quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O ALQUIMISTA OURIVES

            Havia um homem, chamado Ademar, que possuía um ofício muito raro em sua aldeia; não que fosse importante citar o lugar, mas pode ser em qualquer continente. Era um homem solitário, mas amava qualquer volume, qualquer aresta, qualquer bicho, ou qualquer ser humano, pois tudo o sabia com isenção necessária. Não se considerava um produto da mítica das teles e recusava qualquer fama, em qualquer circunstância... Gostava das palavras algo um tanto tardio, mas nelas ancorava sua existência, seu grande navio, e quando as punha e as mexia zarpava, flutuava, navegando! Algo de soberbo lhe inflamava o imo, e vertia dessas raízes profundas que vicejavam seu espírito.
            Este homem não alimentava esperanças vãs, mas construía consciências como um ourives burila sua joia. Nas mais ermas, conseguia não impor suas ideias, mas vivenciar e compartir a história possível de cada ser. Seus fantasmas internos eram seus companheiros, e sabia deles como quem sabe das sombras de uma solidão de luz... Sua formação era alquímica e havia química em seu processo, pois navegava entre os seus como um igual e sua missão seria grandiosa, e o era sempre, pois não desistia de viver pensando como um adulto: comunitariamente. Era o seu foco, era o seu estar enquanto vertia na própria joia de uma consciência de trevas a luz necessária da experiência de seus próprios sofrimentos, suas penitências, seus sacrifícios, pelos que houvera inevitavelmente passado, mas que os resguardava como seu tesouro e patrimônio de sua existência enquanto Homem. Não havia método, apenas vivenciava as palavras que tocavam alegremente, como um dever cumprido em um prazer gigante o que lhe bastaria no seu próprio mundo, esse mesmo mundo que por vezes esquecemos que existe.
            Assistia alguns filmes quando de seus hábitos, pois sua aldeia era contemporânea do hoje, e seu local sabia do mar e sabia do concreto, e suas palavras sabiam da distância e da separação, bem como da união e da Verdade... Em seu mundo, não havia como não sofrer ao ver um próximo em dificuldades, mas possuía acuidade de guerreiro para perpetuar o sentimento que lhe aflorava a se construir caminhos onde se fizessem necessários, mas por vezes seus limites eram abraçados apenas por um olhar...

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