Atentos estamos quando se prescreve na boa presunção de atitude,
ao menos a iniciativa de sermos melhores visualmente, ou na primeira
impressão. Deveras é tanto do fato de que essa postura possa deixar
nossos outros lados visíveis, porquanto que tenhamos ao mínimo a
coerência de nos focarmos a um perfil dessa mesma coerência, a
dizer, que seja, no modal da bondade. Mesmo porque só temos a paz
quando ensaiamos ao nosso entorno uma atmosfera cálida de reencontro
com nós mesmos, na acepção transparente de estarmos em uma
plataforma mais contemplativa, mais de ligação com a Natureza, seja
ela humana ou de flora qualquer, ou de muito a se compreender os
seres em geral. A profusão de detalhes acima do nosso entendimento
já era ou fazia parte dos escritos de Shakespeare, no tanto de
sabermos que os mistérios existem, mas que no plano concreto é real
termos a compreensão de sermos mais perfunctórios, por vezes, e em
outras mais incisivos, mais silentes e ligados no que há mesmo do
silêncio dos ventos, ou de seus cantares por dentro dos nichos de
nossas existências. Como em um grande telhado, encontrarmos nas
calhas uma água pura para dividir com os pássaros, ou como em um
parafuso que começa a espanar, apertarmos um outro no encaixe certo
das madeiras, de suas peças, da marcenaria correta e exemplar. Assim
como se desejar que um trabalho venha a proporcionar uma vida mais
austera e, no entanto, confortável em um lar de solidez fecunda.
Muda-se um pouco a postura, uma postura erguida, que seja, de ombros
abertos, tanto quanto se prediz da dignidade que a cada qual se
possui: particular, grande e tocante, posto no caminhar sereno
podemos erguer-nos sobre a pátina do tempo, brincando de ser humano,
naquilo de ser, lúdico e real… Obviamente, no teatro da vida
podemos ser um tipo de ator ou atriz que encarna o papel da arte,
assim como na pintura se faz uma boa cenografia, uma boa iluminação,
o inverso da dissimulação, quando assumimos declaradamente que a
arte é linda, é território da cultura, é necessidade, é caminho
e vida! Não precisamos encarnar o tipo malvado, o durão, ou a sexy,
a conquistadora de homens, porquanto pedimos passagem às estrelas
que repousam no céu para prosseguirmos com a realidade da imensidão
do cosmos, e às nossas ínfimas posições, frente a alguns bilhões
de seres humanos que sequer nos conhecerão, ou quiçá saberão de
algumas posições existenciais particulares, as idiossincrasias e as
vertentes que movem nossa religação com a pressuposta veia da
Criação Eterna. Se possuímos um afeto a algum animal, este merece
o respeito de um ser a outro, e nossa ligação há que ser mais
tentacular, multifária e presente, em uma religação – torna-se a
citar – com o espelhamento dos seres todos, quem diria, com o
conhecimento que Da Vinci já citava, em seu Tratado da Pintura, o
comportamento das luzes, de matérias como as rochas, os
panejamentos, a anatomia das plantas e do homem, dos insetos, as
noções de perspectiva, etc, como se o genial homem renascentista
estivesse ligado todo o tempo com a Natureza, tantas e tantas vezes
citada no seu Tratado.
Porventura hoje obviamente os tempos são outros, partindo-se do
princípio de que não jazemos a arte em terra, mas aquela arte
tradicional, manufaturada, perde seus espaços para um mundo
digitalizado, onde não se vê a pincelada, qual não seja em escalas
gigantes a arte dos ideogramas japoneses e chineses, onde se percebe
a marca do pincel no gesto do artista. Portanto há de se ver com
alguma aproximação das nações do planeta a realidade que vai do
índio ao robô, do açaí aos alimentos sintetizados. Verte-se daqui
para diante estarmos ligados às coisas culturais, sem a perda silenciosa do processo de distanciamento...
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