João
gostava de seu trabalho. De qualquer modo, passara por tanto e tanto
na vida que agora estava aprendendo a carpintaria. Mas pulara de
ofício a ofício e no entanto apenas soube o como e igualmente
aprendeu a ensinar. Não era um professor formado na Universidade,
mas em todas as obras em que exercia o ofício ensinava àqueles
iniciantes a arte do trabalho, sem que se desse por conta de que não
conseguia ele próprio atinar em apenas uma função, ou seja,
possuía temperamento de estranhar em ficar parado em foco, em
atenção, pois sua mente parecia estar em ebulição permanente.
Dava uns toques aos amigos, dizia que temperos usara na cozinha, como
lavara melhor a louça sem grandes detergentes e se gabava, apesar de
isso não ter nada a ver com um pensamente mais lúcido, de beber
água da torneira… Muito se lhe passava na cabeça, e viver com uma
companhia lhe era complicado, já contava na meia idade. A arte era a
única coisa que o absorvia mais, com toda a sua técnica, não
apenas nas artes visuais como um pouco na literatura, este um
território imenso com todas as suas letras. Mas nunca ganhara um
níquel com a mesma arte, e no entanto seus ofícios na verdade
complementavam-na.
Muitos
o achavam esquisito: com seu violão, sua forma de pintar, seus
resultados em textos, mas João – em virtude de tantas as
dificuldades que enfrentara em suas veredas – era feliz a seu modo,
com o que tinha, mesmo com uma liberdade algo cerceada, posto
encontrar encantamentos na Natureza e companhia onde menos se espera
de um mortal. E, no entanto, aprendia coisas para construir quiçá
em suas fantasias e expressões, um arcabouço de variedades que
consentiam com algo que muitos não compreendiam, já que a ciência
tomava a dianteira com as suas maravilhosas coisicas. Também o
fascinava a ciência, os filmes, mas sempre tentando aprender com os
roteiros esmiuçar o processo produtivo da indústria do
entretenimento, e a computação era mister para ele com todos os
recursos com os quais pode contar o vivente do século XXI!
Tantas
esperanças possuía em que muitos ou a maior parte da população
soubessem os ofícios e seus diversos materiais, pois quase invejava
um bom engenheiro ou um excelente médico, já que João não possuía
diploma, e não era propriamente a graduação, mas a qualidade do
profissional o que o encantava. A excelência, a competência a
qualidade, como quando compramos batatas e temos que escolher, ou
mesmo termos boa terra e bom lavrador. Essa metáfora de certa forma
óbvia a que compreendamos o significado mais simples da existência.
Chega a ser fundamental buscarmos simplificar, desde porventura o
nosso affair com o divino no pensamento quanto a busca que
temos de modo árduo para saber a verdade de nosso mundo, o que pode
se tornar complexo se cairmos na artimanha da dissimulação… Posto
a vida serpentina não seja ideal quando estamos e queremos estar na
questão da sinceridade. E o que seria a vida serpentina? Senão algo
que porventura não sabemos que a vida seja de fácil compreensão, e
na verdade a simplificação é importante pois revela a compreensão
compartilhada, ou a própria solidariedade entre o entendimento de
alguém que saiba a uma consciência majorada naquele que ignorava a
compreensão do tema. Seria de João a tarefa existencial mais
conforme com as situações em que, na sua forma de viver, amava
lecionar, amava compartir e, principalmente, o estudo como base de
sua compreensão a respeito da natureza e sua ciência. O estudo que
tantos países ou grupos provaram ser um verdadeiro mote de
desenvolvimento: desde seu particular como ao todo. O estudo
autodidata, sem a pretensão de ser universal, pode vir a ser mais do
que sem a riqueza dos livros, os grandes mestres da cultura dos povos
de origem civilizatória onde a imprensa graças a Deus fez a sua
agregação cultural, dando margem a que muitos tivessem acesso ao
conhecimento. Pois algumas coisas são tão importantes, tão
cruciais ao universo humano como foi efetivamente a criação da
imprensa por Gutenberg. Essa transposição do acesso antes restrito
da cultura das letras veio permitir democratizar os textos e as
gravuras para muitos. Esse paradigma tecnológico construiu as bases
para a sedimentação da cultura erudita e popular, considerando o
tempo que se sucedeu até nossos dias. Com base nisso apenas está
uma história de João, ilustre anônimo que não era teórico mas
aprendeu com os livros.
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