sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O JOGO REVERSO


          Nada do que pensamos é por si só o resultado algo numérico de um jogo disputado. Podemos crer que o jogo tenha um desfecho, que jogar seja autoria de um reflexo sistemático, mas o jogo em si não coaduna com o mesmo resultado. Se tanto é de se esperar que um jogo simplificadamente escolha por mérito um vencedor, haveremos de apontar em uma máquina quase inteligente como o computador o contendor mais imediato desse mesmo resultado. Assim procede jogar, e quem assim o faz remonta que seja mais inteligente do que no si mesmo, na crítica lógica que precede qualquer atitude ou ação. Nas primeiras atitudes de um bom jogador vemos uma análise continuada de todos os atores circunstantes, na esfera de um espaço criado, nos nichos em que nos encontramos e na sociabilidade quase efêmera que circunscreve o espaço citado, a bem dizer, onde somos encontrados, quando não necessariamente nos procurem.
          Em quaisquer latitudes e longitudes, o GPS remonta o que o astrolábio faria em outras épocas, e a internet é o resultado majorado do telégrafo do século XIX. As mudanças ocorridas há dois séculos são resultados de avanços gigantescos que vêm depois de milênios, onde o cavalo era o transporte, e as ferrovias não existiam. Os navios antigos navegavam com os ventos, e os a vapor vieram para transportar cargas jamais vistas antes. Na variante do nosso novo milênio, historicamente não houve mudanças similares a tanto. Portanto, a grande revolução industrial foi a do século XIX, sem sombra de dúvidas. A internet passa a ser um telégrafo melhorado, e a indústria dos games passa a ser o recrudescimento da ilusão sobre a modalidade do jogo. O que antes era a caça à raposa, ao vivo e à cores, basta hoje na tela de um computador como um game melhorado, mas não especificamente dentro de uma mudança estrutural, posto jogo como tal.
          A afirmação de que nos tempos atuais a economia é moderna, repõe no caudal de pretensas transformações de que efetivamente o neoliberalismo seja coisa do futuro. Basta lançar as cartas. Estas foram remetidas desde Adam Smith, prosseguindo hoje como uma reversão histórica da linguagem dos fatos. Estruturalmente o jogo prossegue, mas com regras distintas da atualização histórica, com frentes que estimulam os sentidos, como Pavlov previu nos seus estudos do condicionamento humano, experimentado com ratos. Passamos a consumir sem cautela, passamos a gastar somas excedentes por inclusão de classe, passamos a viver com o estigma de um hedonismo como a premiação do homo ludens, o novo parâmetro do lúdico e divertido encarte psicotronico do comportamento, quando este passa por fases quiçá mais conscientes. A diversão toma conta do cenário, e os atores brincam de interagir, onde um perfil algo ilusório alimenta a retroalimentação do ser “curtido”, na mesma vertente, rara em negócios, quando frente a frente com o ego falso.
           A realocação da concretude do ser, de se estar consonante com um bom sistema, que funcione, que gire, que dê amparo, começa a fazer funcionar o status peremptório das competências que emergem das classes em seus pontos de vistas. Esse enquadramento possível passa a ser o segredo de se mesclar em diálogos profundos, na vida de cada qual, quanto na ausência do jogo da hipocrisia, reverso e recusável, por iniciativa do bom senso. Esse gradual espaço gera a continente forma de se pertencer a um futuro mais grandioso, onde a interatividade com os pares desiguais remontem o operativo cabal de se estar generosamente abrindo-se um mesmo espaço para diálogos que não necessariamente pertençam a uma formalidade de pré conceitos, ou pré julgamentos, onde o juízo de valores faça a pertencer intrinsecamente ao indivíduo ou à coletividade um consenso.

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