Há quem diga que o Estado como
instituição é um ente quase abstrato. Não propriamente, mas a compreensão da
entidade Estado pode ser interrompida pelo ignorar-se a que ponto começar para
se compreender o fenômeno das sociedades, incluso que muitas o possuem de modo
quase anárquico na Ordem que se crê, em outras que se creem igualmente, fenomenologias
de fundamentos equivocados. Há uma passividade em ouvir de outros o que nos
chega, há uma cumplicidade em vermos somente os erros, em dividirmos o equânime
do justo, o anátema do problema, a equação do resultado... Se nos predispomos
aos rótulos dos lados, devemos saber que estibordo e bombordo estão separados
na sua realidade, mas em relação à rosa dos ventos podem estar avançado um e
recuado outro, mas estão sempre mirando a proa em sentido igual, e dando margem
à existência do barco, enquanto popa igualmente configurada, em que esta não é
inferior àquela que corta as ondas, posto geralmente impulsionar o barco e dar
a direção. Nos lemes, quase tudo funciona deste modo. Nas pranchas, o modo pode
ser sobreposto, e no entanto na engenharia não estamos muito distantes do que é
mais rápido, do que possui torque, de um barco de tração tipo rebocador, ou
mesmo de um submarino, todos com orientações cabais e indispensáveis à
compreensão de nossos limites frente à Natureza e seus oceanos. Posto isso,
resta sabermos navegar e enfrentar procelas!
Não demos termo à virtude, pois esta
é necessária, e estamos todos no grande barco, e não deixemos apenas a
pirataria vencer. Quando sempre, tentemos dialogar com todas as nossas forças,
aspirantes a algo ou não, já que barcos trafegam e a ilha é o nosso chão, o
nosso mundo. Um continente é uma grande ilha, e outros se sucedem, trilhas
existem por terra, mar e ar, comércios são trabalhados saudavelmente e
injustiças podem não aparecer no rádio da embarcação, mas certamente em outros
correm notícias, com críticas salutares ou, infelizmente, intolerâncias de
ocasião, penetras, disformes, preconceituosas, ou mesmo oportunamente salgadas
e opressoras com relação a outras plagas. Termos a consciência dessas prerrogativas
e saudar o fato de mais marujos ou pescadores saberem da realidade mais última,
mais abundante, mesmo enquanto limitada em nossas idiossincrasias, é fator
relevante para que alguns não sobrecarreguem mais do que seu peso e suas medidas,
que caibam estas na intenção patriota de sermos quem somos: um país livre, sem
moldes sobrepostos, onde certas máscaras fazem parte da rotina de uma
superexposição midiática que já vai dar os costados em um risível circo onde a
hora é a dos palhaços. Essas âncoras que não são as melhores, pois não possuem
corda o suficiente para atracarmos em portos ou enseadas mais seguros, já que
algumas até nos fazem boiar no contrapeso...
Por mais que alguém nos olhe com
olhos iracundos, por mais que um vizinho teça um ódio gratuito por usarmos uma
roupa qualquer, por andarmos mais trôpegos, por pedirmos um pão, por sermos
pobres, negros, mulheres de vanguarda, por dissensões religiosas... Por mais
que haja algo assim, saibamos que estamos em uma vereda, e as pedras que
caminham na frente dos nossos jardins, por vezes com muros gradeados, podem se
rir, podem negacear com firulas irônicas, mas de outra feita são moldes
sobrepostos, onde porventura podemos escolher os primeiros e mais suaves, talvez
de outras primaveras, talvez em um inverno confortável, posto esse mesmo ódio é
naturalmente transposto pela sinceridade, mesmo quando pertence a grupos que
pregam o sectarismo ou monstruosidades afins. Só lamentamos se não mudarem,
pois a hora do mundo mudar é sempre a mesma em toda a eternidade, já que alguns
nascem mudando, e alguns murcham suas vidas em vinganças sem rumos, mesmo que
involuntariamente, ou calcados em certezas que de sóbrias só falta a roupa em
que o último molde se sobrepõe àquela primeira certeza de que nada seria o
mesmo se abrisse o coração sincero à verdade, que é o bom senso de se navegar
com os quatro pontos: referências da embarcação, e as estrelas que estão no céu
para isso mesmo, dizer-nos que são maiores que nosso mundo, mas que sempre
estiveram a orientar os nossos rumos!
Por ventura vemos na face de um irmão, companheiro, camarada, parceiro, ou –
vejam só o estigma dos nomes – seja o que for, consanguíneo, amigo, apenas
alguém. Quando este alguém possui dúvidas com relação a certezas em que se
frustram por vê-las dissecadas por uma realidade confrontada concretamente,
pode não se dar conta que a realidade em si da espécie que julgamos mais
evoluída, que pensamos ser, está partindo para um hedonismo ou em participações
paliativas quando pensam que na horta orgânica apenas está o consentimento de
não destruir a Natureza. Quando conflitos dessa ordem surgem em suas psiques,
pensam que o que está valendo é ganhar a riqueza perdida, aliar-se a todo o
tipo de truque escuso e fomentar uma espécie de vida liberal que nada tem a ver
com uma consciência maior coletivizada, ou seja, como em um formigueiro,
solidária e conforme, sem o egoísmo que nos separa de uma triste condição que
assola os mais vulneráveis. Alguns podem se perguntar: para que serve um
portador de doença mental? No entanto, as sociedades contemporâneas trouxeram
para seus múltiplos extratos sociais essas condições de uma enfermidade
secular dentro de uma paradoxal saudabilidade, posto muitos seres que se fazem saudáveis estão partindo para
agressões dantescas, enquanto a maior parte dos enfermos psíquicos sofrem agressões com origem em atávicos preconceitos.
Resta sabermos, os moldes vestem o
caráter humano, mas chega-se à conclusão que o paradoxo humano é o inumano, quanto
deste ser é necessária a mesma conduta para fazer valer a competição animal em
que se tornou o mercado “livre”, em que os que são qualificados para um
trabalho qualquer têm que possuir o mesmo caráter algo cruento ou sexy na
instrumentalização dos eventos em que se consome o trabalho mesmo no ato do
recrutamento. Se não contextualizarmos que muitos dependem de um barco para
navegar, estaremos ignorando que outros precisam daquele para sobreviver, e não
é citando apenas as fronteiras externas, mas aquelas que possuímos dentro de
cada qual, em cada ser - humano ou não, quando se fala da Origem e da Natureza.
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