terça-feira, 3 de outubro de 2017

EMÍLIA ENCONTRA RAFAEL

          Que tanto esperava Emília, ao encontro de si mesma inicialmente, conforme orientação existencial de seu imo, mas que tanto encontrava ela, em si? Digamos que seu presente – momento – eram as flores que encontrara, de tanto repetirmos o verbo, que por vezes o encontro não é tão negativo quanto supomos, em um que de sociedade desencontrada, ou submissa a projetos tão neutros como uma barber shop by friends… Quanto de quilates amorosos ela criara de sua fértil imaginação, se o mero abraço vinha encriptado por códigos de whatsapp? Não se fossemos um tipo de Keruac, um Henry Miller, ou um mero Balzac, nas transposições culturais tão dissonantes em nosso tempo, saberíamos certamente que o encontro da leitura com as gerações históricas e suas transformações revelam uma tessitura imanente, no que pontuamos conforme um pensamento simples da expressão, uma vírgula mais sonante, um verbo colocado sabiamente em metáfora, a metonímia, sei, saberíamos um pouco mais de quase tudo o que nos é revelado fora da circunscrição da comunicação encapsulada por padrões de atuação mecânicos. Uma linha de texto se escreve com o contexto dos meios, e não será investigando modais digitais apenas que estaremos encontrando as verdades que estão posicionadas remotamente na aura previsível das superficialidades. Passamos, como Baudrillard prevera, a tornarmo-nos um sistema de objetos, onde o funcionamento das esteiras produtivas comercia com os nossos afetos, dentro de esteiras que aparecem com o nível temporal chamado por vezes de feed, onde inexiste o rótulo de empoderamento porquanto esse mesmo conceito é derrubado pela crítica tão simples os itens que pesquisamos em uma gôndola digital!
          Um giro pelas plataformas da percepção da Natureza, entre estas suas peças, seus seres, seus – que se dizem – donos de algo, a conquista amorosa ou afetiva tão preceptora de raízes fecundas que recebem água nas suas folhas apenas por vezes, a propriedade e seus signos, tudo são vestes da Natureza Material. E seus diálogos… É mister sabermos que muitos se alto proclamam feitos de lata, regurgitando a falta de caráter e a disseminação da violência quando afirmam que um quando não vai com a “lata” de outro acaba por amassar. O pão não se amassa assim: não traumatiza, alimenta, não fere, nutre. É sobre o encontro de nós mesmos com o significados de um padeiro em suas confecções maravilhosas que lembramos um grande conto de Górki, sobre um padeiro que trabalhava em um subsolo. Daí vêm alguns: não podemos ver nesse escritor algo de bom, por isso foi assassinado, e com razão. E outros: Trótsky era traidor, mereceu a perseguição. E outros: a morte de Guevara merece festejos. Tornar-se mártir parece uma glória, ainda mais como um ser que sobreviva através da violência, da matança. Esse paradoxo em que muitos não se dão conta de que a vida é mais preciosa do que a morte em uma luta que indiretamente levou muitas nações ao colapso, e a regimes que traçam paralelos iguais à demência em repetir erros que levam sempre às contradições de lógicas que creem imutáveis. Vendo o filme 1984 revelamos uma película de grande porte, em que Orwell mostra que somos ausentes enquanto não observarmos melhor a prática de estarmos conectados com um grande panaca, que somos nós mesmos, gastando um pretenso intelecto para – dentro de um ilusório teor de poder – acharmos que estamos ganhando algo em nos manifestar para um mundo desconstruído aqui no Ocidente, na mesma assepsia generalizada que passa a controlar nossas mentes com paradoxos e “leis alternativas”, quais Napoleões aberrativos de comédia sem freios que nos façam ter a noção do ridículo em que nos tornamos. Temos voz. Não, nada disso: apenas dizemos algo em escalas da pirâmide, e não naquela da concretude do poder, mas nas de comunicação de baixa frequência, em qualquer grau de sua hierarquia vertical. O rádio não emite, apesar de certos canais operativos serem altamente funcionais dentro do pressuposto de agilidade de robôs, mas seguirmos a alimentar de caramelos a fragilidade em que nos tornamos no mínimo é consequência de não prepararmos o feijão em casa para comermos junto aos abutres o que nos oferece a rua sem rumo e noturna.
          Emília pautou-se por encontrar Rafael, que ela não conhecia fora das redes. Que ela se tornara uma aranha, uma aranha fácil e devidamente preparada: sensível e higienizada… Rafael, de barba desenhada, era um gato, conforme o jargão do possível predador. Sim, pensou Emília neste ensaio de 31 anos, que supostamente gostaria de saber se Rafael era possível de um encontro, se possuía ao menos um carro, se oferecia segurança, se era bom, se a preenchesse. Emília estava só, milhares de Emílias, pois a vida sem sexo era tediosa, e as sex shops cansavam-na, quando em surdina procurava um bastão a se apoiar. Muitos eram os objetos, mas Rafael viera só, era um homem franzino, depois da foto de cinco anos atrás, mais novo, mais espadaúdo, mas era um homem: terno, não treinava, vivia…
          A princípio conversaram, depois tornou-se como uma amizade sincera, e o final feliz fica por aqui, pois todos merecem, apesar de certas buscas insanas, encontrarem seus companheiros/as na felicidade de uma pequena gota de orvalho encontrada em uma erva. Essa parecença de dificuldades de que se encontre uma razão a mais da própria sinceridade da conversa, e quem puder do bom vinho que bebam pelo poema, pois esse quase sempre se constrói mais solitário enquanto sóbrio, não necessariamente nessa ordem.

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