Havia um homem, chamado Ademar, que
possuía um ofício muito raro em sua aldeia; não que fosse importante citar o
lugar, mas pode ser em qualquer continente. Era um homem solitário, mas amava
qualquer volume, qualquer aresta, qualquer bicho, ou qualquer ser humano, pois
tudo o sabia com isenção necessária. Não se considerava um produto da mítica
das teles e recusava qualquer fama, em qualquer circunstância... Gostava das
palavras algo um tanto tardio, mas nelas ancorava sua existência, seu grande
navio, e quando as punha e as mexia zarpava, flutuava, navegando! Algo de
soberbo lhe inflamava o imo, e vertia dessas raízes profundas que vicejavam seu
espírito.
Este homem não alimentava esperanças
vãs, mas construía consciências como um ourives burila sua joia. Nas mais
ermas, conseguia não impor suas ideias, mas vivenciar e compartir a história
possível de cada ser. Seus fantasmas internos eram seus companheiros, e sabia
deles como quem sabe das sombras de uma solidão de luz... Sua formação era
alquímica e havia química em seu processo, pois navegava entre os seus como um
igual e sua missão seria grandiosa, e o era sempre, pois não desistia de viver
pensando como um adulto: comunitariamente. Era o seu foco, era o seu estar
enquanto vertia na própria joia de uma consciência de trevas a luz necessária
da experiência de seus próprios sofrimentos, suas penitências, seus
sacrifícios, pelos que houvera inevitavelmente passado, mas que os resguardava
como seu tesouro e patrimônio de sua existência enquanto Homem. Não havia
método, apenas vivenciava as palavras que tocavam alegremente, como um dever
cumprido em um prazer gigante o que lhe bastaria no seu próprio mundo, esse
mesmo mundo que por vezes esquecemos que existe.
Assistia alguns filmes quando de
seus hábitos, pois sua aldeia era contemporânea do hoje, e seu local sabia do
mar e sabia do concreto, e suas palavras sabiam da distância e da separação,
bem como da união e da Verdade... Em seu mundo, não havia como não sofrer ao
ver um próximo em dificuldades, mas possuía acuidade de guerreiro para
perpetuar o sentimento que lhe aflorava a se construir caminhos onde se
fizessem necessários, mas por vezes seus limites eram abraçados apenas por um
olhar...
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