quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O POENTE DO TEMPO


         Sim, todos os dias vemos o sol baixar, aos poucos vamos nos recolhendo, conforme a hora temos algo a comemorar e bebericar, mas o tempo para alguns é inóspito e cruento… As populações que vivem na rua, os imigrantes, os enfermos nos corredores dos hospitais, a incerteza de manter-se alguma educação próspera, o sentido do esforço, ou a certeza de se trabalhar a favor de uma pétrea honestidade, são requisitos para que o tempo faça parte não como gastura, mas como meio, perspectiva e meta. Talvez meta seja um jargão, mas um objetivo, mas que muitos sequer tem essa esperança de ver que algum propósito pessoal foi atingido!
           No poente de mais um dia o tempo encerra a latitude dos enjeitados, recria as perspectivas dos bem colocados, mas recrudesce muitas vezes na falta de comparecer com um diálogo suposto, entre um amistoso e um colérico, entre o dia e a noite, entre a intimidade de cada ser em sua suposta festa solitária. Em uma verdade que se relaciona com a produção, que venham bem as iniciativas de fazê-la acontecer em nosso país: nos provisionamentos, na proteção, na democrática e indefectível lei, ou mesmo naquelas que não foram escritas mas fazem parte dos costumes dos povos. Tanta é a Verdade sobre muito e tanta é a ilusão sobre muitos! Mitificar algo ou alguém remonta um tema teatral, um modus onde as gentes querem depositar algum alicerce existencial em um fator da história, ou mesmo na negação histórica, como se essa deusa pudesse jamais ter existido. A partir do momento em que olharmos diretamente para o que se passa em nosso pequeno universo, far-se-á a paródia de se notar o premente, o urgente, posto o trabalho nas vertentes de cada espaço. A verdade não possui relativização, quando supostamente um peão constrói seu ninho no colo da rainha. Essa rainha que não significa uma mulher, não a simboliza, mas que protege o rei de todos os obstáculos estratégicos, através de movimentos que denotam maior alcance e poder acima de todas as outras peças. Ou abstratamente, no jogo de GO, onde as peças trabalham com relação aos espaços conquistados, no viés de um grande ou reduzido tabuleiro, onde o tempo flui dentro dos mais e dos menos experientes, na fruição saudável de uma lógica maravilhosa, como tanta é em certos jogos de tabuleiro. Nesses jogos de inteligência específicos, a sorte não conta, a não ser como um deslize de um adversário ou quando – ao se jogar contra a máquina – o algoritmo não possui complexidade suficiente para ganhar de um bom contendor. O homo ludens joga, mas os dados não são lançados quando a tarefa não se arca por meio do acaso. No entanto, a aleatoriedade faz parte da Natureza, na visão de alguns, no que supõem outros que a Natureza possui uma lógica fechada em si mesma, onde todos os seres têm seu próprio significado anímico, espiritual e, portanto, impossível de se prever ou de se compreender, conforme a muito sábia frase de Shakespeare sobre os mistérios em que a nossa vã filosofia jamais alcançará, entre o céu e a terra… Um poeta dessa magnitude realmente deveria ser escutado, ou será que nos admiraremos com um texto de Aldoux Huxley na revisitação de nossa ainda viva literatura mundial? Será que, enquanto escrevemos, nossa webcam registra o olhar em cada sentença, quando o que se quer é que os robôs parem de nos chatear, incluso quando os bilionários tiverem seus iates nas areias de Marte? Para-se tudo que o samba quer passar, dentro daquela formosa música de Gilberto Gil sobre a internet. Parecia maravilhoso, mas não tão excludente, a ponto da ignorância ser algo em que o recurso do Google ensina tudo, mas não dá embasamento a pesquisas concretas, como um laboratório da Universidade no campo das engenharias, química, biologia, etc. Quem vos cita é ignorante academicamente, mas apenas reza por uma percepção em que a vida deve ser respeitada, acima de tudo. A profundidade em que um leigo possa crer que haja quiçá funcione como uma ponte... Uma preparação onde um leve pensamento que se origina possa revelar a alguém ou a alguns um modo silencioso em que as palavras nos tragam conforto, naquilo que se diz do Espírito da Natureza. Na natureza material igualmente, por outro lado. Como que em uma divisão em que há aquilo que anima e aquilo que é por natureza inanimado, como o Espírito Supremo que reside em cada coração da entidade viva – chamado Paramatma – e qual a implicação existencial quando tomamos alento em relação a essa consciência, a consciência de Krsna.
          O tempo se nos pára quando atingimos um grau superlativo de compreensão que é através de uma vida simples e de um pensamento elevado que galgamos o mundo tal como sempre foi, e que as mudanças tecnológicas podem facilitar certas coisas, mas efetivamente não são as únicas coisas relevantes para que possamos viver em paz no planeta. Nas ordens das coisas, se falar em preservação, respeito aos animais e aos seres humanos, os direitos, os deveres, a cidadania, a democracia, os erros pregressos, em síntese, a facilidade que há em nosso alcance para que harmonicamente suceda a relação dos povos com o seu entorno e o necessário encontro com nós mesmos, em sabedoria e atitudes.

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