quarta-feira, 1 de maio de 2019

DO QUE ERA E ESTÁ



Nunca do que se faltasse seria apenas a cognição nata de se estar em algo
Com prerrogativas de supremos alfaiates de confecção nada rudimentar
Porquanto seja, o de se esperar um dia quiçá no resultado muito milenar…

Que se esteja, seja sermos, ou o nada do que nunca encerra, mesmo quando
Não se seja, nada do que seríamos, quando do saber se é ou não jejuando
Nas palavras em consonância com o mesmo verbo que salta ao sentimento.

Apesar que seja, do que não fosse e está, quando muito da falta do ratios
Na vértebra inconcludente de não saber-se, mesmo no muito de se falar
Quando o som da palavra já não preenche mais o significado de sempre…

Ah, senão os tempos que vêm no sussurro de um soçobrar do pensamento,
Que na verdade desce até rincões inomináveis, e suporta a alfombra do terno
Que – revoluto – alcança a semântica mesma do que seria a própria verdade!

Sim, que por decifrar a poesia hão de encontrar-se muitos e muitos leitores
Fugidios e rasteiros como o vento, encontrando-se com uma vírgula sequer
Que pois na verdade outra já não se tange a manada com uma simples vara.

Hão de ser longos cajados de sapiência, na mentalização nada ortodoxa
Que escrutina o saber mais longo, a experiência de décadas, de não se contar
Nem ao menos a importância de duas gerações ao longo de passado século.

Que seríamos talvez o suporte de coercíveis ilusões, de afanados rumores,
Dos trocos de niqueis a se pedir depois, do gesto a que nos damos ao mendigo
Que sejam, palavras trocadas por uma questão nada excludente da igualdade…

A ver, que suponhamos seja o território da poesia inexpugnável, a vida tornada
Um acerto de quaisquer contas, posto a economia se ressente pelos numerais
Em que é tornada uma doutrina quase fechada, com seus amores pela ganância!

O imo sobra, que nos sobre o imo, esse individual nada compartido, mas que já
Seria o andar de um carro sobre os trilhos, na esteira de uma fábrica o parafuso,
No cantar de uma lástima o refresco de um dia de outono, a vida por muito mais.

Do que se tenha por propósito de algures de vivência, por moto-próprio sentimos
Que o carnaval de nossa ilusão posta aos seres primogênitos o vernáculo da paz
Embalado com papel para confetes, no simples aproveitamento de calças coloridas.

Então, que se dissesse algo por mais além, um recrudescer de tamanhas desditas
Que, a um sinal de premência absoluta, levar-se-ia um tempo largo das escumas
Na venturosa pátria de um sem valor provisório, como tanto de provisionar o tempo!

O caldo de misérias era já o que está, não sendo sempre aquilo que jamais se espera
De tantos e tantos em filas inumeráveis do sem ser, posto algo que não se emprega
É voz que não se escuta, é esperança amarfanhada, é um caldo de silêncio gritado.

Saber de algo sem saber, ter a premissa sem a conclusão, faz retornar ao gesto
A única intenção de apenas mostrar seu rosto desconforme, situar-se a um nada
Que por uma ventura fosse a simples questão de recriar fronteiras no abismo…

Do que está não estejamos sempre, mas em segundos um tosco aceno signifique
Um cordão estrito pelas ruas, um maio atravessado pelo não trabalho, um dedo
Que aponta traiçoeiramente para um irmão colado à beira turva de seu algoz.

Pudera sermos o que não éramos, pudera não ser o que jamais quiséramos, um ser
Que seja uma profundeza de caráter, uma dignidade em que não tivesse que servir
A qualquer documentação fundamentada apenas na identificação cadenciada do dado.

Qual fôramos mais do que apenas uma informação essencial, um código de barras
Vertido qual fantoche em uma prateleira, à visitação não de quem compra algo,
Mas na motivação insincera de ver quem está exposto com a própria bondade encoberta.

Modos fossem, quem dera, modos houvessem quais plataformas de unção pedagógica,
Quais crimes imputados e jamais cometidos, qual ideia que não partilha de aceitação
Mesmo sabendo-se dentro de uma verdade limitada por questões de estímulo e resposta.

No mais que fôssemos binários como o zero e o um, o negativo e o positivo, o sem e com,
Destoando de qualquer destaque que não signifique porquanto não acadêmico, sinecura
De atenção redobrada, dono da função, espetáculo ruidoso no breu, redenção, ou não…

Verte-se um nome na filantropia profissional, o nome veste-se, de um negro azeviche,
De um lilás do profícuo desalento, de uma moda conveniente, de uma palavra que emerge
Do tom inequívoco de uma contenda mal resolvida, no pressentir irrequieto do saber.

Assim que não se fique quem não fica, assim que se traia o traidor, assim que não surja
Um gigante adormecido com pestanas graúdas e coração de pedra, mas que bate no peito
Dos incautos que amam residir nas suas relativas ignorâncias, a saber, um pouco de tudo!

Pois que se diga do que era, não prediga do que se está, pois na confluência dos astros
O apenas de se propor uma revelia desmanchada por falta incontinente dos respeitos
Morará em uma casa eterna a casa que residir no imenso jardim quiçá suspenso em muito.

Se já fôssemos mais do que o previsível provável, teríamos as costas mornas pelo respirar
De alguma fera em nosso torso, que se nos tocasse a vida com suas tetas de mármore
Mas que de algum outro modo não resfolegaria a mais do que se ama quando se pretende…

Se a vida encerre a questão da não vida, do se não viver que nos bastasse a vida sem ou com
No ensaio de alguma orquestra não medida pelos passatempos de algum longo jogo
Com que se dá a versão mais animada da festa, o champanhe mais caro, a roupa mais longa.

Nesse pequeno labirinto para formigas que saltam no ritmo das aranhas, se dá um frouxo
Riso na rotina algo ensombrecida na forma de um mitológico reino, onde a turba fere
O primeiro significado de uma desdita, o verso que o poeta esquece de dizer, o chão e é.

Do que não fosse, mas seja como for, que o mesmo solo das gramíneas silentes e vãs
Detém a vida de algum olor a rosas, define a dimensão de um planeta e retira das mãos
A potencialidade de ser capaz finalmente de tornar o mundo melhor, apesar da contradição!

Que não se venha portanto caçar alguma espécie de remissão aquele que já depôs contra si
Na medida da bruta ausência e seus cálculos, em um jogo de amarelinha fugaz, na fuga
De si mesmo quando desponta a aurora dura do despertar, ou a avizinhada inconsequência.

Assim que não seja tanto o que se espera de algo classicamente superior, já que o fardo
Que se repete naquele gestual arrependimento, verte de uma lágrima espelhada no farol
O sorriso tépido da hipocrisia, a vertente inaudita da maldade, a dissimulação dos fatos!

Pudéramos ser o que jamais deveríamos ter feito a alguém, posto alguma sapiência
Nos dirá que o futuro não é daqueles que vivem apenas o presente pressentindo o tempo,
Mas de todo um passado que a alguns pode parecer mácula, e a outros significa progresso.

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