sábado, 26 de outubro de 2019

A LIÇÃO DA AUSTERIDADE


          Não precisamos ausentarmos nossa vida do prazer que temos, mas encontrar o prazer em coisas mais banais é um enfoque que nos faz crescer existencialmente. Termos uma vida austera, na discrição de se saber um silêncio honroso que nos traga a paz tão merecida aos homens de bem, que não há a veracidade na vida daquele que dissimula para atingir o poder, muitas vezes. Creiamos que o empoderamento é tarefa de quem bem sabe e tem boas intenções ao legislar, ou daqueles que fazem cumprir as leis do homem, e os sacerdotes e monges que vivem sob os holofotes do divino, refletindo eles mesmos as luzes que recebem do Altíssimo. Estes estão mais próximos do poder divino, da divina providência, preservando o modo da bondade com seus interlocutores, como em uma fase de atinar-se com uma energia cósmica, serena, permanente.
          Grandes são os obstáculos que nos impõem – contra a vontade de se situar bem na realidade – quando envolvem na semântica extremamente materialista a gana de se estar com uma dita posição que nada mais é do que o empoderamento da própria matéria. Uma vida simples, com certo conforto, com bons alimentos, boa morada e retaguarda na saúde e na educação vem de encontro com o que se quer de uma austeridade necessária, o que torna relativa a questão – por exemplo – do que vem a ser o desejo de cada qual. Fama e infâmia, frio e calor, fácil ou difícil, são dualidades que porventura devemos evitar, posto é mais fácil a um homem ou a uma mulher compreenderem que o essencial é justo, é primoroso, quando nosso estar-se com a ligação com o Supremo é maior do que toda a parafernália material. Nisso está a proeminência do pensamento de que o Estado deva ser laico, justamente para permitir a profundidade do estudo que qualquer vertente religiosa, não creditando quaisquer tipos de preferência a um culto em especial, posto a população mundial não ser uma única vertente religiosa, e o respeito por todas as crenças tornam a sociedade mais pacífica e tolerante… De mais a mais também é sumamente importante não rechaçar sob nenhuma mácula de rancor aqueles cidadãos que não professem religião, afeitos ou não ao pensamento filosófico, à ciência, à especulação empírica, no que se remonte o progresso de todos, sem pensarmos jamais em qualquer tipo de exclusão. Isso posto, há que se organizar as coisas para o bem estar de todos os cidadãos e aceitar boas ideias que venham a facilitar esse processo. Em uma vida mais austera, os acessos ao conhecimento não podem ser negados, seja da literatura, da ciência, filosofia ou artes. Assertiva tão simples como uma equação aritmética básica, com os devidos apetrechos necessários, como o ábaco, a calculadora, ou melhor, a mente humana, um pedaço de papel e um lápis, sem necessariamente se ter a borracha. Ter muita riqueza pode aparentar grandiosidade, importância sem par, mas esse fato atrai muitos interesses, e a vida passa a ser um pouco mais ilusória, pois o sentido outro – que seria mais pleno e sereno – passa a ser um tipo de obrigação de se manter o status, quando a colocação social já tenha galgado muitas etapas, e o engessamento comportamental igualmente passa a existir, na mesma ilusão da fama que se constrói desde então. Pois desse modo os desejos de consumo, de trânsito pelo mundo e da manutenção do status citado passa a verificar óbices quando queremos estar mais austeros, e já não o somos mais, pois pertencemos a uma classe alta, com tudo o que nela vem agregado. É crível que muitas motivações de se corromper em crime venham por reboque de toda essa parafernália, onde muitas vezes o poder se mistura com esse comportamento ignoto. Há inúmeros casos onde a austeridade leva uma família à felicidade, e igualmente inúmeros casos onde a riqueza sem par não leva a uma real felicidade, senão ilusão.

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