Um dia que fosse, e estaria Ramon
mais complicado do que estava em outras épocas, igualmente endividado, mas
esperando que sua esposa não o abandonasse, conforme diuturnas ameaças veladas.
Sofria por seu próprio descompasso, mas não haveria como não perder esse
metrônomo existencial, pois sua vida já não empunhava o mesmo ritmo de antes...
A vida em si, como que encerrada em um parágrafo, não seria o suficiente em
qualquer descrição, mas de momentos efêmeros tirava suas conclusões. Claro
estaria que nada pudesse transtornar
mais o seu humor do que aqueles dias de incursões tão graves na natureza
humana, que se processava em continentes e continentes vários, estes de sua
própria cabeça, próprio igualmente do que via ou presenciava, em seus testemunhos
serenos mesmo em duros aprendizados... O que gostaria Ramon para si era apenas,
em sua conduta, o que esperava do próximo, na mesma igualdade de cidadania e
condições, sem preconceitos de classe, religião, etnias, pensamentos ou atitudes. Essa
questão da utopia, de algo que não constasse muito na sua realidade é que
chateava Mariana, sua esposa. Talvez o excesso de sonhos de seu marido a
exacerbasse de trabalho em que ele não focava muito, no de se ser atento,
deixar passar algum detalhe de casa, ou mesmo na incompreensão de alguns
desafetos. Mas que se acertassem as celeumas, os temperamentos ambos eram tais
que pareciam com rosa que nunca murchasse. De um modo algo simplificado,
reclamavam em seus olhares um pouco da tristeza de se amarem muito... Talvez não
fosse amor suficiente, mas a flor não emurchecia, brotava um contentamento às
vezes, afinal não seriam os melhores tempos aqueles, pois nada seria tão fácil
de mudar assim, como se fosse de rompante. Conviviam com suas duras realidades,
e o diálogo era às vezes pontual. Certo dia, ele a procurou em seus lençóis
para que falassem da vida, algo de depois, algo de cotidiano quebrado, uma
madrugada quebrada da labuta de ambos, em suas longas jornadas diárias:
- Pois sim, Mariana, estás com os
olhos tão semicerrados que eu não te adivinho mais... – Ele teimava em ser um
pouco sincrônico, e isso de ensaiar palavras esquisitas a colocava inquieta.
- Basta, meu caro esposo, estás te
quedando acelerado. Tenha a mesma ternura em dar um tempo na lógica!
- Não entendo, talvez fosse este
dia, não me apercebo de tudo, Mariana. Sei do amor gigante, mas não sei dos
detalhes desse amor.
- Reza que tenhas paciência, meu
amor... É assim que é a vida, nem sempre a compreendemos, somos muito minúsculos
em suas frentes, em nossas percepções, nosso carinho com ela devia ser mais
atento, apenas penso assim.
- Quem dera fossemos algo mais do
que as pernas que se cruzem na vastidão de um começo de noite...
- E que me venhas com sempre de poética.
Me faz bem! – Mariana o provocava com pequenos beijos, e o diálogo verbal
sucumbia a mais de se amar, como o sonho de um poeta solitário que busca fazer
amor com palavras...
E os dias transcorriam de um modo de
um agosto conturbado por um pouco, de outra feita algo previsível, pois nesses
tempos os is tinham seus pingos em cada qual e não se precisava de carapuças,
pois as máscaras já estavam prontas no grande teatro, em que a vilania não era
a mostrada na televisão, mas esta mesma, a vilã maior. Não de máquina, mas de
escoadouro pura e simples de concessão de mídia. Essa era a vilã que não se
escondia, parecia que fazia o seu papel, e Ramon apenas era vitimado, um pouco
que fosse, pois trabalhava como jornalista e, como mero empregado, tinha que
fazer vista grossa a todas as misérias da farsa do material jornalístico. Já
era agosto, e qualquer pensar opinioso mais livre de sua parte recebia cortes
da censura de sua empresa, que pensava exatamente contra o progresso social de
seu país.
Sabia ele que era uma rede grande,
um grande monopólio de comunicação, sabia ser uma máfia comunicacional, não
passava disso e das concorrentes – todas – depondo contra o andamento
constitucional da livre opinião dentro do contexto da expressão profissional do
que pensava ser um jornalismo coerente. Não se contestava, e o Governo
Presidencial se travava nesse óbice gigante, caracterizado como um outro poder
dentro do país continental.
Pausa dada, pausa continuada, pois
muitos já pensavam assim, mas o sistema os engolia e todos os outros engoliam
igualmente no mundo ocidental, com uma crise recorrente e ódios que surgiam de
poucas conveniências desses pequenos estopins inquisitórios. Na verdade, a nação
estava em jogo, como em um dado lançado, e assim pensavam muitos, rogando que estivesse
pior o panorama para desfechar suas tentativas de golpe e, evidentemente, a
tomada de consciência vinha por entrever por dentro das mesmas invectivas
declaradamente malfeitoras que participavam desses quadrantes do poder da
comunicação, deitando por terra as mesmas tentativas e fortalecendo no viés as
correntes mais progressistas. Seria um mês de derrota dessas tentativas infames
e o dado tinha dado seis no jogo, facilitando em mais um round vitorioso dos
patriotas, pois a elite branca mais uma vez dava de sua presença alicerçada em
seus quadradinhos de brinquedo, mostrando que já não possuíam força, e a
mudança continuada por instante de pausa continuaria sempre, nesse longo
processo de democracia, antes propriamente pela palavra, agora agregada da
palavra participativa, em que os laços entre a cúpula do poder estreitavam com
seus movimentos sociais, e essa mesma elite branca estamparia os jornais do
mundo com uma realidade vergonhosa de participação inequívoca no cenário da
anti-história da nação
brasileira. Esses estranhos capítulos onde o que se quer é ganhar sem precedência
em todos os casos, mantendo níveis de aproximação com injustiças sociais
imensas, como imersão nas profundezas do atraso histórico. E a juventude já não
entrava nessas questões, pois havia juventude mais esclarecida, apesar de
retrocessos atávicos nas gerações que recrudesciam das catervas... De pequenas
vitórias a vitórias maiores, assim seria o processo histórico onde, por incrível
que pareça, não houvesse água não se contestava o Governo Regional responsável,
na terra que secara, e que não se imputava culpa nesse planejamento, de prevenção
– anterior – extremamente importante.
O sonho da paz, companheiros, passa
por lutas que nunca são as mesmas, pois só haverá uma receita histórica quando
compreendamos que, em cada revolução tecnológica, os meios mudam suas
complexidades em termos de engenharia e arte... E a Natureza entra como
maestrina a acompanhar nem tão silenciosamente a ligação absolutamente necessária
entre ela, os motores fabris, a arte, a cultura como um todo, e o respeito étnico
e social como base de todas as estruturas, onde não há como integrar tudo, pois
suas contradições necessariamente existentes mostram que jamais seremos
estanques em mudar o mundo, pois este é dinâmico e mutável como a água: ela
mesma um retrato do que vimos produzindo para nós mesmos, em que todos tenhamos
– para começar – o mesmo direito a ela e suas funções.
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