sexta-feira, 8 de setembro de 2017

CONTRAPONTO

           Segue-se um jogo de cenas fantástico, misto de farsa e de ilusão, mas igualmente de ciência gigante, a quase alicerçarem o domínio dos seres humanos. Não é preciso muita cátedra para podermos pensar a respeito do que encerra no pensamento, qual não seja que o leigo pode ser igualmente crítico e de vanguarda quiçá até mesmo por não possuir algum preconceito acadêmico. A universidade, no entanto, é um princípio de conhecimento que gera pensadores e cientistas na medida em que prepara o terreno, qual não seja exatamente o das letras, pois talvez seja este o ofício em que se pode aventurar livremente, o ofício de escritor, por quase necessidade, mesmo sabendo-se que não se inclui o ganho na maior parte das vezes, posto não sermos um país de leitores mais profundos, de termos uma massa mais crítica, de podermos alcançar bons resultados qual não seja apenas a intelectual substância das tentativas de ao menos levar uma mensagem, sem esperar demasiado o feed back… O exercício mental, a exposição de ideias sempre deve ser a razão em que se faz chegar a qualquer camada da sociedade o acesso às linhas de pensamento que envolvem o funcionamento das sociedades: como somos, o que queremos nos nossos desejos, quais as mudanças que são possíveis para que se melhore o nível cultural das humanidades e a importância da liberdade de expressão como parâmetro cabal quando da busca pela mesma Verdade que está na vanguarda do pensar-se e do portar-se civilizado dentro por vezes de uma barbárie sistêmica e imposta. A afirmação de que enfrentamos praticamente julgamentos do “outro” por vezes por sermos da mesma vanguarda citada acima é sinal de espécies de patrulhamentos ideológicos que tentam aplastrar na ignorância das massas as pontas de ideários reais, ao invés da dedicação e valoração de tentar subir a um nível mais alto o nível de compreensão das populações, evitando-se a pauta ferruginosa de cartilhas livrescas de antigos e já superados doutrinamentos políticos e ideológicos, onde a lógica não deva ser a rainha de um tabuleiro obsoleto de aberturas que estrategicamente não suportam a contenda do jogo com inteligências maiores. Os mais velhos devem ser escutados, com eles devemos aprender a história, mas se torna tarefa igualmente importante sabermos do que anda essencialmente na cabeça da juventude, da geração esta distante porquanto situada mais coerentemente com as inovações de cunho tecnológico que lida com uma sociedade multi sistêmica, com a Era da Informática. Uma era que começa, nos computadores pessoais, praticamente na transição do século XX ao XXI, em que devamos demandar esforços para que saibamos das suas engrenagens, dos melhoramentos, e, principalmente, do que podemos fazer ao consultar as informações que navegam com a velocidade da luz em nossos lares, em nossas universidades e nos displays portáteis, estes que já são acessórios cada vez mais indispensáveis aos olhos mesmos da massa que nem sempre conhece seus verdadeiros usos e sistema operacional. Enquanto não conseguirmos organizar os dados e informações que nos chegam em verdadeiras avalanches talvez sejamos seres vulneráveis a transtornos e males mentais na velocidade pungente de um verdadeiro bombardeio em nosso universo consciente, e sintomas decorrentes como a insônia, incapacidade em lidar com perdas ou afetos mal construídos e a extrema facilidade com que os filhos traçam conhecimentos que nem sempre são confiáveis.
           Pontuemos que deve haver um diálogo mais intenso e frequente entre as gerações mais experientes, aquelas subsequentes e sobremaneira uma educação que permita um pensamento crítico e histórico sobre as transformações tecnológicas ao longo de nosso passado, a ver que igualmente a roda foi uma invenção tremendamente transformadora, assim como o fogo, nas raízes antropológicas de nossa espécie. Hoje, sabemos ser da tecnologia o mundo digital, mas em diversos períodos de nossa história a tecnologia tem impulsionado não apenas a transformação da matéria, como as relações humanas, que vem desde a pedra lascada até a conquista espacial. É por esses fatos que transcorreram na história de nossas humanidades que nos situamos em uma escala evolutiva da ciência, mas não necessariamente de melhorias sociais. À medida que são criados cada vez mais os objetos de consumo, a complexidade de certas ferramentas, nota-se que também cresce a ingerência da exploração do homem contra o homem através do uso indiscriminado da própria ciência. Muitas vezes há grandes retrocessos históricos na falta de planejamento econômico de países em desenvolvimento, cessando este para dar lugar a verdadeira face de um subdesenvolvimento a serviço de potências estrangeiras. Mede-se um país em potencial pelas suas riquezas naturais, como um exemplo pontual do petróleo, e igualmente mede-se a condição do país frente ao domínio estrangeiro quando suas reservas do óleo passam para as mãos do mesmo domínio. O descaso se torna factual, e a riqueza efêmera das transações dessa ordem – gigantescas – passam pelas garras daqueles países onde a parte da população mais abastada tem como referência, como se nesses países existisse a nossa copiada matriz cultural. Uma tremenda falta de identidade brasileira deixa o nosso povo à mercê de uma indústria cultural sem precedentes, onde a pretensa participação atual através das redes sociais apenas transfere essa questão para um perfil mais cosmético, fazendo-nos participar de tremendos volumes de informação com baixa frequência, como um rádio operativo que nada resolve, uma tese de descarte, uma linha, um afeto de aceitabilidade, a transcrição do idioma pátrio ao zero de uma escala sem escalas maiores.
           Parece que a cidadania em país pobre latino americano como o Brasil remonta ao entretenimento de uma novela sem fim, não apenas no que se produz “culturalmente” aqui dentro, mas igualmente no que recebemos de fora, sempre a velha questão de evitarem as novas gerações de ler com mais assiduidade, mesmo fora do escopo do estudo acadêmico, pois justamente por vezes a leitura fora desse contexto é que leva o estudante ao conhecimento de outras vertentes, de outras questões, como nas gerações mais antigas se processava esse mesmo conhecimento. Aquelas camadas da população que tiveram bom estudo, se aprofundaram em boa literatura, que conhecem filosofia, arte, romances históricos, geografia, etc, certamente fazem parte do escol da cultura erudita brasileira e, portanto, da classe mais inteligente.

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