sexta-feira, 22 de setembro de 2017

EMÍLIA ESPERA POR VÍTOR

          Um rescaldo da noite anterior trouxera nossa heroica mulher à tona… Quem sabe não fosse exatamente uma noite bem anterior, quem sabe o seu pulsar se escutasse dentro do coração, ainda que seu trabalho como secretária da associação a trouxesse de alguns associados uma estranheza particularmente real. Nada a ver muito, o Microsoft Word vibrara sonante como uma CPU tremendamente veloz. A culpa fora de Vítor que lhe trouxera do bom scotch. Vítor trouxera notícias da Inglaterra e a derrubada sorrateira da compreensão propriamente continental do que se tornava a Zona do Euro. Mas o mundo não olhava mais para os problemas de muitos países, a não ser a contemplação algo continuada e peremptoriamente paradoxal sobre aqueles que possuíam suas milenares riquezas. Alguns Mandelas trafegavam por todos os continentes e Zumbis apenas viam a cessação de seus quilombos. A miserabilidade era uma pontuação indiscreta frente ao ocaso de alguns sistemas imperiais, assim com em sua forma de mostrar as garras nem tão precisas mais, em termos de estratégia e operativos. De garras que firmavam falsas condutas abraçando como ursos moles os Direitos de Cidadania, mas essas mesmas tenazes de falso aço refletiam no universo do entretenimento páginas que buscavam nos hormônios mais aflorados seu cunho e teor imagético, profuso, caótico, profundamente – porém mal e incompetente – subliminar. Não era nem daria para fugir de um desfecho trágico quando alguém porventura mais inteligente pudesse mostrar que todo o investimento a partir do pós-guerra na indústria do ilusionismo finalmente – e deveras – caía por terra. Eram as notícias de Vítor, que encontrara em Londres as façanhas de melhores pensadores do antigo império, ou seja, de séculos imediatamente subsequentes. Emília era brasileira, e Vítor igualmente cidadão australiano e estadunidense: possuía dupla cidadania. Nesse Norte algo com nexo brilhante em que as escumas de alguns protestos desorganizados e anacrônicos podiam ter a visibilidade efêmera, algumas notícias rugiam por seu construir perene e concreto, notícias de circunstâncias estruturais, sistêmicas, internacionais, por vezes quase amadoras, ou quiçá em colchas de retalhos de ter fontes de retaguardas mais transparentes: com blindagens necessárias em seus vidros! Em países ainda fortemente alicerçados em seus capitais e circunstâncias febrilmente ricas, os povos já sentiam profundas diferenças pautadas pela concentração estranha ao american way of life. O estilo que se tornasse a cruenta dominação – declarada, assumida – não poderia competir com o atraso de séculos e séculos da supremacia romana em que a crueldade se oporia ao novo e mesmo estilo, das democracias “salvacionistas” mesmas do pós-guerra, em detrimento de certas cortinas de chumbo. Não há como apagar sequências históricas concatenadas, momentos que se cruzam, repetições de personas e líderes acachapados em rótulos de controle, códigos ocultos em sistemas que tangem a dominação como um tanque de guerra em um trigal, ou apoteóticas missões religiosas onde o Deus do Amor vira o deus da vingança.
          Surgia em Emília um sorriso ao ver Vítor, com aquele jeans que lhe conferia sempre a mesmice que a ela era agradável… Ele trouxera livros e mais livros. Estava ativo, mas a temporada em que estiveram juntos era tão agradável como o toque fraterno no que se passava entre eles. Um olhar... Bem, estavam no sul do Brasil. Mais precisamente em uma cidade serrana em Santa Catarina, onde as maçãs eram o forte daquele fim de estação. A primavera prometia bons goles de bom vinho, mesmo sabendo que para isso dependeria sempre de um mercado um pouco maior ao menos para se encontrar um chileno. Seria algo magistral a Vítor estar frente a um fogão a lenha, com seu violão ao colo e a presença tão terna de Emília. Três dias se passaram no idílio do encontro, mas tiveram que ir à Capital, pois o recesso de Emília houvera acabado e, desde as novas notícias que ele trouxe, verteriam no trabalho investigativo o modo de como alicerçar uma boa repetidora para o sul, de cunho independente. Partiriam da premissa básica alcançar bons sinais na TV aberta, irradiando ao Brasil as conquistas de sua própria independência, e as mudanças estruturais que se faziam em torno do mundo, como o start da boa navegação em um display, de modo mais profissional e seletivo, ao bom uso do que se quer real, dentro do pressuposto de se compreender o funcionamento. Assim mesmo ao compreender-se um sistema que seja: “Hello World”, como uma string necessária e seu valor na variável destinada que porventura pudesse se chamar amor = x, em que todas as letras outras do alfabeto sejam – concatenadas ou não – estruturantes desse princípio cabal.

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