sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A ARTE COMO DIÁLOGO INTERIOR


            Expressar um pensamento pode ser uma forma de arte, não importando se for enquadrada ou traduzida como expressão da arte formalizada, como pretendem muitos, ou apenas um diálogo enquanto arte porque comunica, diz, amplia, e antes de tudo é a mesma expressão que se deseja, seja filosófica ou não. Hoje em dia, com a falta da concessão da literatura às gentes, com teses religiosas de leitura única, o pensamento expresso assume vital importância, seja poesia, ensaio, crônica, novela, etc. É triste dizer que levar a vida lendo apenas um livro pode ser insensato para quem goste ou deseja saber mais sobre o mundo. As teses científicas podem ajudar muito àqueles que desejam se aprofundar nas verdades da matéria. Obviamente, no plano espiritual temos um mundo inteiro a ser conhecido, mas a história da humanidade não necessariamente passa pelo crivo do misticismo religioso apenas, mas sobremaneira pela história das riquezas, pelo fato da ganância e da cobiça existirem, pelo desenvolvimento da tecnologia que muda tudo esporadicamente, mas que mantém em si a fusão do novo com o velho, do que vem por diante daquilo que aparentemente se vai. Ninguém vivo é plenipotenciário, ao menos no mundo atual, mas por ventura ainda possam existir grandes yogis, grandes vaishnavas, assim como devotos em todas as religiões do mundo, incluso as tribais. Nessa mesma medida temos a arte relativizada em todos os cantos, e a filosofia deveria ser daquela uma parte, pois a poesia se aproxima desta como o sabor da água para o sedento.
            Quando nos aprofundamos em um pensar, em expressá-lo, seja através da arte, seja com uma ferramenta tão simples quanto um computador ou similar, estaremos abraçando a veia incontestável da comunicação e, positivamente, esta pode ajudar – ao menos – a mudar a face que compreende a consciência humana, seja internamente ou na compreensão mesma da Natureza e seus seres. Apesar de parecermos levianos por vezes, apesar de sermos erráticos intimamente em nossas equivocadas intenções, sempre será o momento de relermos estas e ao menos tentarmos caminhar pelo modo da bondade. Reiterar um panorama na isenção do conhecimento cabal e insistir na ignorância parte de um pressuposto de que tudo o que fizermos na tentativa da ação será pautado pela ilusão, e isso apenas faz abrir grandes espaços onde quem preenche é a farsa, a manipulação, as inverdades, a injustiça e o critério cego. Estabilizar um princípio de realidade nos nossos atos vem a chamar a nós mesmos o encontro com o factível, a promessa possível, a vida latente e real... Essa é uma questão da própria arte ainda não encontrada, mas que é possível de ser encontrada em um signo expressivo, dentro de um contexto pertinente, de uma resposta a uma altura de compreensão, esta mesma supracitada e que traduz que sejamos ao menos coerentes internamente com o que queremos dizer a nós mesmos. A partir do momento em que essa independência não relativize o significado essencial de nossas vidas, saberemos melhor como nos portarmos no externo, em nossos trabalhos, nas nossas relações cotidianas, no afeto seja a quem for destinado o carinho, dentro do pressuposto que podemos aceitar o motor como algo que faça parte do sistema em que se vive, pois vivemos já sob a demanda de máquinas inteligentes, que não necessariamente passam a diligenciar nossas vidas.

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