quarta-feira, 3 de abril de 2019

MUTATIS MUTANDIS


        Nada teria que ver com uma importância de saber-se quando Anselmo houve de aprender a geometria. Nada teria muito que ver, mas, na verdade, este quadrante do conhecimento merecia sua atenção, visto ser ele de mente engenhosa, ainda que nada pragmática. Partia do princípio de uma forma primitiva, a bem se dizer de um cubo, pois este poderia virar um plano, ou mais subtraído em uma face, uma aresta, ou mesmo um simples vértice. No desenho bidimensional, não se sairia muito do plano, bem dizendo, que este estivesse no universo de três pontos. Mas sempre Anselmo vinha com sua mania de querer alcançar a geometria em 3D (três dimensões). Começaria a construir sua construção poligonal com a extrusão das faces adicionadas em cada face do cubo. Como o quadriculando, para depois fazer emergir da forma outros cubos, tornando mais complexo o cubo matriz, original. Assim fosse um bairro, onde as quadras seriam formadas por planos na dimensão da área da construção, em sua maior parte os prédios e onde em uma profusão de estilos padronizados, fosse dada a extrusão na devida altura no software – de preferência livre – que permitisse a modelagem de uma área complexa em seus cubos, detalhes e nichos. Um bom software como o Blender permite esse planejar o espaço tridimensional, virtualmente, mas com as respostas mais correspondentes com a realidade e a funcionalidade volumétrica do mesmo espaço. Nesse software há três elementos constitutivos da cena: luz, objeto e câmera. Afora isso, uma timeline – linha do tempo – que concorda maravilhosamente com a animação, onde a simulação é perfeitamente viável, podendo-se animar as luzes, os objetos e as câmeras, tornando arquitetonicamente a harmonia própria de um filme, onde o protagonista é aquele que, tal como um piloto, saiba manejar os instrumentos de controle e geração não apenas de novas geometrias, como igualmente da colocação e modelagem de ordem orgânica, tais como caracteres mais arredondados e definições de detalhamentos do mesh, ou malha poligonal. Essa é uma ciência vasta, e domina mitos do entretenimento, de simuladores, de treinamentos e posicionamentos táticos. O controle e o know how desse entender-se o espaço coloca-nos frente a frente com a tecnologia no simples piscar de um download gratuito e na solidária orientação de um professor.
         Diversas são as ferramentas onde o operador, ou melhor dizendo, aquele que dirige qualquer projeto da área, eximindo-se solitários sem equipes, pode em mecanismos de pesquisa de alto nível estabelecer estruturas de comandos onde a inteligência e a criação de um drone, por exemplo, traz em si o simples posicionamento em uma estrutura urbana, sua malha viária e, mais uma vez, a compreensão da confecção de um espaço. Mesmo porque fechar uma possibilidade espacial é contraproducente, e permitir que se abram espaços na inteligência de uma potencial habilidade humana é por seu lado o fator positivo que deve mover não apenas a arte de entretenimento como o desenvolvimento estratégico de valor agregado de engenho do homem, da mulher e dos jovens que certamente fascinam-se pela possibilidade de estar em um projeto de computação gráfica. Isso é tão certo como uma foto em que se tem a possibilidade – ao menos com uma câmera semi profissional – de fechar a imagem de modo em que nitidamente se veja o detalhe de uma cor, da folha de uma planta, de uma boa e nítida composição, do equilíbrio suspenso, ou de evidências em outros usos.
Assim com na ciência e arte da computação gráfica e suas técnicas, as possibilidades de uma boa literatura compreende a eficácia em lermos com outros olhos o desvendar humano sobre a Natureza. Esta possui em si uma dialética – compreenda-se que esse termo tem sua exatidão semântica aqui empregado – em que da construção que se parta de seus elementos, ou mesmo compreendendo-se aquela em que o uno se divide e volta a se tornar o uno, o reflexo do que nossos sentidos exatos como a referência humana percebe, retratamos ou copiamos os nossos mais introjetados e complexos veios expressivos da própria Natureza supracitada, que é o que ou onde estamos, e será para sempre onde vamos no futuro. Há que a resguardar, logicamente. Se, por exemplo, um míssil teleguiado fosse ter como alvo um lugar de uma floresta, certamente a destruição seria na carne da selva, ou seja, a paradoxa questão de se atingir um alvo humano e levar a Natureza em suas feridas abertas pela guerra. Portanto, nesse quesito, devemos virar a página e esquecer esses tipos de traumas em selvas há muito tempo tidas como patrimônios da humanidade.
        Cabe observar, no entanto, que por incrível que pareça a destruição vira já o grande padrão da humanidade, ou de uma parte dela que decide a bel prazer o destino de toda uma gente, de muitas cidades, da desigualdade extrema e das efetivas guerras e suas tensões decorrentes ao redor de nosso mundo. Que costumeiramente dizemos nosso, mas parece que há nuvens que caem do céu e carregam os pertences de muitos, e há paraísos na Terra que são engolidos pelos tsunamis. O nosso já não responde tanto por propriedade, e é de A mais B que quando estivermos aqui daqui a trinta ou cinquenta anos quiça tenhamos que viver nas montanhas, com rios esgotados por minerais, e a água da chuva como vaticínio do bem! Se é que a humanidade não possa retroagir com sua crítica, antes de investir pesadamente com o hedonismo global, a busca incessante pelos píncaros do prazer, ou a criteriosa e simples questão de ser aceito como se não fosse, um perfil atraente, ou a modalidade máxima do consumo.
          Que se tenha em voga ao menos um olhar mais curto, que saia do espectro de natureza muito ampla, e que revisitemos as notícias de vanguarda, em seu paradoxal oposto, que seriam aquela que dão a sustentação mais imediata de nosso entorno, casa, rua, bairro e cidades. A cada um o seu trânsito, sem nos preocuparmos muito com pressões verticais, posto o emergir opinioso construtivo dentro da própria comunidade onde se habita reflete um jardim sereno que gostamos de cuidar, e tecnologicamente podemos ainda construir com inteligência os recursos para se ter a segurança necessária a esse mesmo resguardo, ampliado por várias outras comunidades mais carentes, repetindo, na dialética da expressividade alternativa com os meios que tenhamos às mãos, como uma caneta e um papel, ou mesmo a substância da tecnologia de ponta, mas sem esquecermos que nada tenha que ser um substituto anulador de outro meio mais antigo, pois a habilidade mental traça no papel o mesmo triângulo que está contido dentro de um plano, restando a compreensão de que tudo o que teve origem em um papel também está contido dentro da mente cognata, apesar de às vezes não sermos muito estáveis com certas definições do que seja a educação, e esperarmos as garantias da medicina e da segurança pública.

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