Seremos livres enquanto se produz uma contradição, a saber, que
nossas limitações muitas vezes nos colocam frente a frente com nós
mesmos. A noção literal da liberdade depende quiçá do que
entendemos por livre uma minoria, quando o que queremos é consumir,
copular e ir de um lugar ao outro, apesar de muitos encontrarem a
liberdade na opinião que tenham, na expressão livre, justamente sem
se aperceberem do quilate em questão… Se porventura tenhamos lido
bons livros desde cedo a oportunidade de se expressar, mesmo em
relação à arte, quando se tem oportunidades para tanto, da
pintura, da escultura, da filosofia, poética, ou mesmo em uma visão
que se permita crítica em relação a alguma postura, isso denota um
certo esforço, um estudo continuado, preparando o ser criativo para
existir sempre essa possibilidade. Agora, aqueles que não possuem a
menor oportunidade para tal demanda criativa, que sempre foram
explorados, que vivem em situação de pobreza extrema, é muito raro
que nessas condições degradantes desponte um talento. Isso, esse
pequeno e grande paradoxo existencial é tarefa constitucional, ou
seja, permitir acesso, boa educação, boa saúde, sem saber ao certo
que estamos restringindo a leitura de uma vida ao perfil restritivo
do não pensamento, do não expressar-se, do não, da negativa, ao
menos que o seu lado positivo fosse o simples trabalho e seu ganho
garantido, digno e bem remunerado.
Não sacudimos o mundo se não formos exemplares. O ganho social de
uma criança é que possua acesso e tempo à leitura, às artes e à
educação como um todo e grande na proporção em que as gerações
se sucedam com a identidade cultural necessária a se aprofundar a
vivência comunitária, em suas bases de sustentação, na
consciência do que é fazer parte de um coletivo que avance em
estruturas psíquicas sólidas, em uma liberdade que não seja de
poucos, pois quando o egoísmo de alguns é gigante conforme seus
privilégios, muitos deixam de ser livres para sustentar o estado de
coisas que bem conhecemos em nossos países de terceiro mundo. Essas
são questões de lógica irrefutável, porquanto um governo qualquer
nunca deixará de ao menos tentar ser maior nas suas lides de
popularidade, conclamando ao povo de todo um país a vertente de sua
– por vezes pretensa – administração. Um caso de dois mais
dois, resultando em um quatro, irrefutável. Nas vezes em que a
matemática atua, a democracia se traduz no voto, numérico,
irrepreensível. Essa matemática se traduz igualmente em leis,
artigos e parágrafos. Essas leis alimentam um sistema que gira como
uma bela engrenagem, e as conquistas da sociedade como um todo
perfazem o andamento daquilo citado acima, a existência da
Democracia, como deve ser, e como se faz governar positivamente
aquele que age conforme às leis da Constituição. Simples como deve
ser, na conclusão imediata de estar-se incluindo mais e mais as
populações carentes a um modo de vida melhor, mais satisfatório,
mais, portanto, inclusivo. O Poder emana do povo e por sua
representação é exercido. Assim um mandatário deva obedecer na
mesma Ordem que o coloca à frente de seu eleitorado, e à frente do
restante da população, representando todo o povo de uma nação, e
não apenas um grupo ou uma casta política.
Na lucidez de um homem ou de uma mulher, deve estar a preocupação
de permitir que sejam livres todos os cidadãos de uma nação,
começando de baixo para cima, nas suas reivindicações justas e no
rematado meio de se saber conforme uma governabilidade coerente e
preocupada com os avanços sociais. Não deva importar muito quem
está no Poder, mas sim na consecução da justiça social como
motivo fundamental para a construção plena e livre da soberania
nacional.
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