quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

CONSONANTES PROPÓSITOS

 

Dialogar com a própria alma é estar próximo do não ser
Porquanto a alma não se fira, não esquenta, não deforma,
Enquanto a matéria engorda, estica e muda conforme
O tempo eterno que a tudo engolfa no mundo material.

Se um vivente tem estudado todo o seu tempo com as letras,
Se vive para se comunicar, nem que o seja consigo mesmo,
Este mesmo vivente pode mostrar a profundidade de seu pensar
Mesmo que a pena não seja tão grande quanto a ode de outro…

Não há fantasmagoria na produção poética, mesmo ao se pensar
Que outros escrevam por um, no que tanja sermos um corpo
E apenas um espírito, e o que se defende nessa questão
É que, se a poesia é reconfortante, não deixa de ser boa por si!

A brasa de um fogareiro não tece remissões longas
E, no entanto, claudica a força de não ter mais cinzas ou carvão
A se atar ao calor mais um pouco, e nisso percebemos que,
Enquanto crepitar um voo de pássaro ao mesmo tempo nos urge.

Quando de se ceifar o feno qual se subentenda um trabalho,
Haveremos de propor cortar a grama com uma boa máquina
Subentendida em um ramal de energia que a alimente
Como quando fazemos ou aparamos a barba com um aparelho.

Não, que não interpretemos as frases a mais do que sejam
Na medida em que elas são o que são, nada mais além
Do que um funesto medidor burocrata, que nada faz
De pretender colocar pingos onde os is não residem!

E se, por pretensão de parafrasear um verbo qualquer
A ação da palavra possui sua tépida trincheira a um outro
Ou ao mesmo que lê na pertinácia do significado puro
Onde se sedimenta o conhecimento da própria Lei…

E onde se acumula o verso, quadrante após quadrante,
Reiteremos que encontramos nos finais da estrofe
Qual seja, um significado que se antepõe frente
A tudo aquilo que negamos seja uma opinião sincera.

Uma vertente se nos nubla se apaziguamos as contendas
Em um modal escuso, na forma de atenuarmos não completamente
O que se judicializa na questão da inconformidade latente
Das versões que não encontramos nos anéis de Saturno.

Quem dera fossemos o fiel da medalha, uma honra ao mérito
De qualquer tendência que nos traga o apaniguado senhor
Quando pretende que se esconda a noite em seu rumor
Nas vertentes dos abusos que não pretendem jamais cessar…

Nisto de tudo que se deseja, o mesmo desejar reside na alfombra
Em seus interstícios, na poeira mal sacudida, em um pequeno inseto
Que por ventura venha nos ensinar que na luta da sobrevivência
O tamanho e a força acabam por serem de cunho extremamente ilusório.


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