quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O VENTO SOBRE OS OMBROS

Tal seria o tempo se a vida não encobrisse o significado não linear
Que a muitos se revela a si, um encontro inesperado, uma mulher no caminho,
Outra flor que a poesia esquece como parâmetro de saudável leitura
Posto não de doença, que da doença possa padecer o mundo inteiro…

O mesmo ser que se jacta de não ser no sacrário da existência humana,
O ser que tropeça em um nicho onde as formigas já abraçaram a esfera
De seus próprios pontos no horizonte, em fugas massivas de linhas pétreas
Nas calçadas de um cimento nada estudado, que de amálgama fabrica o vento!

Pois que as flores não carreguem o seu murchar sobre os ombros, de uma página,
De um sorrir intempestivo, que algo incita a que não se fosse mais o mesmo
No algodão de um tecido, nas lacunas que entendemos por ventos mais lisos
Do que a superfície de algum antepassado que tenha legado ao homem o porvir.

Quase a negação de tudo, quase que não nos sacrificássemos mais do que um tal
De sacrifício pungente a que possuímos uma verve que o mais seja traduzido
Por antecipação que versa mais do que o esperado, a uma palavra não ressentida
E que talvez a façamos significante na própria Natureza da palavra temporalidade…

No que se perfaz de um outro vento, do sul que se apresenta, como uma ilha
Dentro de outras tonalidades assentadas na espera do que se diga a mais se não for
Saberá um homem que a veste de mais subterrâneos fugidios e circunflexos
Não reste uma dúvida em que não pontificaremos mais a frugalidade em se prosseguir.

Na data que se dá de prosseguir aonde, qual não seja, um dia que queiramos que melhore
A qualquer fonte de emancipação de alguma estrela, mas que a mulher ao menos veja
A lua deitada em seu crescente tênue espalhando a superfície mesma de um céu
No olhar de quem a viu em uma noite que espalha faróis em olhares retilíneos!

Quem se desse ao ponto de pretender o solfejo de uma guitarra em um flamenco cru
Ao menos se lembraria da Espanha de muitos tempos, em que Saura monta escola
Com o aparecer de um teatro de rua, em que em cada nicho das casas se escuta
Algum verbo legado à América Latina de nossos pressentimentos de que algo se sente…

Em que se prossiga mesmo assim, pois a latitude de um consenso dentro da União
Versa que se una um propósito mais premente, e que não se loteie a consciência
Com famigerados gestos de ocasião, a saber, aqueles que creem ser antecipadores
Mas que não passam de ensaio de fantoches em um circo mal arranjado no atraso.

Mas que se tenha esperança, que se verta uma gota de um suor em nossa fronte
Ao menos para que nos lembremos que a circunstância em que reside a fome
Faz passar nas ruas uma população de dois dólares diários, o que por vezes
Reduz na mesma esperança a dignidade possível, mas faz do fraco um forte.

Mas que a miséria não sirva jamais para que saibamos da fortaleza de um ser
Que busca um sustentar-se na piedade alheia, pois aquela só serve para revelar
Que um quando busca, quer apenas uma justa colocação, em que os do Norte
Saibam de uma vez por todas que o país em que milhões vivem ainda é Brasil!

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