Havia
um clima de nuvens e um pouco de frio naquela atmosfera de chuva de
primavera. Os passantes, em virtude de uma conturbação quiçá
existencial, não estavam com aspecto de muitos amigos. Uma gente de
várias faces, e não apenas isto, mas de uma expressão corporal
silenciosamente disciplinada. Como em uma marcha e, no entanto, sem
saber marchar, no sentido estrito do termo, pois da parecença de que
suas mentes estavam projetando algo em que o ato de caminhar parecia
insuflado pelo desejo do embate. Como se ao preparar-se do dia,
acordassem com suas fardas ou o que quer que lhe parecessem as vestes
com que sair no simples domingo. Sem ver ou perceber melhor o
entorno, as forças mesmas, os vetores que, pausadamente, fazem parte
da mecânica da matéria, mesmo porque na acepção crua dessa gente
uns estão na vida acadêmica enquanto outros enfrentam as suas
outras construções. Nunca será tarde para enunciar quão
maravilhoso é o comportamento e expressão do que possuímos em
nosso entorno, a saber, que seremos menos duros quando comparados à
eternidade das rochas! Como uma colcha de retalhos, e, no entanto,
qual uma percepção de que há uma similaridade entre muitos, como
se o comportamento se igualasse, em uma realidade que parece algo
una, mas retorna díspar, pois o mesmo comportamento depende de
impressões variadas, mesmo sabendo que o influxo dos meios tem sido
mais igual e sem diferenciações substanciais. Mas o embasamento de
poucas mensagens torna igual uma frente do comportamento quase
alterno, pois verte em alguma esperança na ignorância de muitos, o
que já se prediz naqueles que se jactam de serem mais inteligentes
na acepção do diálogo e portanto algo de controle, o que vem a dar
os costados na mesma ilusão de tentarem estar à frente de seu
tempo... Vertendo-se na mesma moeda conceitos como autoproteção e uso da
fama, que depende de um "diz que me disse" generalizado, vulgarmente falando. Destrói-se a fama de alguns que exerçam lideranças, ou mesmo em
uma autenticidade que incomoda o status quo, no se pensar ou
viver a arte como meio de expressão, mas não necessariamente no
meio de vida em ganho.
No
se pensar a vida, haverão filtros em que se passa aquela por
através, filtros por vezes necessários e em outros casos crônicos,
como por vezes a limitação das cores da palheta de um artista
remonta o nascimento de obras-primas. Jamais alguém quer arcar com
culpas imputadas injustamente, e os filtros fazem com que a
neutralidade seja o negócio da hora, porventura nas horas de tensão
onde nos parecemos com agentes da diluição do bom senso, ao
ignorarmos a civilidade como princípio do caráter por este sempre almejar aprofundar a
força de uma instituição, enquanto sabemos que muitos fomentam o
caos, a anarquia ou coisas similares, quando sem saber estarmos participando desse sinistro rol. Esse filtrar da vida capacita a
que nos vistamos como camaleões, e seu viés é deixarmos de ter um
estilo mais autêntico para fazer as vezes da vontade de onde está o
poder. Esse vestir-se podemos traduzir como o que comportamos nos
aspectos externos de expressão como a fala, a gestualidade, o que
fazemos em termos de entretenimento, a nossa opinião, que programas
de TV assistimos, ou seja, se tivermos que vincular nossas vidas a um
tipo de carapuça existencial que nos conforme com determinada
situação, agiremos de modo falso em relação ao mundo em que
vivemos. Quando descobrirmos que a arte e a cultura como um todo é
uma questão de existência cabal e importante para muitos, quando
soubermos finalmente que a filosofia ou a boa religião também são
caminhos a se trilhar, permitiremos às nossas mentes um espaço com
qual não contamos se negarmos o viés da liberdade. Essas frentes de liberdade remetem toda a história na própria capacidade de nosso povo e sua identidade nacional, seus princípios e afinidades, suas raízes e conquistas sociais.
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