domingo, 10 de maio de 2020

MEU DEUS, SE SE CONSENTIR A TRISTEZA


Sentir-se, assim, de uma quase certeza do desastre
De um crédulo escrutinar as crenças, da vida que não cerre
As pálpebras do dilúvio algo de um barroco tardio
Em suas cornija ocultas, nos pequenos anjos de catedral
Que permitiriam um sentimento divinal, quem sabe uma frente
Onde repousarmos a fronte de Cristo na mansarda inquieta
Que reduz uma casa a um presbitério inconsonante com a voz
Que mantemos como uma chama, um velcro inconsistente
Naquela mesma tristeza que não cala o pressentir do futuro!

Assim, tardiamente barroco, um destino depois de renascermos
No que verse a transposição de toda uma arte, um encontro
Que perfaz toda uma existência de se sentir, que sentimos o triste
Como algo que faz parte da encomenda de uma cruz que erguemos
A nós mesmos, e que o sofrimento cristão nada tem a ver
Com redondilhas de prosperidades vis, nada tem a ver
Com o perscrutar de versos que buscam apenas uma veracidade
Que recai no olhar do pior leitor, apaziguando uma camada de ódio
Que porventura a criatura sente por encontrar enumerada a Verdade!

Deus nosso, que nos conceda a tristeza, de nos sentirmos tristes
Por todos os que se vão, e perdoemos – obviamente a quem mereça –
Uma sentença que não suceda àqueles que se retraem como moluscos
Ao toque de uma pequena vértebra quando seu ponto equidista
De uma anódina geometria a relatar os ditames da história
Enquanto essa deusa enumera gráficos de quem vai e quem fica.

As barbas se nos crescem, esquecemos de retificá-las, como a um carro
Nos pistões imberbes, no frentista que nos enche de esperança
Quando nos permite fumar fora dos muros da empresa
E somente nos fazem pagar quando a água fora trocada…

Se sucedem as empresas libertárias, os vigilantes permanecem acordados
Em cada nicho de quarteirão, nas beiradas da cidade, em bairros de bênçãos
De um aço esquisito, do roncar de um motor, seja de duas rodas
A vermos que os úberes estão cheios de entregas com preços de baixas!

Naquelas questões, e se me perdoarem pelos interstícios da poesia
Saberemos melhor que escrever não é um ato profano, pois exibe a cada minuto
O continente de nossas virtudes, e quem se lê a si mesmo sabe do que se fala...

Nenhum comentário:

Postar um comentário