quarta-feira, 5 de agosto de 2015

DESPERTAR DE UM HOMEM

            Escutei a noite como um chamado tardio em que dela estivesse distante. Talvez o tenha feito sem saber se sonhava, ou se uma vigília me descartava enquanto ser que não a mais vivera, do que apenas dormir de um sono que me parecia secular. Mas na verdade eram apenas horas em que tudo se definia como um intervalo apenas numérico, substantivo do próprio tempo, porém progressivo nos dias subsequentes. Lera na noite anterior um texto religioso aos quais textos eu já habituara nesses costumes espirituais de buscar minhas referências nos Vedas que sempre me surpreendiam e me faziam pensar em Prabhupada como um santo que me ajudava a despertar em cada noite ao que se aproximasse o dia, de um dia bom...
            Bem desperto, abri um livro em italiano sobre arte, e soubera ao menos compreender alguns parágrafos que, em seus silêncios de estante apenas ajudavam-me a alinhavar meus pensamentos, dando a minha tão premente retaguarda intelectual. Desse mesmo modo em que o prazer se torna menos previsível do que o gozo sexual, passível de existir coito, a que não me disporia facilmente, pois que me bastassem para isso os anos de minha juventude. O prazer que obtinha na arte me mantinha sereno, e a esse princípio de prazer eu o poderia mesclar com o princípio de realidade... Pois, como se me revelasse o dia, as letras poderiam ser meu universo, ou mesmo algo que torna próximo o infinito. Não haveria que prover de um ideário, pois a postura de quem escreve muitas vezes depende de um ponto de vista mais raro, ou quase impossivelmente raro, tornando a vida nessa simbólica acepção o convexamente útil, quando se trata de cidadania, infelizmente. Infelizmente no quadrante que tem limitado a mesma cidadania daqueles que continuam a ser discriminados por serem pobres ou loucos. Esse acordar-se era saber que poderíamos contestar mais profundamente essas questões, como imperativas de um quilate de decência humana.
            Como se soubesse de teor a ser pronunciado como fato, apenas reportava a mim mesmo e outros poucos um quasar suficiente de luzes, ínfimo como a areia e seu grão, no entanto um grão mesclado ao sol. Esse era o despertar meu e próprio que fossem outros os de outras gentes, a saber, que o propósito da lucidez passa pelo seu exercício cidadão!

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