domingo, 24 de novembro de 2019

LIBERDADE SELETIVA


           Seremos livres enquanto se produz uma contradição, a saber, que nossas limitações muitas vezes nos colocam frente a frente com nós mesmos. A noção literal da liberdade depende quiçá do que entendemos por livre uma minoria, quando o que queremos é consumir, copular e ir de um lugar ao outro, apesar de muitos encontrarem a liberdade na opinião que tenham, na expressão livre, justamente sem se aperceberem do quilate em questão… Se porventura tenhamos lido bons livros desde cedo a oportunidade de se expressar, mesmo em relação à arte, quando se tem oportunidades para tanto, da pintura, da escultura, da filosofia, poética, ou mesmo em uma visão que se permita crítica em relação a alguma postura, isso denota um certo esforço, um estudo continuado, preparando o ser criativo para existir sempre essa possibilidade. Agora, aqueles que não possuem a menor oportunidade para tal demanda criativa, que sempre foram explorados, que vivem em situação de pobreza extrema, é muito raro que nessas condições degradantes desponte um talento. Isso, esse pequeno e grande paradoxo existencial é tarefa constitucional, ou seja, permitir acesso, boa educação, boa saúde, sem saber ao certo que estamos restringindo a leitura de uma vida ao perfil restritivo do não pensamento, do não expressar-se, do não, da negativa, ao menos que o seu lado positivo fosse o simples trabalho e seu ganho garantido, digno e bem remunerado.
         Não sacudimos o mundo se não formos exemplares. O ganho social de uma criança é que possua acesso e tempo à leitura, às artes e à educação como um todo e grande na proporção em que as gerações se sucedam com a identidade cultural necessária a se aprofundar a vivência comunitária, em suas bases de sustentação, na consciência do que é fazer parte de um coletivo que avance em estruturas psíquicas sólidas, em uma liberdade que não seja de poucos, pois quando o egoísmo de alguns é gigante conforme seus privilégios, muitos deixam de ser livres para sustentar o estado de coisas que bem conhecemos em nossos países de terceiro mundo. Essas são questões de lógica irrefutável, porquanto um governo qualquer nunca deixará de ao menos tentar ser maior nas suas lides de popularidade, conclamando ao povo de todo um país a vertente de sua – por vezes pretensa – administração. Um caso de dois mais dois, resultando em um quatro, irrefutável. Nas vezes em que a matemática atua, a democracia se traduz no voto, numérico, irrepreensível. Essa matemática se traduz igualmente em leis, artigos e parágrafos. Essas leis alimentam um sistema que gira como uma bela engrenagem, e as conquistas da sociedade como um todo perfazem o andamento daquilo citado acima, a existência da Democracia, como deve ser, e como se faz governar positivamente aquele que age conforme às leis da Constituição. Simples como deve ser, na conclusão imediata de estar-se incluindo mais e mais as populações carentes a um modo de vida melhor, mais satisfatório, mais, portanto, inclusivo. O Poder emana do povo e por sua representação é exercido. Assim um mandatário deva obedecer na mesma Ordem que o coloca à frente de seu eleitorado, e à frente do restante da população, representando todo o povo de uma nação, e não apenas um grupo ou uma casta política.
          Na lucidez de um homem ou de uma mulher, deve estar a preocupação de permitir que sejam livres todos os cidadãos de uma nação, começando de baixo para cima, nas suas reivindicações justas e no rematado meio de se saber conforme uma governabilidade coerente e preocupada com os avanços sociais. Não deva importar muito quem está no Poder, mas sim na consecução da justiça social como motivo fundamental para a construção plena e livre da soberania nacional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário