quarta-feira, 13 de setembro de 2017

ONDAS GIRANTES

            Saíam a passeio naquele arremedo de litoral, variados, com suas cores, sempre o ícone das cores. Não fora por isso, Emília torcia para que o mar ficasse mais calmo, em que as fotos dessem a urgência da tranquilidade. Aprendera mais um pouco o inglês, e a Inglaterra se tornava mais e mais próxima... Como um país que possuíra a história tão nascente, e sua imprensa formidável, pensava Emília, uma imprensa que se tornara desde muito algo mais confiável. Mostrava, revelava aos povos do mundo agora tão informatizado os pontos de mais imparcialidade dos fatos. Isso que mostrassem a ela, mas seguia não sendo uma leitora muito contumaz, apesar de ler na natureza de sua percepção as coisas de que gostava, como a oscilação das marés, os barcos ao longe com suas faixas de cores e nomes, as pedras imutáveis em posição, mas com dependência em relação ao nível das águas, os ônibus tão bem cuidados, por fim, a vida em si, que a ela pulsava tremendamente bela. Às tardes costumava resolver algumas tarefas domésticas, pagava contas, organizava sua cozinha, lia quando dava mais um tempo por si, e o desenho também lhe respirava alvitres. Um modo de expressão, como tantas as expressões, nem que fosse em um simples gesto, pois o teatro da existência existia em suas veias como algo a mais da arte, sim, da arte que para ela era o mote da vida... Seguia em presenças oscilantes de uma vanguarda em si, de uma mulher que deixava para si mesma o legado do ser, porquanto o nada e a inação também fosse típico de uma sociedade algo contemplativa, mas a ela bastava viver do melhor jeito, por trás de algumas veredas, mas no caminho que pertence a todos, invariavelmente, pois os carros andam por tudo, mas não por tudo que desejariam se tivessem vida própria. O traçado da cidade que navegava por seus olhos teimava em não consentir a geometria fácil do funcionamento, e a beleza era a profusão das gentes, os mercados, o comércio, toda uma luta em que muitos se viravam para estabelecer as suas propostas existenciais, o trabalho, algumas contendas saudáveis e o modo como se referiam em seus passos rápidos, na mesma cidade rápida, em suas partes mais antigas, de patrimônio arquitetônico, de estrangeiro – bem recebidos – e de outras tentativas de um conservadorismo algo hostil quando ao passar pelo burburinho.
            Olívia e seu mundo, pois que a ela parecesse mesclar-se em uma água, em uma onda que passava por entre as pedras, fluida, forte, e que vinha renitente, em um olhar que poderia durar dias quando o vento não mudava, quando a onda gira em torno de nós mesmos, quando de uma ou tantas pedras menores em que as vemos de cima, em um ocre escuro, quase negro, revela a transparência e resistência em tornar-se mais clara que a própria água, no vai e vem, em centenas de pequenas gotas, infinitas joias da Natureza. Era um olhar quase solene, nada antecipado, de rompante sem lógica, ao menos no que não percebia que essa ciência navegara sobre até mesmo as pedras newtonianas. Uma vida não integralizada, posto nada seria o mesmo, como não será em todos os mundos, como uma centelha signifique ao Universo a fagulha do existir antônimo da fama ou do poder. Assim era predito, ou ao menos quase, e o amor por Emília deste que se ausenta em carinho humano faltante era o retorno de uma natureza humana e de seres animados e inanimados gigante por ser apenas, e que a ela lhe bastava, mesmo que de modo mais ingênuo perante qualquer crítica indutiva.

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