sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A APARÊNCIA DO MEDO

 

            O medo se nos revela como a maior peça do jogo da hipocrisia… Um medo do poder de algo ou alguém, o medo de sermos vítimas de uma atitude covarde, como o medo que Jesus teve ao ser crucificado covardemente. Não podemos nos esquecer desse gigante sacrifício ao filho de Deus. O medo que se tem de toda uma parafernália dos meios, daí incluindo os filmes e seus fantasiosos ardis, da violência exposta nas TVs, das geringonças que inventam ou mesmo da – repetida – hipocrisia que encontramos em um mero diálogo entre dois amigos, ou entre um casal que não se entende deveras. O medo que não aparenta, ocluso, entre os espaços, de um caminhante ébrio louco por pertencer à cidadania, ou ao menos não possuir o medo circunspecto e resistente de receber ofensas em cada caminho que encontre pela frente. O medo de não encontrar amparo em algo de monta boa, de boa e sincera moral, de não ter muito onde se amparar, sem descobrir que naquele próximo ser aparentemente inimigo possa estar um bom ombro amigo, desses que estão vivenciando uma farsa de origem na mesmice do disfarce. O medo de um velho homem, mesmo sabendo que é na velhice – sem exceção – que devemos respeitar as frentes da idade, as fontes da experiência, a fraqueza ou a fortaleza de um homem, ou a dignidade ou fracasso de uma mulher!
          Não haveremos, amigos diletos de boa fortuna, de termos medo, pois às vezes no rosto de uma mulher negra encontramos uma tal fortuna de caráter que nos curamos, pelo menos por mais uma passagem de um medo em que a balconista de um supermercado se torna a autoridade merecida, por sua simplicidade e acompanhamento cabal do que sequer imaginamos. Haja vista que na solidariedade encontramos os refrescos aos nossos temores, e jamais por uma exposição da força, esta que pertença ao Estado somente, e a esta contemos como nossa proteção e autoridade.
De se servir sendo civis, ao trabalho e às ocupações frutíferas nos tornemos como na setorial vertente de um trabalho, que possa não ser pragmático, e a que mesmo os incapazes relativos o torne contínuo e apaziguador das manchas que possam macular intenções, ou nervos mais avariados. A seu termo, o medo de muitos não são os mesmos e, em batalhas rigorosas, nem o mais valoroso soldado possa afirmar que daquele não o tenha sofrido, posto na história da humanidade já termos enfrentado um vaticínio inescrupuloso, que expõe até nossa medula o que foram as guerras enfrentadas por muitos que habitamos, e outros que já habitaram este mundo.
           Afora tudo isso, o medo de não poder agir é deveras silencioso e sobremodo leva a um parecer por vezes mais sutil e, no entanto, lúcido como a rocha…
Esse medo da não ação deve ser compreendido como um certo recuo, um tipo de ação na inação, assim como por vezes há a inação na ação, em uma ida e uma volta, desde que sempre respeitados os diferentes modais de atuação, como o trabalho da arte da dramaturgia, ou mesmo da arte da representação. Posto que a arte desmascara o medo, assim como a Comédia seria uma deusa sem igual, no que a vida imite a arte, ou que – melhor dizendo – a arte represente a vida! Essa esfera traduz os mitos do herói, da pitonisa, do que se traduz igualmente na Tragédia ou no Drama, esse lócus sagrado de um teatro grandioso em que todos agora parecem que se espelham de um modo ou outro, desde as redes sociais até a plataforma de uma engendrada série comercial de uma TV assinada. Quem dera fôssemos tão artistas desse modo, quem dera a pertinácia da arte não recomendasse estarmos produzindo, cada qual em seu momento e que, em uma verdade assombrosa, o sagrado e o profano fossem apenas um diálogo saudável sem o bico de preconceito de nossas caras e bocas mirradas!


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