Qual véu – não nos furtemos – que nos
ensombre o cerne, qual tatuagem
Que não carreguemos, nas vezes em que
sequer encontramos o rabisco
De Altamira a Lascaux, porventura os
traços que despontam na civilização
De uma Europa que não encontramos tão mais
capaz, mas retorna talvez
Em suas fímbrias de ser continente com
independência e cultura veraz
Quando sabemos de atitudes que remontem,
no caso, outrossim, a economia.
Mas a arte do rabisco, o afresco, um
mural, a manifestação anímica, pudera,
Se tantos e tantos talentosos homens e
mulheres voltassem às suas raízes
Para dizer o que se passa, pois de tanto
se comunicarem voltam-se para o ego!
A arte anima o espírito, é vertente e
sombra, é respiração, é dizer e escutar,
A arte é maestra e discípulo, jamais será
a mera e simples intenção da violência,
Pois é vida que muitos sequer sabem mais
que há e perseguem certezas na derrota.
Sendo espiritual, ainda mais a arte
transcende, pois pode ilustrar desde Cristo,
Mas igualmente qualquer outra religião,
pode manufaturar um belo cartaz,
Pode estar presente no desenho de um
jornal em sua diagramação, uma marca,
Um rótulo, na descrição de uma engrenagem,
na tessitura de um tapete persa,
Em uma maravilhosa e contemporânea
cerâmica do Oriente, como no ideograma!
Não há espaço em pensar-se que a luta é
arte, pois as que são se defendem sem ferir,
Não atentam contra a boa vontade da
tolerância e da paz, a arte não desfere golpes,
Apenas enuncia o porvir, como em Guernica
já havia ascendido o fascismo,
Quando Pablo retrata a crueldade humana
sem face: as sombras e suas projeções.
Em crônicas de Garcia Marques, há a
história de Hiroshima, os átomos pulverizados
Que deram forma aos corpos em superfícies
de concreto, a história da radiação,
O tanto de sabermos que igualmente toda a
guerra surge é libelo na arte e poesia...
Será matéria conforme estudar-se o formal
da arte circunspecta, ao sabermos da lei
Que não se materializa uma arte do conservadorismo,
e no entanto prega-se o tal
Como se a norma fosse capaz de fazer
crescer a criatividade com base na coação!
Ledo engano, acharmos que a arte não
subsiste, mas depende que dela participemos
Como um tufão de resistência, como
ferramenta crucial, que ensaiemos as peças vistas
Por sobre as possibilidades de nós mesmos,
que façamos a música sem silenciar.
Não há porque tentar-se engajar em um tipo
de guerra quase fraticida, se damos ouvidos
Àqueles que degeneram o humanismo, que fazem
com que não nos vejamos por dentro
Mas de fora, como observadores do horror
que querem infundir, passando de um limite
Que entroniza uma esperança de luto com a
pronunciação do discurso da intolerância.
Essa modalidade quase esportiva para
grandes e pequenos, para um torneio de arte
Que houvesse em alguma escola, isso de
saber-se expressando, o desenho, a pintura,
Um ceramista, um operário que faz seu
trabalho com o cuidado de um artista:
Tudo pode ser levado como um grande
movimento de comunhão entre o homem e os meios,
A vertente e seus tonéis, a preparação do
plantio ou o recolher dos frutos, o anímico,
E por que não dizer que no espírito da
matéria plasmada se entroniza a obra, maior e melhor
Do que tudo aquilo que sequer choramos por
termos assumido em querer entronizar a dor.
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