quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A SOLIDÃO PODE SER SOLUÇÃO


          Não que se queira fazer uma alocução sobre a solidão, mas que esta pode ser um tipo de razão é bem factível. Uma solidão nos permite dedicarmos ao estudo, às artes, sem que intervenha a velha questão da presença de um círculo de amizades. Igualmente, não se queira dizer que tal pressuposto não seja bom, mas no caso de alguém que fique contente com os seres em geral, sejam eles humanos ou não, é possível ser feliz no que conceitualmente se denomina solidão. Um anacoreta pode viver em seu quarto e demais espaços circunstanciais com a fé que lhe pertença. Um homem pode ter uma vida plena e independente sem necessitar da presença constante de uma mulher. Igualmente se aplica a ambos. Se voga a algum direito, um modus vivendi, aquilo de existência. Posto quando o homem ou a mulher carregam em si um estigma que os pretenda isolar por questões culturais, étnicas ou qualquer modalidade que os tornam distintos da grande maioria, a adaptação desse senão cultural pode parecer por vezes um grande obstáculo para a auto realização. A solidão pode parecer – no viés existencial – como uma concessão ao auto conhecimento: de estar-se só para se ter a noção elementar de que somos seres gregários e, no entanto, igualmente únicos. A partir da diversidade da percepção humana, pode-se obter um conhecimento independente daquilo que encontramos no que já se abriu caminhos, no sentido de apreender as coisas da Natureza quando do respeito à Ela e da abertura que permite quando nos mostra a sua variedade e sua profundez. Como apenas fazemos parte da Natureza Material, convém nos anteciparmos a ver que em cada variedade de vida está um corpo e dentro dele uma atma, ou alma sagrada. Esse espírito individual é que dá o sentido de existir, mesmo porque não se extingue quando falece o corpo. Segue um ditame de crermos que, na verdade, nosso Eu verdadeiro não é o corpo, mas o espírito que o anima, de tamanho infinitesimal. O ciclo de nascimentos e mortes pode ser interrompido pelas regras de apenas termos uma vida voltada mais ao espírito e não pelas equações por vezes perturbadoras da matéria, que tanto seduz com toda a ilusória manta que a envolve… Essa ilusão nos leva a mantermos distância do que é real, a nossa ligação com um plano anímico, espiritual. Por vezes toda uma existência de alguém que é vista por outrem como um homem ou uma mulher solitário/a servirá como um encontro consigo mesmo e com o Supremo, ou Superalma, que se realiza em todas as entidades vivas, na flora e na fauna, nas estrelas do céu, nos caminhos de uma nuvem, nos lençóis de água, na vastidão do mar e suas rochas e no simples movimento de um graveto. Toda essa transcrição maravilhosa tece ao ser humano no mínimo a grande questão de não estar sozinho quando sua suposta “solidão” nada mais é do que encontro, resposta e realização suprema, com Deus e com a Natureza! Como se tudo fosse ou estivesse sendo ensartado em um cordão, pois nada, nem um movimento de uma simples grama está fora dos encaixes de Deus, Krsna. Nada revele que a poesia tenha a pretensão de tudo conhecer, pois o conhecimento é algo crescente, e toda a literatura transcendental revela a Verdade em cada hora que se a lê, dinamicamente, em cada situação, em cada urgência, sendo a resposta de quem realmente busca, seja conhecimento religioso ou não. Lê-se na página do tempo, e esse tempo eterno revela aos homens a atitude de progressão correta com o manancial intocável que é a Natureza, ou o atraso que destrói a nossa possibilidade de aprender com todos os seres que residem em nosso planeta.
         Karma, a justiça infalível pressupõe que aqueles que possuem poder dentro de nosso mundo hão de se comportar conforme as leis de Deus, pois lutar contra torna-os mais infelizes e cruéis.

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