A quem endereçaria uma linha que
principia no se dizer do muito a que temos por uma questão humana? Uma carta
bastaria? A amizade é algo pra se guardar dentro do peito, como diria a canção...
Não é troca de experiências, não é motivo de falso orgulho, pois se um homem
descreve algo da realidade de sua vida, seria razão para contatos mais
concretos. Não há que se dizer que a enfermidade possui linha reta. Para mim,
basta ser amigo de Krsna. Apenas isso me basta, de tudo o que já enfrentei,
basta como refúgio iridescente de meu espírito. Começo algo prolixamente, mas
desfio um rosário de minha própria simplicidade enquanto homem. Não desejo
mulheres nem vinho, não desejo maiores prazeres que não seja servir com
humildade os desígnios a mim impostos pela natureza divina ao Senhor Supremo. Não
que para isso tenha que convencer alguém, mas só encontro a paz dentro de meu
Paramatma em consciência. Falaria longas horas a alguém que quisesse estar
igualmente mais desperto, mas sei que por vezes o deserto é imenso para um
punhado de areia, ou de sementes, quando possuímos a sorte de tê-las em nossas mãos.
Conheci vários devotos em minha
senda espiritual, e chego a um ponto em que não especulo mais a respeito de uma
natureza material que só encontra seus reflexos nas lutas que se processam para
obtenção de poderes, suas manutenções, seus hipócritas jogos, seus interesses,
e me parece que – antes de comprovar nos diálogos inevitáveis – todos estão
torcendo para perder ou ganhar nesse campo, ou lucrar, ou apegar-se
gigantescamente aos sentidos, numa busca em que não me encontro e nem quero, não
tenho ganas disso tudo... Lembro-me de pessoas que combateram a hipocrisia, que
não possuíam preconceitos de nenhuma ordem, lembro-me de pessoas que estão
presentes em lutas verdadeiras e, à simples lembrança desses heróis, faço-me
crer que – mesmo tendo limitações em minhas liberdades – sou um homem feliz e
realizado como poucos, pois aprendi a contemplar muito antes disso virar moda.
Não sento na posição de lótus e olho para o Tao, mas compreendo que a física se
aproxima do oriente, e que a Índia é um país muito mais importante do que os
EUA, pois enquanto um é o berço da espiritualidade no planeta, o outro é campeão
em guerras, violências e mortandades, além de ser a nação que incentiva cada
vez mais a morte de animais para experiência e fast foods industriais. Prabhupada tentou levar a consciência de
Deus a partir dessa nação, mas talvez não esperasse que o berço do imperialismo
contemporâneo visse a si mesmo no trágico desfecho que agora se processa,
juntamente com a crise global da União Europeia e todos os seus aliados, que
permitem o apartheid que se sabe há muito em território de toda a Palestina
ocupada.
Portanto, creio que o momento é de
profunda reflexão, e não poderia jamais dizer algo a alguns amigos queridos que
não fosse real da minha relação com a própria vida, pois – que se saiba – apenas
desta que a própria surge. Relato que surjo com a minha vida a cada instante
que me caiba, e que continuo apaixonado por tudo que seja da bondade, pois
ainda acredito que é nessa plataforma que conhecemos mais profundamente o que
quer que seja, posto filosofica, religiosa ou existencialmente... Sigo em
Bhakti, não sou um devoto exemplar pois ainda como carne, mas espero que a
humanidade alcance sua razão de melhorar humanisticamente as angústias que
assolam o coração dos aflitos, e para isso, creiam-me, o mundo tem que
socializar um pouco a sua visão como um todo, se não, é impossível ser feliz. O
processo de se conhecer alguém não se dá através de encontros fortuitos,
justamente quando esse alguém possui mais vivência do que a pecha imposta de que
esta pessoa seja enferma, já que a luz nem sempre é confortável...
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