Mais
um dia de transições, ao menos na aparente mania de se pensar que
assim fosse… Havia no jardim de Emília um arbusto que dera sinais
de vida depois de uma poda sem freios, que ela empreendera no sentido
de fazê-lo crescer rapidamente, a pensar que as flores logo
surgiriam. Esse logo que era o problema, uma lógica que espera
resultados, e que estes só se dão com a intermitente palavra final
do clima, da natureza, da planta. Tantos foram os ramos de um
universo particular que a palavra lógica não traduziria o trabalho
para cada planta outra: seus nós, suas folhas, suas páginas a
respeito, pois se fosse uma questão de registro manual algum poderia
ajudar. Dependia sempre da água, da terra, e lidar com ramos era
para ela tão grande trabalho quanto uma reação nuclear, em si
ramificada, ou uma estrutura de diretórios ou pastas em um
computador, remontando a que isso fosse tão importante quanto o
conhecimento mesmo em que por exemplo – em uma questão mais
inteligente – uma palavra pode assumir diferentes significados,
dependendo do contexto, que seja, uma poesia a milhões de formas: a
verdadeira poesia, em que não há necessidade de ficarmos remendando
sonetos.
Outros
vasos de Emília, outras flores e tonalidades, e a sorte lhe beirava
ao precipício existencial como um bom parapeito de onde vemos se
descortinar por cima as montanhas, e não as vertentes de algum
enfado ou sensaboria que nos faça pular para o infinito. Não damos
esse salto, isso é vertigem, um tipo de alucinação existencial, se
é que poderia se chamar assim travarmos embates que não existem. A
verve dos discursos fatídicos ficara na imprensa gigantesca, que ela
via, no entorno de suas miragens, no discurso da tela. Fosse a tela
que fosse, notícias girantes, nada que fizesse recrudescer mais do
que a mesma mesmice. E que não ligasse, realmente não importava a
Emília que se dissesse mais do que o próprio nada para não se
contaminar de ovos podres tão largamente enfeixados pela tele-visão.
Mas era de importância capital, se assim não fosse não estaria
vivendo, como tantos outros que colocam tatuagens inapagáveis e
tortuosas em si próprios, deixando para um tempo de codinomes a
lição do que criam ser liberdade!
Em
sua própria realidade, Emília tinha lá suas manias – como todo
bom cidadão que graças a deus as tenha – de cruzar com a caneta
de modo vibrante, sobre contas e mais contas, exercícios numéricos,
equações que continuavam a inquirir seu espírito investigativo
pela simples noção de que uma mulher já aposentada tinha que
aproveitar melhor seu tempo corrigindo a si mesma no padrão vigente
e cartesiano quando o panorama é o julgar-se ou traçar caminhos
pela vereda da inteligência. Que daria no mesmo, a pressuposição
da intel era justamente formar pensadores que compreendessem
seu funcionamento, com a experiência cabal que não se trocasse em
miúdos toda uma conquista eternamente frutificadora e latente em
potencial de expansão a um indivíduo que fosse, junto com suas
noções de planeta Terra. Se fosse de coisificar, dir-se-ia que a
coisa era e seria rápida, mas as estatísticas não devem convencer
mais do que um texto que explique melhor certas questões de ordem
mundial… Os maiores estudiosos do mundo viram que sempre existiram
os estudos, e que estes – assim como na boa medicina – nunca
concluem carreira, a não ser que os trabalhos sejam estanques na
progressão de atualização para exercê-la em missões
humanitárias, em que o Criador agradece a esses braços
gigantescamente generosos. Esse fascínio que se chama ciência, em
diminuta escala em equações de primeiro grau e noções de lógica,
exerciam em Emília algo de poder em que ela gostava a ponto de amar
quando encontrava uma resposta através de utensílios ainda
frequentes como a própria caneta, seus lápis e as borrachas, estas
que preferia fossem de silicone, o que a tecnologia as trouxe no
reboque na novidade de materiais concretos. Seguia calculando, o
número acima com significados, o número abaixo igualmente com a sua
semântica, e as palavras com suas sílabas e ritmos que regulassem o
aprendizado coerente e contínuo da nossa estudante celibatária de
mais de cinquenta. A sorte lhe fervia o Animus, e o
pressuposto da compreensão agora quase numérica de uma abertura de
xadrez lhe empurrava questões tão nobres ao espírito quanto de
mergulhar de cabeça a ver que ainda possuímos corais no caribe!
Isso era rico, realmente, justo quando descobrimos onde e quando, em
que momento encontrar uma informação que não é apenas um soletrar
de significados, mas um conhecimento espesso que nos reduza um pouco
a um platô mais conforme não de certezas, mas de como construirmos
as dúvidas, e como aprender a elucidar alguma de suas partes, em um
diálogo de construção interno que porventura possa depender de
auxílio: do outro, daquele que dialoga com mais experiência, com a
sinceridade não dos sábios de virtudes acadêmicas, mas apenas um
perscrutador das coisas da alma que traduzam a matéria que a
sustenta tão maravilhosamente em nossas veias.
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