domingo, 8 de outubro de 2017

AS VERTENTES DE UM DIA

          Caíra a noite e cedo, bem de madrugada, o bairro estava quase encharcado. Temporada de algumas chuvas, as estações não se definiam tão bem mais, e o que estava por vir quiçá fosse a mesmice de todos os tempos. Não que todos participassem da mesma opinião, mas o descrito não seria ao menos opinião, já que a humanidade consolidava um desastre progressivo nas suas massas, onde suas lideranças apenas queriam o poder para continuar defendendo suas benesses e projetos duvidosos. Não vinha de alçada de nossa personagem… Ela houvera descansando um pouco de noites atravessadas, de uma sensação pura de desconforto, posto sabia que seus dias eram nada mais do que apenas um, quando acordava, e outro do dia posterior quando novamente acordava, onde as noites não mais eram do que intervalos necessários. Talvez houvesse a ciência do ciclo, exatamente, que seu corpo precisava do ciclo, seu corpo possuía o dia, possuía incluso a semana e o mês. Ela consignara suas memórias no caudal de seus tempos, depositando-as para um ninguém, pois jamais seria mais do que apenas um coração fraterno onde residia o atma. Essa mesma centelha, esse mesmo espírito onde não importava o que era seu corpo no mundo material, pois seria a fama algo que de modo nocivo erguem ou depõem em terra o que apenas Maya decide. Não que todos o soubessem, mas aqueles que ceticamente ignoravam a vida espiritual pelo menos não agissem de modo sectário contra essa ciência. A imaginação fértil já dava frutos de uma ciência materialista ao excesso, com as famas despejadas em pequenas frações em que muitos queriam viralizar a conquista de seus espaços cibernéticos, sem saberem que a notoriedade não seria fruto da atitude em si, mas de um modo raro porém enganoso da manipulação dos fatos ou da aproximação de alguns grupos ou poder, mesmo aparentemente paralelo. Que bastassem algumas entranhas extremamente lógicas, mas a ciência de gente grande deveria saber que nenhuma máquina funciona sem um operador humano. Deveriam fazer um recall sobre o filme Total Recall. Mas a nossa personagem escrevia em seu pequeno diário as anotações que recebiam, e estas vinham com a velocidade da luz, a própria velocidade incógnita em que um gênio como Einstein mostrara à humanidade ser a limitante de seus sonhos na corrida espacial. Mas que em um rabisco pode se manifestar o que das sinapses, estas sim – unidas à percepção e síntese – um ato veloz como a luz, apenas com um suporte e um antigo meio, estes sim, sem os freios que nos impeçam a expressão. Pois sim, a se reiterar a individualidade em seu universo, em suas sinapses, mostramos por A mais B que todos são universalmente distintos, porquanto ser crime coletivizar diferentes idiossincrasias. Há regiões cerebrais que podem estar sintonizadas ao bem comum, e igualmente torna-se necessário a toda uma sociedade o compartilhamento do que vem a ser a medicina nesse contexto, haja vista muitos de natureza profundamente intelectual virem apenas a sentir uma intervenção que nem para todos mantém sequer a coletivização de antanho, de décadas e décadas atrás, que seria apanágio e consubstanciação de uma certa estabilidade em sentirem-se ao menos úteis… Mas torna-se insuficiente se não compreendermos a ciência e os cientistas de países mais ricos para aprendermos com estes a como aprender a sermos ao menos mais sensíveis nas matérias mais densas, mais intensas com os necessários estudos e dedicação, sempre no sentido qualitativo de sabermos sanear as nossas dificuldades. Obviamente, o saneamento e sistemas de drenagem fluvial e as despoluições não fazem parte de algum mistério de alguma ideologia, mas de países que logicamente aplicam suas políticas públicas de acordo com um senso de bem comum. É igualmente factível que quem roubou merece punição de modo penal. No curso de um dia, que uma toga descanse para equilibrar sua consciência e a possibilidade coerente de sua profissão, para que não haja qualquer motivo parcial de defender o desequilíbrio dos pratos da balança, pois se assim não for a espada recai sobre as instituições como um todo. O que se esperará sempre de uma sociedade justa é o estabelecimento de um bem comum, e não de um jardineiro que mal possui o seu tesourão, e possui apenas uma torneira na favela, enquanto outros possuem paradoxalmente estoques de ouro acumulado, em que essas diferenças não farão de um dia a dia tão óbvio como desejam que o seja.
         As prerrogativas vêm obviamente do fato de muitos estarem envolvidos até a medula com a Natureza Material, com razão, mas quando pensam que as esperanças em um mundo melhor seria fruto de alguma filiação, não tardam a ressentirem seus próprios erros em compactuar muitas vezes com o rebaixamento de seus status humanos, quando se apercebem o modal do que era quando algo se empoderava cada vez mais através de Governos concessionários, e que agora vestem a roupa do verdugo revolucionário, aquela peça de peão sem rumo em um tabuleiro somado em espécie do que não se encontra mais aquele bilhão que se prometeu. A mesma concessão que o impedia de possuir um real pensamento a respeito torna-o intolerante com aqueles que pensem de modo independente sem serem sectários, pois é realmente transformador – ou será – aquele que, formado por seus representantes na democracia, e por todas as suas estruturas, governar realmente com mãos limpas. Só será genuíno o homem sem culpa no cartório.

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