sexta-feira, 19 de abril de 2019

O NECESSÁRIO NAVEGAR



Vem-nos algo de alguma parte, uma mensagem, um torto descaso
No que não se pensa muito, no que não consideremos afronta,
Posto por detrás de uma assertiva qualquer pode residir sua negação.

Vem em quilate quase sincero, vem no andar de uma alta carruagem,
Como uma pepita falsa que não se sabe nem mesmo se teria valor
Quando se apresenta de modo conforme a dança de uma realidade!

A fúria real, o sacrifício sem fruto dos tolos, um trabalho de antes
Quanto de se saber que o que anda no mar não anda na terra…

Ver-se-á um navio milenar, um barco gigante sem proa, sem quilha
Com um leme de escota, meio vela meio corda, a si em seus meios
Dos quadrantes de um oceano que verte quase em uma Terra Oca!

Não se possa creditar qualquer absurdo, pois o conhecer é navegação
Dos poucos que se dignam ao estudo árido com sua causa e efeito
Nas vertentes do que não se realiza em integridade, mas gera o suor.

Mas que eis que somos mais, na metade de uma existência, a ver
Que muitos sossobram no seu cadinho de melancolia de uma vida
Quando não se obtém a frase esculpida com caneta em um bloco
No significado de um versículo que a Bíblia esqueceu deitado.

Resta carregar um peso como uma formiga, como um homem tornado
Um grande carregador de pesos que não valeriam tanto se tal não fora
A moeda de um gigante, frente a um vintém de um pequeno outro homem!

Verte-se no descaso da aurora o prazer indescritível do poeta, frente
A um oficiar um tanto de sua vida com o pressuposto de querer ao menos
Que se frima o tempo qual atrito do sol com a crista da vaga oceânica.

Nada do que se quisesse dizer seria a responsabilidade que urgiria a arte,
E, no entanto, como um estranho depender a sua válvula dá o escape necessário
A que na verdade outrora não haveria sequer a compreensão de um fato velado.

Pois que o segredo em navegar em terra não seja a exclusão de um ente e ser
Qual não fora as duas coisas que em tese não descarta sequer a possibilidade
De que no ser o ente sobreviva em seu espírito de devoto que não cai jamais.

Resta saber a latitude de um verso, o nome que não se deu a qualquer desdita
Qual não fosse ajustar o rumo e inflar a buja no descarte de não estar como os nós
Sem a navegabilidade presente, pois sua ausência só perfaz um cabo tormentoso!

Assim, se a história nos contasse algo, que fosse ao menos a versão mais discreta
Do que seria a verdade a que muitos não a creem, e que sinais pressupostos
Nem sempre indicam uma caminhada segura no fato concreto de singrar a água.

Uma letra negra em fundo cinza tece a miríade de cores alternas, sob a superfície
Da tinta mesma da poesia, onde seus papéis residem na aurora da celulose
Abraçando o caudal de um leito de uma tela na letra em que Manutius aproveitasse.

Assim que se dizer, de um renascimento em que Botticelli inundasse de Vênus
Todos os rincões que vissem brotar do amor realizado na pintura, a mulher que não há
Muito de se dizer em um mundo que depois de século as faz como guerreiras em paz.

Nas nossas escotilhas de barcos sagrados, vemos por vezes uma semente que surge
No recurso de um devoto, ao semeá-la no segredo de uma virtude quase encoberta
Por um véu denso de escuridão onde nem mesmo Rudra saberia lidar com esse viés.

Nada do que se perfaz em todos os perigos aparentes da vida não possuam relações
Com o que se espera de uma Era em que as coisas não sejam mais tão promissoras
Mas igualmente que Caitanya nos reserva ainda algum milênios de luz, se soubermos!

A saber, que a divindade já se mostrou como o Filho do Homem, veio à Terra e legou
Os ensinamentos aos apóstolos, vertendo esperança aos pobres e fracos e humildes,
Trazendo à tona os verdugos do império, qual não fosse, iluminando o calcinado.

Mesmo que se soubesse que os erros não devam mais ser cometidos, a Terra alcança
Um perímetro dinâmico que atravessa os próprios sinais de suas destruições desmedidas
Nas auroras que a todo o tempo, em mais um e mais um dia, surgem, tácitas e soberanas.

Àqueles que carregam seus sofrimentos e inquietações, se possa levar a luz de quem está
Com archotes em seu poder, para dirimir dúvidas, e sentir que a mesma humanidade crua
De algumas propostas em progresso, possa evitar ao menos os regressos da malevolência.

E assim navegar, com quem leva com carinho seu barco, um meio qualquer que nos fale
A uma bússola nem tão necessária, posto quem carrega um grande motor de centro
Não falta com a prerrogativa de estar navegando na pureza de um mar auspicioso…

E na beleza da bondade como grande timão, a Verdade seja a consubstanciação
Dos atos que nos dizem como se guiar perante a vastidão de milhões de estrelas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário