quinta-feira, 7 de maio de 2020

SISTEMAS DIGITAIS


          Quem sabe as novas gerações conhecessem o processo do advento do computador pessoal em décadas passadas, e não tão distantes de suas realidades. Hoje olhamos para trás, e o que era uma coisa grande, uma caixa com uma boa ventoinha agora já se encerra em um display de dez centímetros, onde a nanotecnologia já fabrica componentes bem menores e com capacidade de processamento verdadeiramente revolucionários, em se tratando de tecnologia e seus avanços. Perdemos um pouco a noção precisa da transição entre o acesso que antes apenas os abastados cidadãos possuíam para ter uma boa máquina e a popularização do mesmo acesso para quem está sem muito poder de compra em nossos dias. Na verdade, hoje muitos sequer percebem o real alcance dessas máquinas em termos produtivos, e a indústria de automação ganha cada vez mais corpo nas sociedades do primeiro mundo, e naquelas emergentes que por vezes apenas raramente investem nessa modalidade produtiva.
          Quem diria podermos materializar um protótipo em nossa própria casa, enviar o projeto em softwares digitais de computação gráfica, idealizarmos uma maquete digital, experimentarmos uma simulação de um laboratório e modularmos o entretenimento com truques onde a ficção – em sua aparência perceptiva – se torna uma outra realidade, transformando a virtualidade como condição de uma face dessa indústria gigantesca. A dimensão a ser tratada faz com que a própria física dos objetos seja equacionada remotamente, em máquinas que se desenvolvem com atitude científica cabal, onde até mesmo o átomo se torne quase visual, ou onde o cálculo seja cada vez maior, em suas probabilidades. Os games assumem a forma de verdadeiras e ilimitadas fantasias, onde a simulação pode abraçar até mesmo uma lavoura de soja, sendo administrada remotamente com comandos nem tão complexos, haja vista essa ciência ter permitido à dimensão humana mecanismos de controle de onde quer que estejamos. Onde uma estação espacial em Marte possa sondar com o auxílio desses recursos.
          Tudo muda quase o suficiente, mas duas coisas ainda são inacessíveis: as galáxias, tal qual sejam, conforme tentar-se-ia verificar a vida em outros planetas, e a gigante dimensão ínfima da realidade atômica, mesmo que visualizemos empiricamente o formato das infinitesimais partículas da matéria.
           Qualquer sistema digital abraça a matéria tal qual seja, dentro das supostas e inevitáveis limitações, mas a facilitação de levarmos adiante o paradigma espiritual, de emanciparmos sua divulgação através dos meios que temos atualmente, faz com que espiritualizemos a própria matéria, e a velocidade de disponibilizar textos dessa ordem leva o conhecimento igualmente para todas as esferas, e esse é um lado extremamente positivo de pensarmos a tecnologia como algo extraordinário. No entanto, com a comunicação rapidamente processada nos tempos de hoje, a negação de estudos mais profundos e pacientes, torna-nos reféns de uma superficialidade, de um insight aparentemente permanente sobre tudo, tornando-nos suscetíveis a que formas de Poder se imiscuam naquilo que realmente seja bom a coisas que seguem ritmos destrutivos, desnudando a matéria cada vez mais rapidamente em torno da exploração sem medidas, ou seja, um lado que quer dominar cada vez mais, fazendo irromper a modalidade da ignorância em escalas sequer imaginadas antes… Se um símbolo de curtir é melhor do que nos debruçarmos em um parágrafo grandioso de uma boa literatura, acabamos por nos convencer que um número qualquer é melhor que um poeta.
          Talvez o que estejamos vivendo seja um momento de transição entre a existência de um grande e rápido farnel tecnológico e a sedimentação em nossas maneiras de ver o mundo. Parece que o tempo gira muito rápido, mas a Terra dispõe de sua própria rotação, e o dia ainda é o mesmo, assim como na noite descansamos o nosso corpo. Algumas pessoas – não poucas – acabam por não compreender corretamente os dias atuais, e seguem com um orgulho em demasia que resulta em ações contrárias a um progresso necessário e paulatino que temos em estabelecer a ordem que demandamos em nossos países. Se não usarmos de um tempo precioso para olharmos com mais cuidado o que realmente acontece no planeta, que este também pode fenecer qual a rosa segurada com dificuldades, não veremos a ótica crucial que apenas fará relembrar as humanidades que deixamos adormecidas em seus claustros. A hora é sempre de se contemplar, não requeiramos contendas desnecessárias, que caminhemos para uma era de maiores luzes, pois se não for assim descobriremos apanhando uma clara lição em nossos rostos por nós mesmos que uma face de desavisados constantes vêm a sedimentar clara e cabalmente os equívocos que fazem de um retorno à mesma justiça que condena o homem a pagar pelos seus atos.

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