segunda-feira, 8 de outubro de 2018

ARTE E ESPÍRITO


Qual véu – não nos furtemos – que nos ensombre o cerne, qual tatuagem
Que não carreguemos, nas vezes em que sequer encontramos o rabisco
De Altamira a Lascaux, porventura os traços que despontam na civilização
De uma Europa que não encontramos tão mais capaz, mas retorna talvez
Em suas fímbrias de ser continente com independência e cultura veraz
Quando sabemos de atitudes que remontem, no caso, outrossim, a economia.

Mas a arte do rabisco, o afresco, um mural, a manifestação anímica, pudera,
Se tantos e tantos talentosos homens e mulheres voltassem às suas raízes
Para dizer o que se passa, pois de tanto se comunicarem voltam-se para o ego!

A arte anima o espírito, é vertente e sombra, é respiração, é dizer e escutar,
A arte é maestra e discípulo, jamais será a mera e simples intenção da violência,
Pois é vida que muitos sequer sabem mais que há e perseguem certezas na derrota.

Sendo espiritual, ainda mais a arte transcende, pois pode ilustrar desde Cristo,
Mas igualmente qualquer outra religião, pode manufaturar um belo cartaz,
Pode estar presente no desenho de um jornal em sua diagramação, uma marca,
Um rótulo, na descrição de uma engrenagem, na tessitura de um tapete persa,
Em uma maravilhosa e contemporânea cerâmica do Oriente, como no ideograma!

Não há espaço em pensar-se que a luta é arte, pois as que são se defendem sem ferir,
Não atentam contra a boa vontade da tolerância e da paz, a arte não desfere golpes,
Apenas enuncia o porvir, como em Guernica já havia ascendido o fascismo,
Quando Pablo retrata a crueldade humana sem face: as sombras e suas projeções.

Em crônicas de Garcia Marques, há a história de Hiroshima, os átomos pulverizados
Que deram forma aos corpos em superfícies de concreto, a história da radiação,
O tanto de sabermos que igualmente toda a guerra surge é libelo na arte e poesia...

Será matéria conforme estudar-se o formal da arte circunspecta, ao sabermos da lei
Que não se materializa uma arte do conservadorismo, e no entanto prega-se o tal
Como se a norma fosse capaz de fazer crescer a criatividade com base na coação!

Ledo engano, acharmos que a arte não subsiste, mas depende que dela participemos
Como um tufão de resistência, como ferramenta crucial, que ensaiemos as peças vistas
Por sobre as possibilidades de nós mesmos, que façamos a música sem silenciar.

Não há porque tentar-se engajar em um tipo de guerra quase fraticida, se damos ouvidos
Àqueles que degeneram o humanismo, que fazem com que não nos vejamos por dentro
Mas de fora, como observadores do horror que querem infundir, passando de um limite
Que entroniza uma esperança de luto com a pronunciação do discurso da intolerância.

Essa modalidade quase esportiva para grandes e pequenos, para um torneio de arte
Que houvesse em alguma escola, isso de saber-se expressando, o desenho, a pintura,
Um ceramista, um operário que faz seu trabalho com o cuidado de um artista:
Tudo pode ser levado como um grande movimento de comunhão entre o homem e os meios,
A vertente e seus tonéis, a preparação do plantio ou o recolher dos frutos, o anímico,
E por que não dizer que no espírito da matéria plasmada se entroniza a obra, maior e melhor
Do que tudo aquilo que sequer choramos por termos assumido em querer entronizar a dor.

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