois da Relatividade de Einstein, continua sendo o mentor da física na aplicação produtiva em suas engenharias, e na compreensão de muitos fenômenos do mundo. São ressalvas feitas em planos gerais para que possamos entender programas como o Pronatec e sua importância para o Brasil. Temos gerado ótimos profissionais de ordem técnica como um resultado de investimento em grande parte de uma população que antes não referenciava a capacitação necessária para trabalhar e receber maiores ganhos em qualquer lugar, pois não havia a excelência necessária para o aprendizado nos sistemas públicos de ensino. Conhecer química, biologia, enfermagem, motores, sistemas hidráulicos, eletricidade, etc, sem precisar se formar na universidade e agregar valor substancial ao ganho, aliado a um grande programa de moradias populares vem trazendo um archote de esperança ao povo brasileiro e suas famílias. Pode-se ter a conotação de que deveríamos prezar mais pelas letras, mas certamente não há como construir um país de uma ação apenas, mas em um conjunto de medidas e planejamento a longo e médio prazos. Justo, a que precisemos erigir nossas bandeiras na igualdade social e melhorias para os mais carentes, está se delineando uma política econômica que tende a sentirmos os avanços a médio prazo, e a pressão da mídia faz com que se trave aos olhos daqueles que por ela são manipulados sequer uma conquista do bom governo de nossa Presidenta, Dilma Rousseff, a ponto de seu Vice – ele mesmo – acreditar em sua derrota, o que denota total falta de preparo ou coragem na política, em fazê-la honesta.
            Conhecemos ao longo da nossa história grandes personalidades partícipes, mas saibamos que há lideranças que não são vistas, assim como logicamente, em uma sociedade midiática hipócrita onde vivemos, há ações que mereceriam todo o destaque que não aparecem, pois seus agentes e tudo o que eles representam – ao depor contra o progresso brasileiro – continuam apostando no quanto pior melhor. E não pensem os que leem estas assertivas que estas não mereçam respeito, pois são fruto de uma sanidade intelectual conquistada a ferro e fogo, com muito respeito a todos, mas fruto de uma vida exemplar nestas últimas décadas. Já que temos que construir a memória de nós mesmos, darmos a nossa defesa, defendermos o processo democrático e apontar não apenas algum erro de subordinados, mas ações de Governo que merecem a devida atenção e respeito.
            Em um debate civilizado, todos possuem a sua voz, falam com respeito, aprendem a escutar, propõe dentro da liberdade em serem cidadãos partícipes, e lutam para que suas vidas melhorem a cada jornada, a cada esperança de que seus filhos em uma vida progressivamente melhor, ao verem os progenitores dentro da mesma esperança concreta que aglutina a atitude sóbria e consciente, compartem soluções e derrotas, mas sabendo construir, aos tijolos passados e alicerçados, as futuras fieiras que preparam e realizam os sonhos do povo do Brasil!