terça-feira, 11 de agosto de 2015

UM DIA DE UM NAVIO

            Quem dera, fantasiar que viajamos, singramos o mar, que o seja, quiçá uma ponta de realidade quando o que queremos é navegar... Pode até ser que o poeta disse a verdade quando navegar é preciso, que naveguemos nossa existência! Posto que a trilha sobre o oceano tem procelas, tem náufragos, isso é normal em uma casca de noz sobre um manto quase infinito e azul. Quando conosco mesmo conversamos, saibamos que não são as pausas, as vírgulas, seriam talvez uma parte de uma grande bússola onde aprumamos nossas razões em prosseguir ao prumo, em aportar nas realidades cotidianas, em saber que não estamos sozinhos, apenas por vezes mais distantes. Grande foi a obra de James Watt, a supor que em nossa casa das máquinas o navio se sustém desde então, com sua gigantesca hélice. A partir disso vencemos parte dos ventos, as ondas inquietas, mas o casco é forte para tanto... Mas que não encontremos o tufão, pois remontando a uma época mais moderna já o sabemos e não saímos do se aportar. Podemos saber que uma companheira vive ao lado de nossos destinos, e quem sabe sonhar com os seus olhares nas vezes que subimos ao convés e vemos as estrelas dando lugar à luz.
            A navegação é maravilhosa... É como escrever uma carta e colocar em uma garrafa, e esta sobreviver às rochas chegando à areia dentro do contexto de uma falena, que sorri discretamente em suas noites sabendo que o reflexo da lua contém na mesma garrafa seus significados internos. Mais até do que o navio onde lançamos a mensagem, está o coração de outras falenas que escutam as suas esperas no crescer de suas cobertas. Que estejam em proteção divina, assim como os pássaros que veem no movimento de peixes os reflexos das luzes das orlas, onde um homem verte seu cansaço no prazer de fumar uma pipa. Assim como os homens, sonhamos todos os bichos que igualmente somos, pois que se escreva como uma jaguatirica que deve estar olhando agora em uma floresta – supondo dia ou noite – os caminhos que a levam às vertentes de um riacho ainda intocado por nossas mãos. Quisera termos a ciência de navegarmos plenamente, mas sempre estaremos nas estações dos dias de todos os que estão dentro de coletivos igualmente, em procelas e sacrifícios, a ver que se é de letra saibamos que a palavra liberdade possui nove sagradas... Essa é a navegação do mundo, em estarmos meio que à deriva por vezes, mas sabendo que o leme tem sua própria ciência, mecânica, que seja, sagrada ou não, mas não se rompe jamais com o seu sentido de sentir a embarcação em seu mesmo significado de sempre, com suas idiossincrasias, seus modos de ser, e que há muitos desses barcos, percorrendo mares e mares e que – conforme disse um poeta – muitos nunca foram navegados, já que o infinito é apenas uma sombra de um simples despertar que faz uma frase alcançar a uma ilha que nos pareça alvissareira! Como se fosse de uma pausa, um remanso nos faz lançar alguma rede, e outras ondas nos oferecem as imagens de cardumes, quais veias de contentamento. 
           Parecendo que somos hoje um dia de um navio, e que esperemos que a serenidade nos abrace, que aplaquemos os maus sentimentos, que se é de alimento nos alimentamos de conhecimento, da paz de um oceano de bondade, de um justo alinhamento das estrelas, de uma bússola que mostra o norte sempre, de remos que não serão necessários, pois agora o motor está desligado e as velas com os seus ventos é que traçam o rumo e a navegabilidade que vá a algum lugar, e que nos deixemos levar. Até um ponto em que o navio pede que o aprumemos mais, a sentir algumas velas meio rotas, içadas em mastros mais cansados, mas que ligamos o motor que o barco anda, e outras máquinas tecerão outras velas no mesmo continente onde sabemos que estamos em uma costa de águas transparentes, onde os corais dão de suas presenças ao que encontremos até mesmo as plataformas onde suamos as nossas esperanças.
            Assim que o dia transcorre, e a noite de um navio chega à dimensão de seus próprios rumores, assim, de Natureza, quando respeitamos que nem todos os cardumes estão como fonte de algo, e que as letras já chegam no alcance inumerável de seus próprios caminhos, como uma carta que vai e o barco torna a trazer, o mesmo inumerável tempo em que sonhamos cada vez mais com melhores dias, e o tempo mostra que esse percurso não possui muitos segredos, apenas um bom leme que apruma silencioso dentro de uma vereda incansável de ondas que vêm pela proa a sentirmos que nas descidas por vezes a grande hélice sai da água, tal a força da procela. Inevitável, mas já vivida por barcos bem menores, em sua intenção de ao menos manter a tripulação acordada e distante do vinho, com seus odres que Quixote enfrentou em outras navegações!

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