quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O CASO DA FANTASIA E A SUA REALIDADE


         Para se construir um mundo fantástico, pensa-se a princípio na imaginação sem freios, em uma viagem interior, na acepção de personagens aparentemente originais, mas a fantasia e a arte nem sempre andam de mãos dadas. Você estudar uma peça de Shakespeare profundamente, em sua língua original, encená-la com atores de trabalhos de maturação ímpar, em uma sala de teatro excelente, a um público mais culto, isso é razão de se fechar um ciclo da genialidade insuperável de um dramaturgo desse nível. Você pegar um apanhado de atores sem formação, improvisar uma peça, usar marijuana para se inspirar e tentar realizar algo, remonta um trabalho que pode incrivelmente, em poucos casos, se tornar um trabalho medianamente razoável, mas não se compara ao do autor inglês e sua montagem proficiente, mas em algo que de improviso faça vivenciar apenas, o fazer artístico… Como em uma montagem de um anúncio em que se paga pelo serviço de computação gráfica, a arte comercial revela a dimensão de certas artes vinculadas à soberania da competência. Não adianta tentar se fazer um filme à altura de Chaplin, ou de Bergman, se não há estudo por trás: um estudo disciplinado e fiel à própria existência da arte como um todo, e o Brasil não foge a esta regra. No entanto, para se poder desenvolver a arte e a fantasia, ou mesmo aquela e a realidade, urge patrocinar deveras escolas de vanguarda, estimular a leitura do povo em sua integralidade, observando-se o estudo algo severo da filosofia e da literatura como um todo, e das artes visuais e seus recursos. Talvez seja pensar muito alto, mas uma educação cada vez mais humana é de vital importância para se compreender o caminho da criação e expressão artística, dentro de seus processos por vezes complexos, na necessidade de cada vez mais se implementar a cultura, valendo para qualquer nação que queira compreender a si mesma e a outras realidades. Igualmente com a música e o acesso dos morros populares a bons estúdios de gravações: em se melhorar coerentemente a vida da população em geral, tão rica em suas manifestações, ritmos e letras.
          Quando o panorama é favorável, quando há boa intenção dos administradores de uma nação culturalmente rica e diversa como a nossa, fomentando-se a cultura em seus diversos modais, passando por aí a questão das escolas liberalizantes no aprendizado e construtivistas nas iniciativas, os próprios familiares e afins aprendem algo, como quando os pais e avós conhecem livros de filhos universitários contemporâneos – que fazem pensar – e vinculam a experiência de si mesmos com a aprendizagem dos mesmos filhos ou netos. Como quando se dá o inverso: um pai médico possa apresentar ao filho um livro de medicina ou um outro de um amigo advogado para que o estudante possa conhecer o universo da biologia ou o das letras…
          Não há um povo que seja superior a outro, o povo alemão ou o povo judeu não são superiores, nem o chinês e nem o estadunidense. Há apenas populações e suas circunstâncias, sejam de qualquer ordem, pois revitalizar a ingerência do poder bélico superior apenas coloca o poder como instrumento da força, e isso é sinal de totalitarismo, quaisquer lados possam se apresentar. Confunde-se a supremacia bélica com a supremacia supra nacional, utilizando-se, seja os estadunidenses ou quaisquer outros – interferindo no próprio parecer interno de seus cidadãos – a realizar grotescamente intervenções geopolíticas em cenários, quais não sejam, apenas de vetores econômicos, para isso se usando da farsa de supremacia anglo-saxônica ou hebraica para tentar mover uma triste e antagônica locomotiva. O que se aguardará? Algum desfecho similar ao que já foi visto em tristes épocas? Serão usados os mesmos recursos, agora com o apoio irrestrito do fundamentalismo evangélico, a ponto de alguns grupos que se opõem a essa triste realidade quererem angariar, dentro do escopo pretensamente nacionalista, votos de quem já se irmanou com essa realidade? Não se passa de criticar o cristão, mas apenas de aventar o mínimo de possibilidade em que ao menos se respeite mais as igrejas católicas, posto onde aparentemente está uma profunda vinculação com o Poder Mundial, jamais se perguntam aqueles que ofendem as minorias a eterna – enquanto dure – pergunta: o que vale mais, o petróleo ou o sangue? Pois Cristo nos deu a paz, conforme seus evangelhos, e jamais apresentou relações de poder para que solucionássemos nossos conflitos internos. O mundo apenas prosseguirá existindo se Laudato Sì for lida e relida inúmeras vezes!

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