Eu
te falaria, minha querida Amália, que essa pequena carta preza a que
nos unamos, você e eu, para uma vida melhor… Não que seja alguma
receita de milagrosos consertos, que houvesse um segredo qualquer
neste mundo corrido de informações, algo de projeções e muitos e
contínuos disparates. Quem sabe o discurso não possua métodos –
quando de duas pessoas que se comunicam, mas se passa que não sei a
questão tão inapropriada de me dirigir a você sem as reservas de
quem comete o bem a si, mas gostaria de que se compartisse a outro,
nem que seja a outro leitor, pois porventura podemos não partir de
certo princípio cabal desse encontro teu com as letras, mas
reservemos o direito de ao menos manter certo sigilo.
Amália,
você tem falado de tantas coisas que quando tomamos aquele café
naquela tarde saberíamos ao menos que havia surgido uma ponta de
amor. Você possui o mistério das mulheres, é digna de que um rei a
adore, e que falemos dos reis, posto quem sabe nosso amor é
absolutista! Não te fies no que dizem sobre mim, que as águas que
passam por minha consciência são maiores. Nem que seria tanto, pois
sou apenas um comum cidadão, e no que se versa venha à tona alguma
qualidade, quem sabe… É para mim que lhe digo, mesmo a nossa
efêmera intimidade não parece maior do que poder escrever algo e,
se estas letras te encontrarem, talvez fique mais feliz e mais
amoroso, pois as letras sempre serão meu amor maior! Pode ser um
fato desencontrado e, no entanto, é como prediz-se: o poeta nunca
está sozinho, nem em uma cela em que tenha que escrever com seu
sangue. Posto a poesia chega sempre algo nas mãos de um verdugo,
algo que apenas lhe escrevo para tornar sucinta a minha estada neste
mundo coberto de fumaça.
Amália,
que tal seria se andássemos por um jardim recoberto de flores, na
verve que a flor consinta, e que não valeria se não tivesse a rosa
para lhe dar uma de presente, que não queira, tudo bem, afinal as
flores não deveriam ser colhidas. Talvez eu minta um pouco antes de
dizer a si, mas é que tudo não é muito real, e ao mesmo tempo é
uma realidade aumentada. Seria pouco dizer que te amo e, no entanto,
a sinceridade do amor parece um alvo inconsútil! Na verdade,
querida, a carta que lhe endereço poderia ser submetida a um crivo,
a quase uma censura de teus olhos, mas não vejo que já estejas
assim, no modal subtraído.
Fica
o recado, na verdade não sei de seu paradeiro, e essas linhas que te
encontrem melhor sempre, no progressivo de se ser feliz, posto já
não seres mais uma moça, e não que eu não queira algo a mais do
que um olhar. Passo a monologar se isto não lhe alcance, mulher, e
que não desatines com algo que jamais esperaríamos que pudesse
acontecer, pois ao menos esse meu monólogo encerre o cantar distante
de um sabiá com a gaiola aberta, pois a porta se perdeu e me
alimento de grãos nas árvores e, tão logo porventura alcance
alguma resposta tua, sigo com as letras que me dão a companhia
talvez maior do que o passo de encontrarmo-nos. Fica, no entanto, a
esperança do encontro, a todas que se encontrem consigo mesmas e a
outras que, apesar de terem se encontrado, muitas vezes não sabem
quem são...
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