quarta-feira, 17 de outubro de 2018

TRADIÇÃO E SOCIEDADE


          Serenamente, um homem depositou seu lenço por cima de um livro, um que dizia da história de Roma, desde o antigo ao novo império. O lenço tapava a capa, mas o título se via claro em italiano na lombada: uma bela encadernação de bom livreiro. Lera parte do assunto, mas o italiano ainda não era língua que dominasse, apesar desse assunto ser quase um referencial de história para um interesse tão crescente sobre o tema… Cláudio achava que a vida seria mais interessante com a profusão de livros que guardava sobremaneira em suas estantes, nas pequenas mesas da casa, a ver que bastaria pegar algum e folhear meio a esmo, que a luz se dava, quando de boa literatura. Mas o lenço permanecia ali, dormente sobre o livro, um quase curativo em muitas feridas, posto Roma ter sido tão gigante. Já fazia tempo que começara a estudar um pouco das culturas antigas, e reportava muito a lembrança de outros países, sem nunca efetivamente ter conhecido presencialmente algum, não fosse o Uruguai, em uma viagem maravilhosa que empreendera com seu falecido irmão. Sabia razoavelmente sobre as artes dos países, um pouco da sua literatura, mas não era um cidadão erudito, apenas de conhecimento mediano. No entanto, na sua província, Cláudio era considerado muito culto. Era quase natural que ninguém lesse por lá, em seu bairro, mesmo os mais abastados. Não era costume, e justamente a filosofia faltava para muitos que poderiam usufruir de pensamentos e ideias que surgiam na mente daqueles do seu tempo que buscavam verdades e informações. Aliás, dois dilemas cruciais para a mente de Cláudio, que observava sempre… A verdade e a informação: dois temas genéricos para os quais se necessitaria no mínimo a interpretação lógica de como se apresentam geralmente.
          Naqueles tempos de eletrônica, com tantas variantes de objetos que geravam mais e mais comunicação, o conceito de verdade vinha com uma informação que poderia ser vaga, ou mentirosa, a famosa fake news. De qualquer modo, construir uma opinião baseada em uma informação falsa, não verdadeira, seria acelerar o processo da ignorância, como se não bastasse esta, generalizada, sob o aspecto existencial. Mesmo porque a informação tornava-se tão banal quanto perguntar diretamente, sobre qualquer assunto, quem fosse e quem era o que, sendo que verdades subliminares eram construídas com esses estranhos diagramas que se tornavam os “recolhimentos informativos”. Esse recolhimento passava a ser tentacular, como as raízes que se aprofundam na terra ou as folhas que surgem em novos galhos. A informação passava a ser valiosa, ao menos era o que a mídia transmitia, e perguntar sobre a vida de alguém passava a ser mais comum do que conhecer alguém mesmo, com a riqueza da descoberta, e um certo romantismo que não fazia infelizmente parte daquele novo mundo.
         Restava saber se Roma seria erigida em plena América. Da do Norte, talvez, do país do Sul, quem sabe, ou em um mundo Ocidental onde a questão das liberdades passava a ser relativa quanto ao conhecimento newtoniano frente a Einstein! As relações quase unilaterais do Sul com o Norte, a que nos chamássemos Grande América, posto a relação tendesse a se estreitar, como se as veias do nosso hemisfério tornassem o grande alimento, a sangria, a riqueza, o alento. Mas de Roma não fosse um império similar: a águia, que não cravasse tanto as garras em suas presas, não se tornasse um pássaro cego, mesmo com tanta envergadura e força e seus cidadãos não travassem as guerras que não competem com o salutar debate de ideias. Posta a força seria fraca, pois não se deixaria espaço para que os países desse imenso e vitaminado império não se forçaria a empreender algo em que não pudesse adquirir o conhecimento sobre um povo ou um Estado de soberania. Isso de larga compreensão faria como sempre de um político um grande estadista, quando se permitisse partir a compreender seu povo, e arcar com a consciência do que este realmente quer para si e o Estado necessário que deva demandar esforços naquilo que não seja vão, ou seja, o tempo precioso para se exercer uma boa administração, nacionalista e democrática, sob o aspecto imparcial de suas instituições e força de sua economia. Sempre com o viés do que seja o aprofundamento de uma boa república, respeitando e reforçando o status do ideário vário de sua Nação, suas diferenças e o esteio garantidor de um bom e correto mandato, em obediência à lei e à ordem, como em seus Poderes e instituições democráticas. Talvez isso seja algo o mais próximo do que pode e reza um mandante presidencial em nosso mundo, com o sistema em que vivemos. No entanto, é tarefa de seu povo e representantes estabelecer o contínuo progresso do que se tem à mão para que se pretenda realizar a contento o esforço necessário aliado ao sacrifício que se deve cumprir para que o governante alcance o clamor popular. Essa será sempre uma premissa básica para a continuidade do desenvolvimento econômico de um país, mesmo em contextos não muito favoráveis na Ordem do que se deseja.

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