A
se falar da civilização, não importando onde nem como, o diálogo
entre pessoas, com seus vários idiomas e dialetos, é a forma de
entendimento cabal. É o que exige de nós sermos civilizados,
ausentes de provocações e na base do respeito de cada opinião ou
ideia. É o que move em uma empresa a relação de patrões e
empregados, é a consonância que redime certa pressão ou stress, é
a forma correlata de uma sessão de análise, da consulta médica e
do acerto entre as partes. Não adianta muito mais pensar em
doutrinamentos, em posições de hierarquias desnecessárias, a não
ser em instituições que nela se baseiem. Mas tentar impor à
civilidade uma argumentação que não vai de encontro com a questão
da escolha pessoal, desde que esta não infrinja a lei, é parva no
sentido de não ter coerência com a mesma civilidade, a ordem que se
estabelece entre os pares, a condição primeira do entendimento…
Muito
se pensa que o ato do poder tem a faculdade de impor regras à
sociedade, de transformar o pensamento, enquadrar o ato. Temos muito
do pressuposto do invisível, de sabermos que pensar é coisa de
segredo único e individual, e desta fonte nada se tira se dele não
quisermos compartir ou abrir
para as gentes, mesmo porque não necessariamente o pensamento possa
ser dissecado, posto não se traduz em palavras nem em lógica.
Quando o organizamos para dar um sentido, como na escrita, estamos
usando de artifícios ou ferramentas que significam os tratos para se
chegar a uma análise, uma filosofia, um teor religioso, etc. Mas o
pensamento de Charlie Parker no sax e em seu Bip Bop, quem diria, não
se traduz nem em um minucioso estudo, posto ser improviso de modo que
não possui possibilidade alguma de registro, gramática ou imagem, a
não ser na música, assim como nas artes, na escultura, no desenho,
na literatura, esta, que seja, talvez com votos surreais.
O
ato do registro é relativo, portanto, e a arte é gigantesca como o
animismo, a espiritualidade, e esse rebatimento da ascese da arte com
relação aos diversos modais de expressão denota a busca da
disciplina interna no sentido de se chegar à mímese, ela mesma, da
arte como fator humano transcendente, seja em que campo for.
Propriamente, não há como relativizar a ciência que transcenda,
posto a atma, ou a
alma, apesar de ser não propriamente grande, ascende o homem para os
planos exotéricos na sua circunstância divina, e esse diálogo é
de suma importância, quando a ascese se torna exemplar pelo
praticante!
São
tantos os mistérios do Espírito que não podemos sequer mensurar a
sua grandeza. Internalizar esse conhecimento passa a ser tarefa nem
tão hercúlea quando sabemos dessa mesma grandeza e tentamos, como a
postura da prática de serviço devocional, alcançar esse universo,
desde nos rosários, na sacralidade de uma imagem, até um trabalho
na mesma citada devoção. É desse diálogo referido que nos
tornamos circunstantes de nós mesmos, sabendo que as coisas que
fazem parte de simples coletas como espias de diálogos fechados em
si mesmos, quando se baseiam em alguma técnica, hão de revelar o
atraso em relação ao tempo eterno que demanda conhecimento a
respeito do infinito. A partir dessa pressuposição, haverá sempre
mais diálogo em nossas entrelinhas de uma grande consciência, que
nos levará a uma semântica dinâmica e real, no que a ilusão perde
espaço para a plenitude do conhecimento transcendente.