sábado, 26 de outubro de 2019

A AUTOCRÍTICA DE MAICON


         Maicon não possuía muitas condições de pautar… Mas necessariamente se tornava crítico, mordaz e coerente com aquilo que significasse uma questão de ordem, de saber se organizar, a manter seus petrechos no lugar, posto mais quieto que resignado. O perfil que emanava de seu peito era evidência sobremaneira de algum de casta maior, na casa que fosse, a se dizer de grupo, de benfazejo, de pensamento audacioso.
          Vivia simplesmente sem tanta a neurose daqueles tempos, de um final de final de semana onde o final se prolongasse até o fim. Não tanto por isso, pois o fim era um começo, nas reticências quiçá de uma simples rua, abraçada, perspicaz e atônita com certas atmosferas. E Maicon sabia de seu nome, que vinha de Michel Jackson, a que queria acreditar que tivesse sido um grande astro, mas sabia ele das estrelas mesmo, verdadeiras. Saber-se de um enigma na mente de seus amigos, punha-se ele de resolver peremptório, com classe, com lógica fulminante. De jogos não era tanto, mas gostava de pensar, e pensar sobre si mesmo, no em si do per si, ou algo que valesse mais do que esse simples nó de sílabas. Claro, que um amigo verdadeiro lhe tecesse uma reprimenda, não seria – repetindo – um perfil tão evidente quanto uma prova que provasse algo a respeito de suas posições existenciais. Pois sim, que travessura corria nos seus olhos quando a chuva revelava nuances de suma vitalidade, assim, de querê-la acima de tudo e de todos, pois a água era a sua praia. Aliás, de todos ou quase todos os elementos da terra, que seja, ela mesma, a água, o fogo, o ar, o éter, e o movimento, a cinestesia do movimento.
        Claro era na sua pequena história que não claudicava o suficiente para não incidir em algum grave erro, mas nos tempos daquele, os erros eram tantos que os humanos seriam mais do que o erro, e qualquer aproximação com o latim é mera coincidência. Seus olhos não eram graves, possuía a cara de um bonachão, a não ser quando seu id clamava por um exame de consciência, uma crítica cabal e que começava cedo, e terminava cedo, pois seus tempos eram de cinco às dez. Do dia para a noite, encerrando a noite e acordando o dia…
         Nas entrelinhas do que se pensasse a seu respeito talvez houvesse uma certeza de que Maicon não pressupunha muito do se planejar, mas revelava no seu gosto pelos estudos a ciência que retorna esférica depois de modelado o cubo! Assim, geometricamente, pelo caminho árido por vezes, ao retornar de um sono começava a se odiar por não ter pensado melhor a noite passada, ou por ter estudado firulas que não levariam a ideia adiante. Mas, como fruto de uma imensa agremiação de conhecimento, bastava a ele que vertesse algo que fora como um pequeno ou grande projeto, a sair do papel depois de uma boa impressão. Mantinha a crítica de pé, em noites de frio, e acalmava seus sóis internos nos verões que iniciavam após lindas primaveras. Era de se condoer de tamanha a grandeza da crítica que fazia de si mesmo, pois colocava a inteligência na frente de sua mente, e seu corpo por detrás, e a condução dessa máquina por uma alma infinitamente pequena, mas gigantescamente plena.
        Nas vezes em que não revelava seu tempo, não haveria de temer por perder um pouco dele, mas considerando um pensamento cerebral de vulto: cerebrado, saberia por onde contar a canoa que o leva sempre nas jornadas em que está sozinho a contento, e feliz por sua condição de saber que alguns pensassem nele, e que sua autocrítica seria eterna, de justeza, de caráter. A saber que em um item que personifica uma grande alma, plena, seu corpo não estranharia a inteligência nem a mente.

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