quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O DIÁLOGO COMO SUPOSTO ENTENDIMENTO


           A se falar da civilização, não importando onde nem como, o diálogo entre pessoas, com seus vários idiomas e dialetos, é a forma de entendimento cabal. É o que exige de nós sermos civilizados, ausentes de provocações e na base do respeito de cada opinião ou ideia. É o que move em uma empresa a relação de patrões e empregados, é a consonância que redime certa pressão ou stress, é a forma correlata de uma sessão de análise, da consulta médica e do acerto entre as partes. Não adianta muito mais pensar em doutrinamentos, em posições de hierarquias desnecessárias, a não ser em instituições que nela se baseiem. Mas tentar impor à civilidade uma argumentação que não vai de encontro com a questão da escolha pessoal, desde que esta não infrinja a lei, é parva no sentido de não ter coerência com a mesma civilidade, a ordem que se estabelece entre os pares, a condição primeira do entendimento…
          Muito se pensa que o ato do poder tem a faculdade de impor regras à sociedade, de transformar o pensamento, enquadrar o ato. Temos muito do pressuposto do invisível, de sabermos que pensar é coisa de segredo único e individual, e desta fonte nada se tira se dele não quisermos compartir ou abrir para as gentes, mesmo porque não necessariamente o pensamento possa ser dissecado, posto não se traduz em palavras nem em lógica. Quando o organizamos para dar um sentido, como na escrita, estamos usando de artifícios ou ferramentas que significam os tratos para se chegar a uma análise, uma filosofia, um teor religioso, etc. Mas o pensamento de Charlie Parker no sax e em seu Bip Bop, quem diria, não se traduz nem em um minucioso estudo, posto ser improviso de modo que não possui possibilidade alguma de registro, gramática ou imagem, a não ser na música, assim como nas artes, na escultura, no desenho, na literatura, esta, que seja, talvez com votos surreais.
           O ato do registro é relativo, portanto, e a arte é gigantesca como o animismo, a espiritualidade, e esse rebatimento da ascese da arte com relação aos diversos modais de expressão denota a busca da disciplina interna no sentido de se chegar à mímese, ela mesma, da arte como fator humano transcendente, seja em que campo for. Propriamente, não há como relativizar a ciência que transcenda, posto a atma, ou a alma, apesar de ser não propriamente grande, ascende o homem para os planos exotéricos na sua circunstância divina, e esse diálogo é de suma importância, quando a ascese se torna exemplar pelo praticante!
          São tantos os mistérios do Espírito que não podemos sequer mensurar a sua grandeza. Internalizar esse conhecimento passa a ser tarefa nem tão hercúlea quando sabemos dessa mesma grandeza e tentamos, como a postura da prática de serviço devocional, alcançar esse universo, desde nos rosários, na sacralidade de uma imagem, até um trabalho na mesma citada devoção. É desse diálogo referido que nos tornamos circunstantes de nós mesmos, sabendo que as coisas que fazem parte de simples coletas como espias de diálogos fechados em si mesmos, quando se baseiam em alguma técnica, hão de revelar o atraso em relação ao tempo eterno que demanda conhecimento a respeito do infinito. A partir dessa pressuposição, haverá sempre mais diálogo em nossas entrelinhas de uma grande consciência, que nos levará a uma semântica dinâmica e real, no que a ilusão perde espaço para a plenitude do conhecimento transcendente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário