Mais
um dia, mas era feriado no país. As posições da climatologia
afirmavam que não haveria chuva, principalmente sem variar no
interior gigantesco, com a seca que praticamente incendiava os
matagais. Mas na cidade de Emília fazia bom tempo, e ela não queria
estar muito a par de alguma tragédia humana ou natural. Conseguira
uma promoção em um novo emprego, justo quando entrara, pois omitira
o fato de conhecer inglês fluentemente, e de balcão rumara ao
administrativo, quando finalmente conversara nesse idioma com um
fornecedor estrangeiro. A pequena loja era, na verdade, um
atacadista, e havia um galpão na rodovia federal que poderia
armazenar estoques das roupas que comercializavam. Da loja, ela
controlaria algum fluxo mais simples nas planilhas, mas haveria de
fazer contatos comerciais principalmente com fornecedores chineses e
suas jaquetas – principal mercadoria – com preços de acordo com
a crise. A Cruiser era uma boa marca, e de micro empresa já
se transformara em uma de médio porte, e na cidade que não era
apenas uma boa capital de boa logística, já se confirmavam outras
praças do mercado regional daquele Estado, onde as roupas e seus
acessórios já firmavam contratos permanentes com a empresa Hen
Shi, chinesa. O objetivo último de Claudinei seria ampliar até
consolidar um bom mercado, e depois usar uma marca outra para tornar
o comércio de acessórios mais flexibilizado, diversificando
investimentos e padrões de consumo. Para Claudinei, a linha de
frente eram as pessoas, e Emília com seu inglês fluente entrava
como funcionária mais graduada na empresa, igualmente com seus
conhecimentos de planilhas eletrônicas, seus fluxos e cálculos.
Inicialmente, passaria a ganhar bem mais do que seus 1400,00 reais
que obtivera em sua experiência no balcão de uma padaria, mas
trabalhara tão bem que o dono da padaria lhe fizera uma contra
proposta, mas o emprego na Cruiser era irrecusável.
Bem, a sala onde trabalhava era pequena e os espaços possuíam a
aura de aproveitamento total, essencialmente informatizada, e
funcionalmente eficiente. Os objetos de escritório não faltavam: as
pastas, um ficheiro de gavetas, uma rede bem segura, quatro
computadores e dois telefones. Tudo dentro da ergonomia perfeita e
com intervalos para os operadores, como no Japão, dez minutos em
cada hora. Na parte de baixo desse escritório funcionava a loja e
Claudinei a maior parte do tempo atendia a clientela pessoalmente,
pois gostava de atender, e essa era a sua qualidade maior como
comerciante. Gostava igualmente de conferências econômicas, mas não
sabia outro idioma além do português natal e um pouco de espanhol,
de tantos verões que aprendera, haja vista a capital – litorânea
– receber tantos turistas latino americanos em sua maioria na
temporada do verão.
Os
tempos daquele ano transcorriam aparentemente mais serenos no
espelhamento da personalidade de Emília. Estava afeita com seu
progresso, e vislumbrava tantas as possibilidades da solidez
profissional, que nunca pensara no estudo como vantagem ou trunfo,
visto para ela sempre ter sido uma necessidade. A lógica dos números
e a natureza das palavras eram duas coisas que lhe davam imenso
prazer, e recordava seu primeiro romance lido no original em inglês,
uma história de suspense de Agatha Christie. E a sua aproximação
diletante com as planilhas, especialmente a Excel, que seria uma
mostra de como organizar seu planejamento financeiro doméstico, a
supor, que funcionara como um aprendizado com aplicação prática.
Apesar disso, o cálculo nunca fora muito o seu forte, quando no
nível das derivadas e integrais, na faculdade que não terminara…
Nas suas horas de folga, gostava de tirar fotos que revelavam sua
sensibilidade, e seu amor à Natureza impulsionava essa modalidade de
arte. Recentemente, dera para estudar programação e, já com meio
século de existência, jamais parava de estudar, pois vira na
prática que isso era uma coisa que muitos deveriam se espelhar, não
necessariamente autodidatas como ela, mas igualmente na importância
que tem a educação para o povo de qualquer nação, uma condição
fundamental para a formação dos futuros profissionais ou artistas
que partem a construir o arcabouço cultural da sociedade. Emília
acentuava seus dotes de mulher independente, e agora estava mais
realizada com a oportunidade esta que lhe aparecera. Seus rumos
praticamente ampliavam, pois de sua experiência com o orçamento
doméstico partiria para a consecução do controle de estoques e
outros aspectos da administração de uma loja já estruturada, o que
precisava apenas de mais insumos na inteligência operacional.
Conforme saber-se do novo como pressuposto, da tecnologia que agrega,
que se torna por vezes indispensável, mas que não é por si
estanque, ou última palavra, haja vista uma nação investir em seus
próprios potenciais criativos, para não cair na modorra de se
tornar cada vez mais dependente de recursos duvidosos porquanto
separados da realidade própria de cada nação que urge pela
independência efetiva e progresso consolidado. Então, cada vez que
Emília tinha uma ideia, cada vez em que mais e mais optara por
softwares abertos, Claudinei a admirava e pensava: como então, uma
mulher madura que mais parece uma eterna estudante e fomentadora de
novidades, que boa funcionária tenho!
Emília
passara a viver pensando em como otimizar a empresa. Entrava cedo e
saía tarde, mesmo porque não possuía um computador ou todas as
ferramentas que a Cruiser dispunha. Quem sabe dali a dois meses de
economia pudesse comprar o necessário para se desenvolver, embora
seu patrão lhe desse carta branca para desenvolver suas ideias e
projetar sua eficiência. Promoveu-a, depois de três meses de
trabalho a secretária e desenvolvedora, duas funções que até
então revelavam a aceitação de uma inteligência multifocal à garantia de se obter vantagens. Como secretária organizava tudo que
houvesse dentro de sua alçada, e como desenvolvedora trabalhava
espelhando ideias realizáveis a curto e médio prazo não fora da
sua função do secretariado. Aliás, o secretariado moderno, onde o
diretor, através de sua própria atualização dial, sabe a que
serve o funcionário. A transição se fazia na mesma modernidade em
função do fator tempo reservado dinamicamente com as novidades e um
outro funcionário pesquisava para manter Emília a par das novidades
e possibilidades de inovação. A empresa renovava as perspectivas, e
era inegável que Emília passava a exercer uma importante liderança.
Uma verdadeira e genuína TI se formava, junto aos contatos
presenciais com outros atores representantes de outras empresas ou
grupos empresariais.
Emília,
com o crescimento exponencial da Cruiser, assumira finalmente a
diretoria financeira e de recursos humanos, conciliando uma carreira
de executiva praticamente meteórica. Investidores apoiaram, o
crescimento foi compatível com o mercado e ela começou a viajar
bastante a negócios. Tornou-se sua vida mais plena, posto ainda que
antes estudando de somenos aparentemente, revelou que – finalmente
– em seu diálogo consigo mesma é importante estudarmos se
quisermos crescer, e pensou: imagine uma sociedade onde a escola
pública seja um exemplo em democratizar conhecimentos com níveis de
excelência: a nação sorriria mesmo com dificuldades.
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