segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O PLANO DAS DIMENSÕES

            Seria fácil despontar como algo que prevemos como fácil, facilitando o próprio crescer do significado, mas por outro lado, um enfermo em doses mentais deveria descrever os rumos de sua lógica. Será isso mesmo de máxima importância? Em que dimensões vivem aqueles que são discriminados por esse fato, quais não sejam seres que apenas querem viver com a harmonia tão necessária da ausência de contendas?...
            É difícil combater o preconceito contra os doentes mentais, pois este se reveste de uma tênue ferrugem onde o que pensam ser o bem por vezes é algo assustadoramente equivocado. Nas séries de televisão vemos recorrentemente o fato de alguém que seja paciente psiquiátrico definir trágicas trajetórias, como exemplo de bárbaros crimes, talvez pelo tabu em que a sociedade revela como incompreensível o universo e a complexidade da existência desse tipo de enfermidade, tabu este que na verdade apenas interessa à indústria cultural no seu aspecto produtivo a respeito do que deva ou não ser interessante do ponto de vista comercial. Isso descarta da cidadania e segrega como anormais na convivência em sociedade essa fatia considerável das populações vulneráveis que desejam profundamente a tolerância e sociabilidade.
            É sempre mais fácil mirar o mais fraco, quando este não possui ainda direitos cidadãos franca e amplamente estabelecidos... Há que se reiterar que recorre o fato de que quase sempre ainda não possuímos mecanismos de defesa para preservar os direitos e respeitos suficientes a essa categoria social, e suas frágeis patologias, mesmo sabendo que foi sob a administração do atual governo federal que a luta de emancipação dessa gente fincou raízes mais fortes, como a luta antimanicomial, os CAPs e a cobertura do SUS, como um todo, como a distribuição das medicações gratuitamente.
            Como portadores e usuários, sempre levamos em conta que é uma luta diária em se propor estar bem com o entorno – por vezes assaz ofensivo – e as idiossincrasias que podem dificultar aos ditos normais um respeito digno a quaisquer cidadãos que portam algum transtorno psíquico, mas que enfrentam sérios problemas existenciais pela falta de compreensão do próximo.
            Tornar esse diálogo em amplas frentes e debates seria muito salutar e muitos têm sido os guerreiros dessa luta, pois há que se solucionar de modo humano e lúcido a questão da doença mental e sua recorrência na sociedade contemporânea: suas causas, a compreensão dos familiares e amigos, os modos de se tratar, a não internação compulsória, e a estabilidade na inserção tão dificultosa em trabalho e geração de renda. Essa luta social poderia não ser estancada pelo preconceito que trava as suas raízes, mas segue a proposta de união de frentes onde um tipo de cooperação seria de boa valia para comercializar algo de arte ou artesanato em oficinas de trabalho e desenvolvimento da conscientização dessa classe.
            Segue a proposta, pois a continuidade responsável do próprio doente mental encontrará o bom rumo quando este sentir que nos seus familiares, colegas, os seus aparentemente inimigos internos, as suas limitações, encontrarem em sua própria força motivadora e solidária um palco salutar para que desenvolva muito do que se desaprendeu, ou aprenda muito do que ainda se desconhece...

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