sábado, 15 de junho de 2019

TEMPOS DE INCERTEZAS


           A construção de uma sociedade como vemos dentro do espectro normal já não parece – em muitos momentos – dentro da esperada normalidade quanto de se escolher as nuances em que se permite pensar nos recursos que desconhecemos, e que muitas vezes não passam de fantasia… Por horas pode um cidadão culto se debruçar sobre o que há de novo na tecnologia, mas há que se ter em mente que cada geração está se confrontando com realidades em que as gerações anteriores muitas vezes não acompanham, não apenas no fator de tecnologia e ciência como existencial, tão somente. Se você recebe através de um documentário o fato tecnológico do reconhecimento humano a um ponto de raio de 42 quilômetros, no aspecto da face, não se tem a certeza de que, primeiramente, o documentário não seja capcioso. Mais do que tudo, passa-se a pensar que estaremos em uma sociedade totalitária onde o controle será quase total nas ruas, o que pode até ser um pouco verdadeiro, mas a lógica disso é do particular ao universal, e o particular tende a não alcançar o universal, posto o particular depende da dialética individual em um cenário de um coletivo que já subentende menor – de dois ou três – no alcance de uma rede, em vértices sobrepostos, onde a câmera de reconhecimento facial acaba navegar na superfície de uma máscara, esta que subentende outros conteúdos, posto universais, versando ao particular, eternamente, sem haver retorno factível. Mas, sim, um progressivo desenvolver de sintonias distintas do que se imagina como solução social ou coletiva, seja para a manutenção dos direitos civis, ou no reconhecer compulsoriamente as diferenças.
          Se o foco do que se vê é considerado realidade, por vezes a atuação do ser filmado pode representar um palhaço até mesmo coletivamente, o que tornaria a atuação do ator risível, mesmo porque o atuar como ator seria como estar bem em uma arte teatral e a revisitação desta por meio de representações individuais ou coletivas. Não há como descrever ou controlar a arte teatral, nem a teatralidade de estar em consonância do registro cenográfico e da dialética informacional que represente o ser teatralizado do ser que observa, portanto quebrando daí um controle comportamental, haja vista as miríades de cores únicas, o diverso das cores, e o estertor do preconceito ou prejulgamento do que não existe, posto farsa em ambas as intenções. Roga-se, ao menos, àqueles que estão distantes da representação ou arte da farsa, porquanto mesmo assim arte em si, que se portem bem, ensinando a quem vê um comportamento exemplar na extensa comunicação que se dá ao caminhar, ao correr, ao andar de veículos, ou no agir como um todo por entre câmeras. Reza ao cidadão que não seja proibido o figurino, dentro de uma conformidade não violenta, e que o lado vigilante não confunda suspeição com comportamento rebuscado, pois é através deste que se implementa a diferenciação entre membros da nossa espécie, do homo ludicus, ou seja, da nova acepção do que vem a ser o jogo saudável em termos de rua, daquilo que não deve esmorecer enquanto liberdade, de uma teatralidade que vemos em chefes de estado como bonecos com aceitabilidade por serem algo fantochescos e, no entanto, por vezes secretamente nocivos, ou abertamente nocivos à nossa espécie. O Estado como o conhecemos deve suprir a demanda da arte e, se assim não proceder, a espécie humana tem que voltar a reconhecer em seus novos modais a ação que mitigue crises que só levarão a certas lutas que interessam ao establishment que porta as ferramentas da morte, assim chamadas armas letais, que apenas servem a interesses externos, quando os Governos não se detém ao que temos de bom em nossos países.
         Quando Jackson Pollock estabeleceu a sua action painting, nos EUA, certamente o público ficou atônito com o resultado, mas a verdadeira ação foi a filmagem de sua técnica, a pintura em relação às câmeras e o resultado foi a genialidade da descoberta… Se há um diálogo de alguém com a câmera, se erotizamos a rua, certamente as flores crescem mais na intenção. Mas se alguém sabe ensinar às pequenas ou grandes autoridades algo que se tenha pra mostrar, o hapenning vira mundial, viraliza na plataforma de uma rua, torna-se crescente e ao mesmo tempo pontual! É uma ilusão pensar-se que em um tipo de jogo queira-se impor um uniforme, pois a hierarquia passa a existir onde há um exemplo: entre pais e filhos, mestres e alunos, guarda e cidadania, arte e público, olhar, teatro e plateia, não necessariamente obedecendo o critério algo oxidado dessas relações, pois o mundo é cambiante e, em uma era de incertezas, encontrar refúgio naquilo que incutem em nossas mentes como algo opressor, torna a vida mais flexível na própria contestação daquilo que os diversos e estanhados lados querem impor por cartilha ou novela de massa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário