O que nos
espera – de tanto se esperar – por sobre quase o dilúvio de nossas atmosferas?
Talvez não se devesse pensar a tanto, mas o que suporta a vida é justamente – a
cada qual – sua percepção, seu entendimento. Cabe a uma formiga pensar de seu
próprio lado, algo coletivo, mas a nós essa acepção não é concreta... Se o ser
caminha, se organiza, carrega imensos fardos, salva um parceiro ferido,
reproduz-se sabendo o que faz, a seu modo, quem somos nós a parecermos mais
inteligentes como espécie nesse estranho ninho que é o planeta? Por vezes parecemos
que somos sobras, que uma imensa massa humana vive nas ruas, sem fardos
valiosos para carregar, garimpando latinhas de alumínio, adoecendo, mendigando,
vivendo em meio às drogas, vendendo seu corpo ou para modais sexuais ou para
trabalhos insanos. O que seria melhor para essa verdadeira massa de população?
Viver com sua memória indígena em camas de cimento para a colheita da cana
perto da aldeia invadida, vendo a irmã prostituída, vendo o pai, cacique, ser
assassinado, sabendo de outras vidas totalmente díspares, dentro de uma cidade
com sinais diametralmente opostos à própria cultura? Ou saber que um carro com
etanol significaria uma transição a um mundo mais rico dentro das salas de
exibição e estratégias empresariais, salas com todos os confortos, com todas as
gomas nos ternos, com salas alternas para se praticar o prazer do encontro
vitorioso, hedonista, poderoso? Com direito a “camisas” mais caras e mais
sensíveis.
Talvez as
formigas, os insetos não poupem tanto tempo para esse tipo de diversão, no que
saibamos: nada sabemos, a não ser da ingerência de uma ciência que ainda está
nos modais de antanho, quando apenas observa o comportamento dos hormônios e da
química em geral, e não sabe da alma sagrada que vive em cada ser, este que vem
no mundo a cumprir um ciclo, mas que, na condição humana, em que poderia ser
melhor, se degrada mais do que um cão, que não possui o arbítrio a nós
concedido. A questão não é afirmar que somos como cães e gatos, mas que estamos
copiando nossos próprios erros e os reafirmando, sendo pior do que eles, no
ciclo da evolução. Talvez não propriamente no ciclo da evolução material,
corpórea, mas sim na questão da existência da vida como milagre de sustentação
de todo um mundo. Seremos mais do que os antigos habitantes de cavernas, ou
temos, como dizia Alvin Toffler, uma cabana
digital, mas só que dentro de nossos próprios celulares, em uma versão
transcendente à profética imagem do pensador? Como se diria, se um homem
deposite seu afeto às aves, às borboletas, à existência do prazer da expressão
artística, a não ser tão sociável por opção, a crer por convicção realista de
que a espécie humana por vezes comete gafes intraduzíveis e longe de ser
compreendidas pelo mínimo da sensatez! Erros crassos e caros para a própria
condição de sobrevivência na Terra, por isso sempre o índio, sempre o índio nos
ensine... Não será jamais o romântico modo indigenista, mas a voz antropológica
das civilizações que sempre respeitaram a Natureza em seus processos de vida. E
agora nos assombramos quando se permite a destruição de algo sem que
necessariamente não usemos da força para impedir, pois a força só é utilizada
contra interesses que saem do escopo da sustentabilidade da farsa em que este
mundo está se tornando. Fale-se em planeta Terra, e a menina pirralha tem razão
e sempre terá, posto ser uma luz que ilumina a treva dos erros de outras
gerações que a precederam, na falta e no despreparo de prestar atenção aos
níveis do problema que poderiam já terem sido evitados há muito mais tempo,
desde a emissão dos gases, quando se iniciou a destruição da camada de
ozônio na atmosfera planetária. Em decorrência da barbárie cometida contra o
meio ambiente em que todos os seres coabitam, notemos a transformação em que o
mundo se apresenta na nova modalidade do egoísmo humano: é importante se
avaliar os prognósticos globais se não detivermos a ganância do excesso e das
faltas que só geram desequilíbrio nos direitos que tão duramente a humanidade
conquistou... A preeminência da ausência de bondade e generosidade de cada
indivíduo, espelhada no coletivo gera um reducionismo existencial sem
precedentes, quando muitos depositam agora a sua fé no final dos tempos, ou
seja, no que não é, posto apenas um começo de não fincarmos o pé dentro da desesperança,
já que a bendição não é ficar rico, mas ser um espécime consciente, apenas
isso.
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