terça-feira, 5 de maio de 2020

UM JOGO SEM TRÉGUAS


          Saímos de casa, um tanto de vezes, meio reticentes, em serviços essenciais, que o magote das gentes não sabe nem mesmo se o álcool lhe dá a guarida! Pensamos um pouco em uma ação, ação sem pensar igualmente, nas roupas que trocamos, em um paramédico contaminado e em uma falta de lideranças que urge conhecermos ao menos alguma.
           Boicotamos o tempo, boicotamos algumas nações, e o que se diz é que não temos o tempo, ou que esse depõe contra nós no triste episódio da virulência. Outros vírus participam, como o roto e o rasgado, ambos com paletós quase escovados e as suas gravatas de seda. E nos perguntamos: até quando não poderemos tocar quem amamos, ou se uma pretensa juventude está mais agigantada nas prerrogativas de estar incólume. A saúde, a higienização, os pressupostos da intocabilidade, os adendos em uma lei, uma outra que se atravessa, quase como um decreto: outorgado, equivocado, quase nulo… A crueza de todo o processo e, mais ainda, nas altercações de ordem política uma desordem institucional a passos quase céleres, no andamento da carestia de faculdades intelectivas, da não prospecção dos problemas que nos afetam, das decisões nulificadas na orla do bom senso. Como em um alvo de viés, da retaguarda, alavancam-se situações que elucidam os fatores, mas setorialmente vê-se que é na contraparte da linha de frente que encontramos os títeres que, envaidecidos, esquecem de lutar silenciosamente sem predominar o orgulho, este sempre ferramenta da ilusão. No que se quisesse de mudanças na estrutura, veríamos um panorama arguto ou simplesmente uma bandeira idealista fincada em cada município do país, o que já seria um bom começo: um principiar fremente, uma ordem correlata ao assunto da Pátria.
           Sentimos um evanescimento das questões que nos abraçam sem seus toques, um truque a cada esquina, um jogo que cansa quando pausamos em nossas casas e vemos surtirem efeitos as últimas notícias do dia que se seguiu até os costados da noite, oh sempiterna esperança! E o que vemos? Vemos superfícies, olhares por dentro das suas máscaras, vemos políticos fazendo troça das mortes inoculadas pela dramática situação pandêmica, vemos um mundo de ideias tecnológicas estar desabando, vemos o desemprego, a recessão e a crise. O jogo não descansa, e o que querem muitos é apenas um possível resultado nas urnas, talvez porque o Brasil ainda seja a parte maior da Amazônia, talvez por possuirmos riquezas que nem o vidente conhece! Ah, raro esse jogo, como um xadrez onde perdemos a rainha e possuímos ainda um mero peão que segue ao fim do tabuleiro, ameaçado por um rei em seu temor de mate. Haveremos de jogar – se o jogo não descansa – caminhando na hora de caminhar, usando a destreza atávica de um bom comportar-se, civilizadamente, não fazer troças de coisas sérias, e encontrando em qualquer máquina (aqui uma alocução sobre tecnologia de quem vos escreve) um paradigma e uma saudade inexistente de que o Brasil seria uma potência da metalmecânica. Obviamente, os EUA e a China, por que atravessam esse trágico acontecimento atual, não possuem total direito de ir e vir mas, vejam bem, de máquinas essas nações conhecem, e suas máquinas funcionam, desde um modesto Chery até um Land Rover, e isto está presente quando ombreamos em um tempo tentando desenvolver um Gurgel de fibra, ou uma brasília com motor da Volks. A capacitação técnica navega sobre lençóis de tutano, e quando há fomento para o setor industrial há tudo.
          Prosseguir na luta por um país melhor é encarar o jogo, é tentar se desenvolver ao máximo com todos os recursos à mão, é tentar fazer do país uma boa máquina, azeitando as oportunidades.

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