domingo, 17 de setembro de 2017

ESCOLHA INCERTA

          A troco de sermos sinceros em um idílio de formato bem breve, a escolha que traçamos é a pena de um giz rasgado no quadro negro, um apagar sonante das moedas, a mensagem em si, uma paráfrase na mesma semântica que se aproximasse do ritmo daquela mulher: Emília. Talvez bastasse que a personagem não existisse, mas o explicar é a fonte de alimentarmos as mensagens do mundo… Em sua juventude era mais seletiva com amores, pois era de uma atividade grande no afeto, e preservara incrivelmente essa qualidade na sua atual idade. Seu mundo contemporâneo a fazia pensar de tal forma que – justo com suas manias de cálculos e plantas – sua compreensão se dilatava mais do que o suficiente para ser rotulada como uma mulher do seu tempo. Mas ela não desejava que assim o fosse. Já houvera passado por tempos outros, e o resgate desse diálogo interno a abraçava sempre, desde ainda muito jovem: nada mudando. Mas a apuração desse afeto mandava que fosse mais receptiva em sua cotidiana e interna vivência, a reiterar que a vida individual, quando de uma percepção acurada, é extremamente valiosa. Eli Heil, uma artista do Sul do Brasil, seria um exemplo claro dessa genialidade em plasmar em seu próprio mundo as inquietações e procuras, fazendo-se entender maravilhosamente através da arte. Pablo Picasso, outro exemplo, como uma antena que girasse em favor de seu virtuosismo. Fica o mundo desses artistas, roga-se que se preservem seus legados, pois a imagem mais realista dentro de seu angustiado onirismo da Guerra Civil Espanhola foi Guernica, obra de gênio retratando o bombardeio alemão sobre a Espanha, justamente no local onde vencia a resistência a favor da República, antes da tomada do poder por Franco.
          A escolha incerta na ida e na volta de nossas dúvidas nos fazem tropeçar por vezes, mas um artista expressa seus tropeços, rasga suas obras quando as quer rotas, procrastina por vezes, mostrando algo ao mundo que este não está sempre preparado para sentir e ver, ou ler, ou mesmo escutar. Exemplos são dados para que se saiba que o processo de mudanças reais na humanidade igualmente podem ter um cunho político, um engajamento, com em Camus e Sartre. A mesma cunha em que a filosofia deva existir sempre, a que chegarmos a um termo, mas termos caminhado bastante para tal, e que essa ferramenta duramente – através do estudo mais e mais aprofundado – nos modele qual escultura de bom madeiro.
          Qual não seria dizer que Emília amara mais aos livros do que Oliver, seu único amor. Mais seria dizer que Emília tivera mais prazer no platonismo de seus amores do que propriamente na carne e suas relações que seu companheiro tão sabiamente ensinara. De uma necessidade pouca ao aparentar, mas que ele soubera das coisas do prazer, enquanto doidamente Emília vertia a atenção em tantos e tantos pares de dias aos estudos que o desgaste foi tênue e a separação singela e concreta. Pois a ambos aconteceu de conhecerem o mundo, a ambos foi a relação de companhia sincera quanto o que podemos crer que seja possível das relações saudáveis, sem venenos ou incrementos que não sejam a própria e frutificadora vivência cotidiana entre dois adultos intelectuais ou não, extremamente conscientes como quando ligamos a luz ao ler e desligamos ao dormir, em que a sequência de cada parágrafo iluminado gere mais energia, os watts de minutos na compreensão de séculos, em que depois de desligada a luz por vezes o tato no corpo alimente o espírito com o carinho de um prazer a ser descoberto em cada centímetro. Isso de medidas, de tentarmos narrar o inenarrável, parte daí a importância de coletivizar um texto para chegarmos a ver a dimensão do ser, de sua transparência, de não nos importar o nome, de abolirmos a propriedade sobre o “outro” justamente porque estabelecer esse critério nos faz sermos mais fracos quanto enfraquecemos as nossas posições como seres humanos, nosso moral, nossa segurança em nos sabermos mais fortes quando temos total confiança em quem nos tece a companhia…
          Uma escolha de erros seria sabermos que nada que nos alcance dentro de um padrão coletivo seria de qualquer modo melhor ou pior do que o seu oposto, mas pensarmos em um mundo melhorado para a maioria no mínimo é tal fato que nos remete a uma posição como seres melhores igualmente. Essa é uma dedução, por exemplo, que não se nos dite apenas pensarmos em uma caridade – assaz importante no entanto – mas na razão indispensável de criarmos oportunidades em que cada cidadão possa ter seus filhos em boas escolas e com serviços essenciais de primeira grandeza. No mundo torna-se fato de que todos devem pensar desse modo, para que um que escolha comprar um livro para seu companheiro saiba que termos acesso à cultura é condição sine qua non para termos uma sociedade melhor, sua indústria melhorada, melhorado o consumo, o saneamento, e os insumos necessários para que sempre se possa pensar e aplicar na prática a justiça social. Sem dúvida, uma boa escolha. Sem dúvida uma boa escola seria sempre bom para todos os que a possam frequentar, e que essa possibilidade não se arranje sem haver uma boa e saudável democracia, onde o cidadão participe de seus atos e regulamentações.
          Não devamos pensar se quando conversamos com alguém mais vulnerável, por exemplo, estaremos incorrendo em erro, pois isso apenas nos revelará a dependência que urdimos de modo opresso em relação àqueles que tem a opinião de chumbo, sufocante, posto no mundo em que estamos a convivência entre um cidadão e outro, independente de suas classes, são a porta para a compreensão de que a cunha nos entalhou o espírito para que possamos empreender a mudança interna necessária, que se refletirá nos caminhos que se abrem para a mudança dinâmica e permanente, dentro e dentro de nossas sociedades e, para fora, com os quesitos de as mantermos seguras.

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