Há
que se cumprir um serviço devocional todo aquele que quer se
aprofundar – com fé – na religião. Que seja, lendo as
literaturas sagradas, cumprindo ritos de sacramentos mas,
principalmente, possuir abertura na compreensão de que cada grupo ou
indivíduo possui a sua liberdade de crença. Traçar perfis
pretensamente políticos nas religiões é criar relações de poder
em que aqueles mais fracos tendem a ser engolidos ou submetidos a
crenças impostas. A libertação de um povo reside não nas
dissenções de qualquer ordem, sejam elas políticas, ideológicas,
de cunho religioso, do preconceito vário que acomete a civilização,
da diferença de classes, de estruturas ou conjunturas, pois tudo é
a Lei maior que nos liberte. Essa matéria altissonante fala do
espírito, a Lei espiritual, que emana, que irmana… É como no
sacrifício de cantar as contas, seja em um rosário católico ou
Hare Krsna, a comunhão se dá no ato mesmo, sem precisarmos,
enquanto estamos orando, pensar em algo a mais do que a simples
atitude da devoção. Posto que não há vieses maiores do que a
existência do divino Espírito, que abarca a pureza de uma regra:
sem dificuldades, sem sacrifícios, sem a nossa realidade cotidiana
não há por vezes a necessidade de Deus. Quando procuramos por Ele
muitas vezes é porque temos familiares fortemente vinculados, e a Fé
se faz presente quando estamos por encontrar dificuldades por vezes
maiores do que materialmente podemos suportar. Essa condição é a
mais sincera: procuramos a religião quando estamos aflitos, seja
espiritual ou materialmente. Quando obtemos alguma vantagem material,
tem-se a impressão que é uma bênção e, de certo modo, quiçá
realmente possa ser, mas a matéria do espírito, em se tratando da
conformidade em realização é estarmos conectados com Deus, e não
esperando ficar mais e mais ricos para termos um poder que não passa
de Maya, ilusão. Essa roda viva que nos impulsiona a sermos cada vez
mais acumuladores dessas chamadas coisas materiais, e que não nos
deixa perceber que viver com o necessário para se ter uma dignidade
e prosseguir realizando-se espiritualmente não significa acumular a
vida toda para deixarmos tudo aqui na Terra quando abandonamos este
corpo material. Seremos responsáveis pelos outros, ou será que não
podemos estender a consciência de Krsna para outros que não sejamos
nós mesmos? Esta é uma tarefa que podemos ter, seja Deus, com seus
Nomes, sejam as religiões do planeta: em respeito e consideração
com a fé alheia, pois a crença de um judeu pode ser distinta da de
um muçulmano, mas não há razão alguma de brigarem por esse
motivo, qual não seja, misturar religião com relações de poder.
Srila
Prabhupada sempre falava – e seus ensinamentos continuam vivos –
para sermos tolerantes como uma árvore, destemidos perante a fé
certeira e vitoriosos em nossa relação com Krsna, nome que
significa o Todo Atrativo, pleno de todas as seis opulências:
beleza, força, riqueza, sabedoria, fama e renúncia. Se para um
índio o trovão é sagrado, se a água possui vida, se uma árvore é
sua irmã, se a Natureza deve ser preservada, temos aí o fator quase
exato da compreensão primeira do que é uma crença onde o respeito
pelo mundo se torna a pedra fundamental da estrutura civilizatória.
Se uma divindade de matriz africana, como Lemanjá é a rainha do
mar, canta como a grande Clara Nunes, ícone sagrado da cultura
mundial, deve ser respeitada como pertencida a uma religião que pode
ser menor em quantidade mas não têm em si a prerrogativa da
intolerância de muitos em relação ao Candomblé.
A
cultura de um país não deve ser interpretada como a não identidade
forjada, não devemos conquistar espaços afora do que deve ser a
igualdade e a busca por uma identidade pátria secular.
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