Serenamente,
um homem depositou seu lenço por cima de um livro, um que dizia da
história de Roma, desde o antigo ao novo império. O lenço tapava a
capa, mas o título se via claro em italiano na lombada: uma bela
encadernação de bom livreiro. Lera parte do assunto, mas o italiano
ainda não era língua que dominasse, apesar desse assunto ser quase
um referencial de história para um interesse tão crescente sobre o
tema… Cláudio achava que a vida seria mais interessante com a
profusão de livros que guardava sobremaneira em suas estantes, nas
pequenas mesas da casa, a ver que bastaria pegar algum e folhear meio
a esmo, que a luz se dava, quando de boa literatura. Mas o lenço
permanecia ali, dormente sobre o livro, um quase curativo em muitas
feridas, posto Roma ter sido tão gigante. Já fazia tempo que
começara a estudar um pouco das culturas antigas, e reportava muito
a lembrança de outros países, sem nunca efetivamente ter conhecido
presencialmente algum, não fosse o Uruguai, em uma viagem
maravilhosa que empreendera com seu falecido irmão. Sabia
razoavelmente sobre as artes dos países, um pouco da sua literatura,
mas não era um cidadão erudito, apenas de conhecimento mediano. No
entanto, na sua província, Cláudio era considerado muito culto. Era
quase natural que ninguém lesse por lá, em seu bairro, mesmo os
mais abastados. Não era costume, e justamente a filosofia faltava
para muitos que poderiam usufruir de pensamentos e ideias que surgiam
na mente daqueles do seu tempo que buscavam verdades e informações.
Aliás, dois dilemas cruciais para a mente de Cláudio, que observava
sempre… A verdade e a informação: dois temas genéricos para os
quais se necessitaria no mínimo a interpretação lógica de como se
apresentam geralmente.
Naqueles
tempos de eletrônica, com tantas variantes de objetos que geravam
mais e mais comunicação, o conceito de verdade vinha com uma
informação que poderia ser vaga, ou mentirosa, a famosa fake
news. De qualquer modo, construir uma opinião baseada em uma
informação falsa, não verdadeira, seria acelerar o processo da
ignorância, como se não bastasse esta, generalizada, sob o aspecto
existencial. Mesmo porque a informação tornava-se tão banal quanto
perguntar diretamente, sobre qualquer assunto, quem fosse e quem era
o que, sendo que verdades subliminares eram construídas com esses
estranhos diagramas que se tornavam os “recolhimentos
informativos”. Esse recolhimento passava a ser tentacular, como as
raízes que se aprofundam na terra ou as folhas que surgem em novos
galhos. A informação passava a ser valiosa, ao menos era o que a
mídia transmitia, e perguntar sobre a vida de alguém passava a ser
mais comum do que conhecer alguém mesmo, com a riqueza da
descoberta, e um certo romantismo que não fazia infelizmente parte
daquele novo mundo.
Restava
saber se Roma seria erigida em plena América. Da do Norte, talvez,
do país do Sul, quem sabe, ou em um mundo Ocidental onde a questão
das liberdades passava a ser relativa quanto ao conhecimento
newtoniano frente a Einstein! As relações quase unilaterais do Sul
com o Norte, a que nos chamássemos Grande América, posto a relação
tendesse a se estreitar, como se as veias do nosso hemisfério
tornassem o grande alimento, a sangria, a riqueza, o alento. Mas de
Roma não fosse um império similar: a águia, que não cravasse
tanto as garras em suas presas, não se tornasse um pássaro cego,
mesmo com tanta envergadura e força e seus cidadãos não travassem
as guerras que não competem com o salutar debate de ideias. Posta a
força seria fraca, pois não se deixaria espaço para que os países
desse imenso e vitaminado império não se forçaria a empreender
algo em que não pudesse adquirir o conhecimento sobre um povo ou um
Estado de soberania. Isso de larga compreensão faria como sempre de
um político um grande estadista, quando se permitisse partir a
compreender seu povo, e arcar com a consciência do que este
realmente quer para si e o Estado necessário que deva demandar
esforços naquilo que não seja vão, ou seja, o tempo precioso para
se exercer uma boa administração, nacionalista e democrática, sob
o aspecto imparcial de suas instituições e força de sua economia.
Sempre com o viés do que seja o aprofundamento de uma boa república,
respeitando e reforçando o status do ideário vário de sua Nação,
suas diferenças e o esteio garantidor de um bom e correto mandato,
em obediência à lei e à ordem, como em seus Poderes e instituições
democráticas. Talvez isso seja algo o mais próximo do que pode e
reza um mandante presidencial em nosso mundo, com o sistema em que
vivemos. No entanto, é tarefa de seu povo e representantes
estabelecer o contínuo progresso do que se tem à mão para que se
pretenda realizar a contento o esforço necessário aliado ao
sacrifício que se deve cumprir para que o governante alcance o
clamor popular. Essa será sempre uma premissa básica para a
continuidade do desenvolvimento econômico de um país, mesmo em
contextos não muito favoráveis na Ordem do que se deseja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário