sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A ARTE E O OFÍCIO

          João gostava de seu trabalho. De qualquer modo, passara por tanto e tanto na vida que agora estava aprendendo a carpintaria. Mas pulara de ofício a ofício e no entanto apenas soube o como e igualmente aprendeu a ensinar. Não era um professor formado na Universidade, mas em todas as obras em que exercia o ofício ensinava àqueles iniciantes a arte do trabalho, sem que se desse por conta de que não conseguia ele próprio atinar em apenas uma função, ou seja, possuía temperamento de estranhar em ficar parado em foco, em atenção, pois sua mente parecia estar em ebulição permanente. Dava uns toques aos amigos, dizia que temperos usara na cozinha, como lavara melhor a louça sem grandes detergentes e se gabava, apesar de isso não ter nada a ver com um pensamente mais lúcido, de beber água da torneira… Muito se lhe passava na cabeça, e viver com uma companhia lhe era complicado, já contava na meia idade. A arte era a única coisa que o absorvia mais, com toda a sua técnica, não apenas nas artes visuais como um pouco na literatura, este um território imenso com todas as suas letras. Mas nunca ganhara um níquel com a mesma arte, e no entanto seus ofícios na verdade complementavam-na.
          Muitos o achavam esquisito: com seu violão, sua forma de pintar, seus resultados em textos, mas João – em virtude de tantas as dificuldades que enfrentara em suas veredas – era feliz a seu modo, com o que tinha, mesmo com uma liberdade algo cerceada, posto encontrar encantamentos na Natureza e companhia onde menos se espera de um mortal. E, no entanto, aprendia coisas para construir quiçá em suas fantasias e expressões, um arcabouço de variedades que consentiam com algo que muitos não compreendiam, já que a ciência tomava a dianteira com as suas maravilhosas coisicas. Também o fascinava a ciência, os filmes, mas sempre tentando aprender com os roteiros esmiuçar o processo produtivo da indústria do entretenimento, e a computação era mister para ele com todos os recursos com os quais pode contar o vivente do século XXI!
          Tantas esperanças possuía em que muitos ou a maior parte da população soubessem os ofícios e seus diversos materiais, pois quase invejava um bom engenheiro ou um excelente médico, já que João não possuía diploma, e não era propriamente a graduação, mas a qualidade do profissional o que o encantava. A excelência, a competência a qualidade, como quando compramos batatas e temos que escolher, ou mesmo termos boa terra e bom lavrador. Essa metáfora de certa forma óbvia a que compreendamos o significado mais simples da existência. Chega a ser fundamental buscarmos simplificar, desde porventura o nosso affair com o divino no pensamento quanto a busca que temos de modo árduo para saber a verdade de nosso mundo, o que pode se tornar complexo se cairmos na artimanha da dissimulação… Posto a vida serpentina não seja ideal quando estamos e queremos estar na questão da sinceridade. E o que seria a vida serpentina? Senão algo que porventura não sabemos que a vida seja de fácil compreensão, e na verdade a simplificação é importante pois revela a compreensão compartilhada, ou a própria solidariedade entre o entendimento de alguém que saiba a uma consciência majorada naquele que ignorava a compreensão do tema. Seria de João a tarefa existencial mais conforme com as situações em que, na sua forma de viver, amava lecionar, amava compartir e, principalmente, o estudo como base de sua compreensão a respeito da natureza e sua ciência. O estudo que tantos países ou grupos provaram ser um verdadeiro mote de desenvolvimento: desde seu particular como ao todo. O estudo autodidata, sem a pretensão de ser universal, pode vir a ser mais do que sem a riqueza dos livros, os grandes mestres da cultura dos povos de origem civilizatória onde a imprensa graças a Deus fez a sua agregação cultural, dando margem a que muitos tivessem acesso ao conhecimento. Pois algumas coisas são tão importantes, tão cruciais ao universo humano como foi efetivamente a criação da imprensa por Gutenberg. Essa transposição do acesso antes restrito da cultura das letras veio permitir democratizar os textos e as gravuras para muitos. Esse paradigma tecnológico construiu as bases para a sedimentação da cultura erudita e popular, considerando o tempo que se sucedeu até nossos dias. Com base nisso apenas está uma história de João, ilustre anônimo que não era teórico mas aprendeu com os livros.

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